quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

HAJA UP*

*Utilidade Pública


É velha mas, sempre vale lembrar.

domingo, 27 de dezembro de 2015

A CATILINÁRIA DO JUREMIR

Segue texto do Juremir Machado da Silva, publicado em 23/12/2015 e que, penso eu, deveria ser repetido à exaustão até as próximas eleições.
E as próximas e as próximas...


Até quando, ó eleitor despolitizado, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua postura?
A que extremos se há de precipitar a tua ignorância sem freio?

Até quando, ó eleitor desinteressado, insistirás que política não te interessa e deixarás aos outros a missão de cuidar do teu destino?
Até quando, ó eleitor incauto, votarás em que não conheces, pegando um santinho no chão antes de entrar no prédio da tua seção?

Até quando, ó eleitor irresponsável, reelegerás corruptos e repetirás dando de ombros, “esse rouba, mas faz”?
Até quando, ó eleitor interesseiro, tomarás por candidato quem te oferece uma prenda?

A que extremos, ó eleitor alienado, fingirás que não é contigo e dirás que te lixas para política, que teu negócio é outro, que política é coisa chata, que todo político é corrupto mesmo, que até gostarias de ver o retorno dos milicos, que tanto faz como tanto fez se governa este ou aquele?

Até quando, ó eleitor venal, te venderás por um prato de lentilha e, uma semana depois do pleito, não lembrarás mais em quem votaste?

Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua estupidez, essa tua falta de cultura política, essa tua incapacidade de compreender o que se passa a tua volta, essa tua burrice mesmo quando podes exibir diplomas, dinheiro e viagens?

Até quando, ó eleitor inculto, votarás em celebridades por achá-las lindas, bacanas, por serem o que são, famosas, por terem sido teus ídolos em outros campos e outros tempos?
Até quando, ó eleitor patético, confundirás emoção e razão, idolatria e capacidade administrativa, talento na mídia e competência política?

Até quando, ó eleitor cínico, elegerás os que te roubam, os que nos roubam, os que se locupletam, os que te desprezam, os que te ignoram, os que te usam e só te procuram a cada quatro anos para te comprar ou enganar novamente?

Até quando, ó eleitor bobinho, farás papel de vaquinha de presépio e ajudarás a manter em pé o sistema que criticas nas tuas conversas de bar?
Até quando abusarás da nossa paciência com a tua falta de paciência para saber em que votas e negar o teu voto a quem jamais te representará por só representar a si mesmo?
Até quando?

A que extremos nos precipitará a tua ignorância sem freio?
...
Continuarás a ajudar a encher os parlamentos de ladrões e de oportunistas?
O que mais, ó eleitor descomprometido, ainda aprontarás?

Até quando, ó eleitor volúvel, te deixarás conduzir pelo cabresto?
Até quando a tua preguiça te afundará e atolará a nação?

Até quando, ó eleitor que se acha esperto, acreditarás que o teu voto, um votinho só, não muda coisa alguma e que, portanto, podes dormir com a tua consciência tranquila?

Até quando, ó eleitor manipulado, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua sandice?

A que extremos há de nos precipitar a tua alienação sem freio?
Até quando, ó eleitor vacilão, vais abraçar a víbora que cobra para te picar?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

NATAL 2015


A partir de 20 de dezembro, todos costumamos alterar nossas despedidas diárias - sociais e comerciais.
Saem de campo "Um abraço", "Muito obrigado" e afins, dando lugar ao unânime "Feliz Natal". Cujo, será imediatamente substituído por "Feliz Ano Novo" até o dia 31.
Normal.

Particularmente, a única coisa que me incomoda é o fato de me sentir muito mais sincero nos "Um abraço" e "Muito obrigado" do que no automático "Feliz Natal".

Então, contrariando a mim mesmo (adoro isso), Feliz Natal a Todos!

