quarta-feira, 12 de agosto de 2009

OLFATOS ESPECIALIZADOS

Um texto primoroso como só o Morici sabe fazer!
Seja você fumante ou não, vale a leitura.

OLFATOS ESPECIALIZADOS
Carlos Morici

Acho que nasci fumante, em que pese o fato de minha mãe só ter fumado a fumaça que vinha do Hollywood sem filtro de meu pai. Eu, o feto, recebi as rebarbas. Meu avô e meu pai fumavam. Gostavam de fumar. Acho que aprendi com eles a gostar de fumar porque gostava deles.

Lá pelo olhar de Freud, talvez eu fume por efeito de transferência, como uma maneira de trazer meu pai ao presente, recebê-lo em visita e lembrança, nas baforadas do meu inconsciente tabagista. Se for, bom motivo esse.

Como fumante habitual, dependente químico, já parei algumas vezes de fumar, uma delas por quinze anos seguidos. Como Churchill dizia, “parar de fumar é muito facil, eu mesmo parei centenas de vezes...”
Consumi remédios, fiz manobras perigosíssimas para afastar-me do tabaco, espetei-me, quase mutilei-me, mas, acredito, os transtornos dele decorrentes tem sido, à aparência, menores que seus encantos. Isso, sem ter dependido de filmes antigos ou do glamour social, inspirador de tantas fumaças pelo planeta para consolidar minha escolha pelo fumo.

Formei-me professor de ioga, onde a respiração é tudo, aprendi a nadar em tardia época para nunca mais interromper o maravilhoso hábito, e por isso, por este prazer, corto as águas diariamente. Fumante, tenho excelentes tempos nas competições aquáticas de que participo, com minha equipe, nadador master que sou. Tusso com reduzida frequencia, como tussiria um não fumante. Como pessoa comum, tenho uma vida com um pé no céu, outro no inferno. Banal, boba de dar pena.

Posso passar por sabatina até no Vaticano sobre todos os males já foram cadastrados, atribuídos ao hábito de fumar qualquer coisa.
Mas continuo fumando. Gosto.
Fumo, cada dia em menores e piores espaços, cada dia mais deslocado de qualquer ambiente onde um humano razoável possa se encantar.
Já fui obrigado, pelas circunstancias, a fumar até pendurado numa janela e a devorar em segundos, cigarros nas mais diversas e inusitadas situações. Já coletei e fumei baganas deixadas por mim mesmo, em momentos de opulencia tabágica, no cinzeiro ou no lixinho da cozinha.

Fui alçado à condição de rejeito no aeroporto de Congonhas, acendendo meu cigarro entre latões, sacos de restos putrefatos e saudáveis ratazanas. Devo confessar que em inúmeros momentos, disputei com algozes narizes, a plenitude do ar abarrotado de múltiplas toxinas odoríficas, mas onde o único agente poluidor identificado era o meu cigarro...

Já devo ter sido apontado na rua como Aquele!! o fumante que ataca diuturnamente as saúdes alheias...
Alimentei meu vício até agachado perto de um cano de descarga a diesel e estou começando a achar que não gostam que eu fume...ou não querem que eu escolha fumar. Seria possível isso?
Pelo meu relato desencanado, trato do assunto com liberalidade, num misto de auto flagelação e riso. Como deve ser entendida a vida, uma grande, maravilhosa passagem.

O cigarro e o vício já me fizeram ridículos, mas o amor, a saudade, a falta de dinheiro, a incompreensão, as carências, os desapontamentos, será que não?
O que não consigo compreender nessa altura da vida, é como tanta gente, nos últimos anos - piorando rápido agora - cismou de falar mal do fumo, como se os fumantes não soubessem dos riscos...Ou, pior, como se só existisse o cigarro como carrasco de todas as existências.
Já notaram, por exemplo, como as pessoas que não fumam, não morrem? Ah, dirá alguém, morre sim. Mas morre com saúde...Sim, já entendi...Mela berda.

Como se nos privar de ir à rua nos impedisse de sermos atingidos, vitimados, violentados por algo evitável...
O que sinto, chato isso, é uma crescente síndrome de pânico em relação a qualquer coisa, um medo e um apego desesperados por não morrer, por economizar vida, por guardar para usar depois, em boa ou melhor hora.
Tá cheio de gente por aí, abarrotada de dinheiro, amargurada pela mente adoecida.
Cheio de gente que não pode usar as roupas que possui porque não acha hora pra fazer isso...Gente que acusa pai e mãe, que sacaneia o vizinho, que maltrata bicho, que arrebenta nascentes ou o colega de trabalho, que alardeia falsidades sobre o outro. Gente que nem fuma... Nossa, mãe, quanta hipocrisia!

Minha dependencia já me causou contratempos, mas amigos falsos nunca me fizeram mal maior?
A fumaça, indiscutivelmente, é desagradável. Até nos olhos do fumante. Mas tenho visto muita gente que reclama, lançando toneladas de sujeira no ar, afetando a todos, sem distinção... mas, claro, sem cigarro. Afinal, é só a minha camionete zero, a diesel...

