terça-feira, 25 de agosto de 2009

CRÔNICAS TAILANDESAS – 5

O REINO DAS CORES - IV

Paulo Emilio de Medeiros

Depois do período de cores vivas em 2006 e 2007, a Tailândia teve um acesso de alergia cromática. O festival colorido iniciado com camisas pólo amarelas perdeu sua inocência, a partir do final de 2008. Passada a cerimônia de cremação da princesa irmã do rei, as cores foram seqüestradas.

O amarelo, cor da segunda-feira – e do rei, que nasceu numa segunda-feira – passou a ser a cor dos camisas-amarelas da “Aliança Popular pela Democracia”, que, alegando defender a monarquia, invadiram e ocuparam os aeroportos de Bangkok durante vários dias, no final de 2008, e organizaram grandes manifestações contra o então governo. Este acabou caindo.

O vermelho, cor do domingo, passou a ser a cor dos camisas-vermelhas da “Frente Nacional pela Democracia e contra a Ditadura”, organizada para protestar contra o novo governo. Em abril de 2009, os camisas-vermelhas invadiram, em cidade próxima a Bangkok, o local de uma importante reunião internacional, da qual participariam 16 chefes de governo — provocando assim seu cancelamento. Em seguida, fizeram arruaças e queimaram alguns ônibus em Bangkok. A capital tailandesa, em vez de muitas cores, teve um dia de cinza e preto de fumaça.

O azul, cor da sexta-feira – e da rainha, que nasceu numa sexta-feira – foi a cor de um grupo de camisas-azuis que surgiu do nada para, por um dia, confrontar os camisas-vermelhas, e depois sumir misteriosamente.

Resultado: as pessoas passaram a evitar usar amarelo ou vermelho, por receio de serem confundidas com manifestantes e de se tornarem alvo de agressões por motivos políticos. As segundas-feiras, antes intensamente amarelas, passaram a ser dias quase normais, em termos cromáticos.

O fim oficial do reinado das cores talvez tenha sido marcado por um acontecimento em Bangkok. Uma senhora de 47 anos, vestindo uma camiseta amarela (provavelmente por ser segunda-feira, e também em homenagem ao rei) dirigiu-se a um local onde havia uma manifestação dos camisas-vermelhas, para visitar uma amiga que participava do protesto. Foi agredida a tapas por manifestantes, e teve que ser socorrida pela polícia. Afirmou não ter tido intenção política ao vestir a blusa amarela. E teria acrescentado: “Pensei que a cor não tinha importância”.
Tem, sim.

Houve um estrangeiro ou outro que, com raciocínio de estrangeiro, sonhasse com um movimento de camisas-laranjas, que unisse o amarelo e o vermelho. Mas isso não aconteceu. Apareceu, sim, um tímido esboço de movimento de camisas-brancas, a favor da paz. O povo, já em busca de novidades, saiu em busca de outro veículo, que não as cores das roupas, para expressar sua criatividade e expressão estética.

Mas, pelo menos em um aspecto, Bangkok continua sendo gloriosamente a capital de um reino colorido: nas cores dos táxis. Cada companhia ou cooperativa de táxis tem sua cor, que ostenta nos automóveis: alaranjado, verde, azul turquesa, vermelho, rosa choque; ou então duas cores, tipo saia-e-blusa: verde e amarelo (que faz lembrar a bandeira do Brasil), vermelho e azul turquesa, rosa e verde, e outras combinações, que dão vida à cidade.

P.S.: O amarelo aos poucos está voltando. E uma minoria visível segue, firme, o costume de se vestir conforme a cor do dia – por amor à tradição ou às cores!

2 comentários:

  1. Vou ficar com as minorias: vez ou outra vou me lembrar das cores da Tailândia. Vou fazer uma homenagem a vc. que me ensinou este novo circulo cromático. Vou começar pelo amarelo mesmo que dá brilho, alegra e vai explodir na moda do próximo verão daqui.

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  2. Essa história das cores na Tailândia é tudo de bom!

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