Coxinhas, petralhas, tucanalhas, vascaínos, atleticanos, corinthianos e, antes de tudo, amigos - seja lá de qual tendência política (risos), time, orientação sexual, preferências automobilísticas, gastronômicas ou etílicas.

E, caso essa tal de 'data magna da cristandade' ainda sirva pra alguma coisa, rezo para que ela nos traga um pouquinho mais de tempo para que possamos, em relação ao que nos é dado a ver e ouvir, exercitar sempre a antiga máxima: Tudo tem dois lados.

A foto que ilustra esse post é só uma tentativa - canalha, reconheço - de chamar atenção.

domingo, 20 de dezembro de 2015

A ÚNICA CERTEZA E A PIOR INCERTEZA

Tropecei dia desses num videozinho estilo fêicibúqui, cheio de frases óbvias
sobre a vida e a morte.

Um amontoado de lugares comuns que,
pra mim, têm a mesma utilidade desta frase fundamental:
“As relações sintagmáticas e as
relações paradigmáticas ocorrem concomitantemente.”
(Confessa, ilustrado leitor: sua vida ganhou um novo sentido depois dessa revelação, né não?)

Back to the cold cow, devo declarar que da morte não tenho medo. Tenho, sim, uma curiosidade danada!

Me borro de medo é de como ela irá chegar.
Porque essa história de ficar anos a fio 'lutando' contra, ligado a aparelhos, vegetando, etc, é, a meu ver, uma das provas do infinito sadismo do criador - seja lá quem ele for.

Então, me resta torcer para que meu pai (que se mandou de forma instantânea) possa interceder por mim e me conceder um infartão agudo, bala perdida ou coisa no gênero.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DESCOBERTA


Essa foto, segundo uma das 1387 delações premiadas dos últimos dias, é de um "aparelho" clandestino de políticos brasileiros.
A entrada da "Caragem" parece humilde, mas o que cabe de caras de pau lá dentro é uma grandeza!

domingo, 13 de dezembro de 2015

SERÁ?

Clara Nunes, uma das maiores intérpretes brasileiras, se pirulitou em 1983 aos 40 anos.

Sacanagem!

Essa mineira de Paraopeba fez, em muito pouco tempo, o que várias "divas" (autointituladas ou não) da MPB não foram capazes.
Além de conhecedora e pesquisadora da música brasileira, seus ritmos e folclore, foi a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil discos.
Na década de 70.

Sou fã da Lucy Alves, principalmente na fase Clã Brasil.
Atualmente ando com medo dela se 'globalizar' demais, mas continuo torcendo por ela. E para que, caso esse papo de reencarnação tenha um mínimo de sentido, a Clara resolva entranhar na Lucy.
Aí elas vão arrebentar la-búche-di-balon.


PIADA PRONTA



O cidadão vai pra rua protestar contra o governo e a corrupção vestindo uma camiseta da CBF!



Ô dó...

sábado, 12 de dezembro de 2015

DESAFIO

As frases a seguir, compiladas ontem por Sakamoto-san em ótimo artigo (link no final do post), me fizeram lembrar um dos inúmeros personagens do Chico Anysio:
"Sou. Mas, quem não é?"

Diga lá, honesto leitor: pelo menos uma dessas você já falou, né não?

Eu, já. As quatro primeiras, com certeza.
Mas sempre com humor, na frente dos alvos cujos encaravam a brincadeira e devolviam no mesmo tom.

Bom Humor. Esse antigo costume que não era acorrentado ao (nojento) politicamente correto - seja de que lado for. E muito menos (mais nojento ainda) às ordens dos patrões.

Quanto às outras vinte, durmo com a consciência tranquila.

Então, vamos lá: (modifiquei a ordem original de acordo com minhas crenças de gravidade.)

1. Mulher no volante, perigo constante.
2. Baiano quando não faz na entrada faz na saída.
3. Tinha que ser preto mesmo!
4. Sabe quando pobre toma laranjada? Quando rola briga na feira.
5. Não sou preconceituoso. Eu tenho amigos gays.
6. Bandido bom é bandido morto.
7. Os sem-teto são todos vagabundos que querem roubar o que os outros conquistaram com muito suor.
8. Amor, fecha rápido o vidro que tá vindo um “escurinho'' mal encarado.
9. Aquilo são ciganos? Vai, atravessa a rua para não dar de cara com eles!
10. Tá vendo? É por isso que um tipo como esse continua sendo lixeiro.
11. Esse aeroporto já foi melhor. Hoje, tem cara de rodoviária.
12. Por favor, subscreva o abaixo-assinado. É para tirar esse terreiro de macumba de nossa rua.
13. Vestida assim na balada, tava pedindo.
14. Por que o governo não impede essas mulheres da periferia de ter tantos filhos assim? Depois, não consegue criar e vira tudo marginal.
15. A política de cotas raciais é um preconceito às avessas. Ela só serve para gerar racismo onde não existe.
16. Ai, o Alberto, da Contabilidade, tem Aids. Um absurdo a empresa expor a gente a esse risco.
17. Esse aeroporto já foi melhor. Hoje, tem cara de rodoviária.
18. Os índios são pessoas indolentes. Erram os antropólogos ao mantê-los naquele estado de selvageria.
19. Criança que roubou não é criança. É ladrão e tem que ir para cadeia.
20. Tortura é método válido de interrogatório.
21. Um mendigo! Vamos botar fogo nas roupas dele. Assim ele aprender a trabalhar.
22. Por mim, tinha que matar mulher que aborta. Por que a vida do feto vale menos que a da mãe?
23. Eutanásia? Pecado. A vida pertence a Deus, não a você.
24. Pena de morte já.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

EXTRATOS “FABBRÍNICOS”



Fernando Fabbrini, que deita e rola toda semana n’O Tempo e em várias outras paragens, nos brindou hoje com mais um artigo de primeira classe.





E seguem os, na minha opinião, “melhores momentos”.

... “Nos últimos tempos, com o acirramento dos embates entre coxinhas e petralhas – os dois novos partidos brasileiros –, perguntam-me, às vezes, sobre minha posição política.
Acho gozado como certas pessoas não sossegam até enquadrarem você dentro de uma categoria que conheçam. Para elas, você deve ser algum “ista”, como se a alma humana – fluida e misteriosa – pudesse ser contida nos limites de uma caixinha rotulada. Se você não é A, implica, obrigatoriamente, que seja B. Quanta asneira!

... Na pátria amada vemos a corja unicamente interessada em manter seus quintais, a boa vida e os privilégios lícitos, além dos ilícitos. Para enganar a plateia, alardeiam seus vagos princípios ideológicos como quem veste uma camisa da torcida.
Porém, assim como as estrelas do futebol, podem trocar de time a qualquer momento, dependendo apenas do valor da proposta e das condições do gramado.

Em Portugal, brincam que ‘governos de esquerda ou de direita referem-se apenas à mão usada para roubar’.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

domingo, 6 de dezembro de 2015

SIBÉRIA, AQUI VOU EU!

Pré-jogo, o intrépido repórter pergunta ao jogador do Vasco, na beirinha do rebaixamento: -Motivado para o jogo? (Dããã...)

Resposta ridícula de sempre: -Com certeza, o grupo tá fechado, o professor tá dando todo apoio, tamos focados na conquista de um bom resultado.

Resposta que eu adoraria ouvir: -Nem um pouco. Acho que já fomos pro saco. Tô aqui por obrigação.

Fim de jogo, o vasquinho no lugar que já está acostumado e esse arremedo de (diri)gente não deu sinal de vida.
Tudo correndo bem, ele deve estar a caminho do gelo e tomara que fique por lá.

(Alguma alegria eu tinha que ter nesse brasileirinho 2015...)

sábado, 5 de dezembro de 2015

OS GENITAIS DE GERVÁSIO

Tá sem ter o que fazer, criativo leitor?

Então, que tal criar um documentário picareta pra vender pros discovery's, nat-geo's e sei lá mais quantos canais naturebas da vida, e faturar um trocado?

É molinho.
Basta escolher um assunto diferentinho, com pitadas de ciência da terceira série, um misterinho ridículo e acrescentar um pseudo especialista portador de duvidosos charme e experiência.
(Esses seres podem ser facilmente encontrados em qualquer produtora de comerciais.)

Daí é misturar imagens de lugares inóspitos, com imprescindíveis cenas submarinas, palavrório sem nenhum sentido, depoimentos de nativos abobalhados e muita, muita repetição para encher 45 minutos de linguiça.

Pronto!
Bem embalado, esse produtinho de "kimta katiguria" estará fadado a entupir a programação desses canais rendendo uma remuneração quase tão ridícula quanto a produção dessas bobagens.
O que, convenhamos, não é nada, não é nada... Não é nada!

Tá duvidando?
Então, seguem fatos reais:

Zapeando na madrugada, caio num discovery da vida e escuto a frase instigante: "O que teria acontecido com os genitais de Gervásio?"

Putz!
Minha vida não terá mais sentido se eu não souber onde foram parar os genitais de Gervásio!
Prego os olhos na máquina de fazer doido e sou informado que algum misterioso animal marinho mastigou os genitais do pobre Gervásio em algum lugar da América do Sul.

O charmoso apresentador aventureiro, que passeia pelo mundo buscando solucionar tão fundamentais e intrigantes ocorrências, dramaticamente dublado em português, me mantém em insuportável suspense enquanto arremessa seus anzóis e pesca peixes cujos, após suas profundas análises e reflexões, infelizmente, são descartados da hipótese de pertencerem à famigerada família dos que mastigaram os genitais de Gervásio.

Depois de uns dez intermináveis minutos de coisa nenhuma, desisto e vou dormir.

Este empolgante documentário tem como título "Monstros do Rio" e foi ao ar nessa semana que passou.

Caso algum dos milhares e milhares de leitores saiba qual foi o monstro responsável pela triste perda de Gervásio, agradeço penhoradamente a informação.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

ACODE, GENTE!

Como é que eu faço agora?

Até que enfim o impítim taí, mas meus milhões de correligionários revoltados do fêicibúqui estão, estranhamente, quietos.

Vi um ou outro postando coisas no estilo "Meu Malvado Favorito" com poucas 'curtidas'.

O que está acontecendo?
Como vou me colocar?

Ah, já sei!
Vou aguardar a rêdigrobo me ensinar o caminho da luz.

DIA MEMORÁVEL (?)


1. O 'Parmera' ganhou a Copa do Brasil nos pênaltis depois de um jogo muito bom.
Curiosidade: o Fernando Prass - goleiro do 'Parmera' - pulou para o mesmo lado em todas as cobranças. Pegou uma, os adversários erraram outras e ele fez o gol do título.
Bom pra ele e pro Marcelo Oliveira.


2. O ilibado presidente da câmara entrou com o pedido de impítim - tão ansiado pelos globetes e vejetes - se consagrando, entre seus oportunistas seguidores, como a mais perfeita tradução de Macunaíma:
o herói sem nenhum caráter.

Puxa! Quanta emoção!

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A PRIMEIRA GELADEIRA


Segue texto primoroso do Tim Vickery - colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick.


Minha primeira geladeira
e por que o Brasil de hoje
lembra a Inglaterra dos anos 60

Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte.
Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.

Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar.
Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.

Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.

Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro.
O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores.
Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.

Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.

Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: "nunca foi tão bom para você" ("you’ve never had it so good", em inglês).

É a versão britânica do "nunca antes na história desse país". Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um "estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país" ("a state of prosperity such as we have never had in the history of this country", em inglês).

Macmillan, "Supermac" na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.

Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou "a raiva da classe média" e temeu uma "luta de classes". Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da "revolta da classe média e da classe média baixa", que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada "classe trabalhadora" ("working class", em inglês) na Inglaterra.

Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.

Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.

No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos "nobres"? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.

Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.

Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação.
Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.

No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.
A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos.
Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular.
Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde.
Firme e forte é a mentalidade do: "de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro".

Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos.

Consumo não é tudo, mas tem seu valor.
Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.       

sábado, 28 de novembro de 2015

PASTOR ADELIO - DEFINITIVO




Nada a acrescentar.
E muito pra pensar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

TRISTE LEMBRANÇA

A enquete abaixo foi postada em maio de 2014.
E continua valendo.
Como já valia muito antes de 2014 e, infelizmente, parece que ainda vai continuar valendo por muito tempo.

Você aí, leitor ligadão, diga lá: em qual dessas classes profissionais encontramos os exemplares mais arrogantes?

1. Publicitários paulistas (os pais e mentores dos coxinhas);

2. Marketeiros em geral (os donos da verdade que habita em nossos íntimos e nós não sabemos);

3. Médicos (os donos da vida, da morte, das comissões de laboratórios e sabe-se lá mais o que);

4. Engenheiros (os críticos do Todo Poderoso cujo deveria ter se consultado com eles para realizar uma obra mais bem acabada);

5. Juízes e Advogados (que, empolados em suas togas fedorentas, despejam intermináveis considerações que sempre terminam em defesa de seus próprios interesses - data máxima vênia);

6. Analistas, Especialistas, e todos os outros “istas” (que nada mais fazem do que jogar purpurina na merda de suas ideias para torná-las brilhantes);

7. Nenhuma das anteriores;

8. Todas as anteriores.

Obs.: como já percebeu o arguto leitor, os políticos ficam fora dessa palpitante enquete por uma simples razão: nos dias de hoje eles não formam uma classe profissional e sim uma corja que não merece qualquer classificação.
Ou não?

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

BRASIL 2015

Preencha as bolinhas brancas com as caras que você quiser.
A triste verdade é que vai dar tudo na mesma.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

DE MIM PARA COMIGO MESMO


É o seguinte: semana que vem este blog completa 78 meses (Seis Anos e Meio!) de existência, sem interrupções dignas de nota.

De acordo com o Google Analytics são, até agora, 1.758 post's; o que dá uma média de 22,5 post's por mês.
(E, reconheço, o que tem de "meio" post no meio deste bololô é uma grandeza.)

Nesse longo período detenho a formidável, incrível e inebriante média de 83,7 visitas/dia.
Cujas, para ser honesto, devem ser contabilizadas próximas de 70%; uma vez que, no total, estão somadas as minhas próprias visitas para moderar e responder comentários, editar algumas bobagens publicadas e, claro, me autocurtir.
(Até porque, se eu não me achar o rei do rock não há de ser você quem vai achar. Procede, amável leitor?)

Minha deformação profissional clama por mostrar mais dados, percentuais, cruzamentos, etc, sobre o fabuloso desempenho do Haja. Mas, minha natural timidez e o respeito à paciência dos leitores falam mais alto.

Assim sendo, vamos à rápidas Tavern's Bullshit Philosophies (Abobrinhas Filosóficas de Botequim).

• O que faz um cidadão perpetrar, constantemente, tanta prosopopeia?

Escritor, sei que não sou. Não tenho "as manha".

"Cronista menor" poderia caber se não fosse minha natural implicância para com essa arrogante e babaca denominação disfarçada de modéstia.

Me resta a singela conclusão de que tudo isso não passa de uma tentativa de manutenção de boas conversas comigo mesmo.
Conversas estas que, volta e meia, são entremeadas por valiosas intervenções dos milhares e milhares de leitores deste blog.

(Que são preguiçosos pra cacete, diga-se de passagem.)

Beijos, Abraços e Apareçam Sempre!

domingo, 22 de novembro de 2015

IN


Já dizia o imortal Stanislaw Ponte Preta:
"Quem fuma cachimbo na rua é In. In-glês ou In-becil."

E dentre as inúmeras categorias "In's" que podemos apreciar hoje em dia, a dos Inseridos no celular me chama especial atenção.

Seguem três cenas presenciadas pelo locutor que vos fala.

1. Patinador matinal, cheio de acessórios, fazendo charme para as patinadoras. Só que nem ele nem elas se dão a mínima. Estão todos patinando e olhando o celular. Aí ele arranca e vai se filmando enquanto desliza. Tão embevecido está consigo mesmo que não repara um táxi estacionado com a porta aberta. Toma um estabaco e consequente bronca do taxista.

2. Mãe moderna com filho pequeno na praia. Ela se levanta para ir embora, agarra a criança num braço, vai pegar a bolsa com o outro e o celular - que está enganchado na calcinha - ameaça cair. Ela se contorce, evita a queda do "my precious" mas, ao fazer tão importante salvamento, dá uma gravata na criança que começa a chorar. Ela dá um esporro na criança!

3. Cidadão moderno, trajando mochila, óculos escuros, fones de ouvido, etc, está na calçada aguardando uma carona. A carona chega, estaciona do outro lado, buzina, ele, por instantes, volta ao mundo real e vai atravessar a avenida. Olhando para o celular, é claro. Quase é atropelado por um ciclista e... Xinga o ciclista!

É mole ou quer mais?

sábado, 21 de novembro de 2015

TOMARA!


Construindo o cenário para o imaginativo leitor: sabadão, fim de tarde, mar num azul indescritível, maré baixa, ondinhas quebrando mansamente, calçadão cheio de gente, praia vazia.

E vem um casal de velhinhos, espigadinhos, andando e chapinhando na água rasa, ele com o indefectível chapéu panamá, ela com a indefectível viseira, mão dadas e aquele clima de total tranquilidade.
Só falta um neon piscando "estamos de férias".

Vão passando lá na beira e estão de mãos dadas, conversando.
Lá pelas tantas o cidadão estanca, faz uma elegante meia volta, enlaça a anciã e sapeca-lhe um cinematográfico beijão na boca.
Ela se inclina, se envolve, abraça e afagueia.

Provando que sabem bem o que fazem, nem o chapéu nem a viseira caem, eles voltam à caminhada e seguem conversando - agora abraçados.

E eu fico aqui torcendo para que eles permaneçam assim quando as férias acabarem e eles retornarem à 'vida real'.

ACORDA, CORONEL!


É o grito da rua.

“É preciso colocar ordem em ‘tudo isso aí’”, “É preciso restaurar a moralidade”, “É preciso varrer a corrupção” e tantas outras frases que parecem ter sido cunhadas para uma Copa Brasil de Hipocrisia, se encaixam perfeitamente após esse grito.

Só que não é bem assim.

Esse “Acorda, Coronel” (que me acordou hoje cedo) veio acompanhado de “Vem correr com a gente”.

Explicando: no prédio vizinho habita um coronel cujos amigos, colegas, sei lá, passam cedinho em seus saudáveis exercícios e, como é comum a todos os saudáveis, cagam e andam solenemente pra quem quer dormir.
Incluindo o coronel. Cujo, do alto de sua patente, ignora, finge que não é com ele e segue dormindo.
Que ele não é besta...

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

VÁ DE VAAAN!


Está precisando de uma caroninha para Rio, São Paulo, Búzios, Brasília ou qualquer outro destino?
Embarque na VAAAN: Viação Aérea Amigos do Aécim Neves!

Infelizmente, agora parece que a vigorosa companhia está voando baixo mas, dependendo do seu apoio, logo você poderá desfrutar das delícias inebriantes de voar na VAAAN.

O DCM teve acesso à relação completa dos vôos de Aécio Neves durante os 7 anos e três meses de seu governo em Minas Gerais, entre 2003 e 2010, através da Lei de Acesso à Informação.
O uso que Aécio fez dos dois jatos, um Citation e um Learjet, um helicóptero Dauphin e um turboélice King Air pertencentes ao estado é um caso de estudo em matéria de patrimonialismo.
Foram 1430 viagens ao todo, 110 com pouso ou decolagem do famoso aeroporto de Cláudio, construído nas terras do tio Múcio Toletino, que ficou com a chave por um bom tempo.
Pelo menos 198 vezes ele não estava a bordo. Um decreto de 2005 estabelece que esse equipamento destina-se “ao transporte do governador, vice-governador, secretários de Estado, ao presidente da Assembleia Legislativa e outras autoridades públicas” e serve “para desempenho de atividades próprias dos serviços públicos”. A linha entre o interesse público e o privado é tênue.
... Luciano Huck, companheiro de Aécio presente nas horas incertas como a “festa da vitória” em 2014, foi a Tiradentes em agosto de 2004. Alguns dias depois, com Sandy, Junior e o empresário da dupla, rumou para Santa Bárbara. Estavam gravando um quadro para o programa.
Milton Gonçalves, José Wilker e Boni também foram usufrutuários, assim como Boni, que foi, segundo ele, “fazer uma análise da TV Minas”.
Ricardo Teixeira fez seis vôos, três em 2006 e mais três em 2010, um deles com José Serra a bordo. O detalhe é que, em 28 de agosto de 2007, um dos passageiros era Ray Whelan, executivo-chefe da Match Services acusado de envolvimento num esquema de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo do Brasil. Whelan chegou a ser preso no Complexo de Bangu.
Roberto Civita, ex-dono da Abril, e a mulher Maria Antônia passaram o fim de semana de 27 e 28 de março de 2010 em Minas. O casal foi de Belo Horizonte a Brumadinho, onde fica o fabuloso museu de Inhotim, no helicóptero. De volta à capital, Aécio os levou a São João del Rey no Learjet. No domingo, pegaram novamente uma carona nas hélices do Dauphin até Confins.
... Fernando Henrique Cardoso usou os aviões e o helicóptero em pelo menos dez ocasiões, sem a presença do governador. A maioria em 2006 (três, uma delas com uma “comitiva”) e 2008.
... Roberto Irineu Marinho, um dos donos da Globo, foi de BH a Brasília em 11 de setembro de 2007. No dia seguinte, da capital mineira a Diamantina. Esteve acompanhado do então senador Sérgio Guerra, do PSDB.
... O amigo Alexandre Acciolly foi premiado, também. Dono de academias de ginástica, sócio do Gero e do Fasano, bon vivant, ele é da turma carioca de Aécio, integrada por Huck, Mário Garnero e outros. Foi padrinho do casamento de Aécio com Letícia Weber em 2013, no Rio.
... Houve espaço até para o presidente do Rotary International, Dong Kurn Lee, e Hipólito Ferreira, ex-membro de um certo Comitê de Revisão da entidade. Em setembro de 2008, eles viajaram de helicóptero de Belo Horizonte a Ouro Preto com suas respectivas senhoras.
A generosidade com a própria família é enorme. Tios, primos (inclusive Tancredo Tolentino, o Quedo, que seria denunciado em 2012 por negociar a compra de habeas corpus de dois traficantes), ex-mulher, parentes, contraparentes — todos voaram. Andrea Neves, a irmã de Aécio, esteve em São João del Rey, Brasília, Viçosa e Rio de Janeiro, com e sem o irmão.
Em 31 de março de 2010, o King Air aterrissou na Cidade Maravilhosa com Andréa Falcão (ex-mulher de Aécio), Gabriela Falcão Neves, Luiza Falcão e Matheus Falcão.
A listagem de vôos, como foi dito, é grande e cada uma tem sua história com suas imbricações. Outras serão contadas aqui.