Muita gente - e como conheço gente assim – detesta o fumo, critica o cigarro, mas trapaceia, ilude, mente aos borbotões, que refulge de egoísmo e intolerância, que eu acabo preferindo a fumaça, me faz menos mal...
Banqueiros querem viver muito, se pudessem, comprariam vida, tomariam, arrestariam, arrancariam as dos avalistas, adoram viver para ter mais lucro. Você conhece banqueiro que fuma ? Claro, eles tem hábitos muito saudáveis, mesmo... A usura, por exemplo, tem muita vitamina A, é vasoconstritora e anti oxidante...

Mas cá pra nós, esse Macartismo tá ficando exagerado demais. E a história é mestre em narrar, tudo começa a apodrecer quando a livre escolha é ofendida.
Teimam, os nazistas da valorosa saúde, que o carrasco da humanidade é o cigarro, o fumo em geral, porque de palha, cachimbo e charuto também não pode.
Em resumo, brasa de um lado, boca do outro, tá proibido!!

Tenho algum discernimento, eu acho.
Tenho 55+, como sou chamado nas provas de natação, tenho filhos adultos e me sinto em condições de ser pai, ainda antes de ser avô. Tecnicamente, ando bastante bem.
O que minha alguma inteligencia ainda não me explicou é como o Human Being, o velho Ser Humano precisa tanto encontrar quem pague o pato, a conta, quem seja culpado de alguma coisa, para justificar outras.

Num governo recente de triste memória, o ministro czar da Economia convocou a Brasília um bando de desconcertados cabeleireiros e barbeiros de todo o país, para brandir-lhes o dedo em riste nas humildes fuças e acusá-los de serem os responsáveis pela inflação que campeava, à larga, gestada e mantida alta por outros interessados que não poderiam aparecer...

Tom Jobim já tratou dos ouvidos privilegiados que se arrepiavam com vozes desafinadas...Lembrava que no peito dos desafinados, também batia um coração. No dos fumantes, combalidos corações teimam em bater.

Fico intrigado mesmo é com o tal de fumante passivo, excepcional indivíduo dotado de um sensibilíssimo nariz, em cujo prosaico ato respiratório é capaz de detectar, selecionar, separar e respirar apenas o que se deriva do tabaco, eliminando quaisquer outros odores e selecionando as especiais narinas para aspirar apenas as partículas originadas dos fumos em brasa.
Continuarei incompreendido mesmo...

Vi, em recente viagem à Itália, uma profusão generalizada de fumantes, permeando idades, sexos, lugares e situações. Não vi nenhuma caça à bruxas contra os fumantes, apenas o que o bom senso deve indicar: cinzeiros nos locais adequados para o hábito ser exercitado, limitações naturais e controle do fumo em certos locais para que as pessoas não sejam obrigadas a fumar o cigarro alheio não desejado. Nada de mais. Lá, fuma-se, inclusive, nos taxis.

Mas a coisa aqui tá ficando perigosa. Neste país, até que enfim acharam um responsável por tudo que nos acontece de ruim: o fumo. Já começaram as perseguições, as multas, os impedimentos, os denuncismos. As leis interferindo mais ainda no privado, na vontade individual, no livre arbítrio de cada cidadão fumante. Uma rediviva caça às bruxas, agora aos bruxos fumantes, bem dito. Ninguém mais pode ser acusado de nada, a não ser o fumo e seus asseclas.

Acho que Serra, Sarney, Renan e Collor não fumam... Eles são um bom exemplo para todos nós, você não acha ?

6 comentários:

  1. Gostei do texto.

    Nenhum excesso é saudável, nem o que se faz em nome da saúde.
    Fumantes têm o direito de escolher a morte lenta via consumo repetido de bastonetes nicotínicos. (embora nem todo fumante morra por causa de problemas diretamente relacionados ao fumo) :)

    Que bom, senão a vida seria um saco.

    Não acho que nenhum dos senhores citados no último parágrafo do texto seja exemplo para nada ou ninguém, diga-se de passagem.

    Vale destacar que eu sou "fumante não praticante" (parei com os quase 30 cigarros que fumava diariamente há mais de 1 ano), fumante de pai e mãe (cada um controlando o vício como pode) não crio caso com fumaça (afinal, os incomodados que se mudem) e mantenho cinzeiro na varanda da minha casa, para os que ainda escolhem este hábito

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  2. Parabéns ... adorei .... não sou fumante (tem 6 anos mas já fui e adorava) e concordo que essa coisa de ficar podando todo mundo que fuma e dizendo que o fumo é culpado de tudo é muito chato. Minha mãe falava que eu tinha olheira porque eu fumava....meu cabelo anelado.... porque eu fumava.... não tinha namorado.... porque eu fumava..... dizia até que eu era verde...rsrsrsrs.... Hoje não fumo mais e o meu cabelo continua anelado, as olheiras é melhor nem falar, namorado..... continua raridade..... acho que ainda to verde.... de quem será a culpa agora? Será que se eu fumar melhora?

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  3. CarMori...
    Fiquei super preocupado agorinha, cabei de ler no Uol, agora, o Dr. Rodrigo Campos, Urologista, diz que, sabe quantas amputações peniana ANUAL por causa do phumo, 1.000..me doeu.
    Será que usam uma SERRA.
    Tá rolando mais cabeça do que a gripe suina.
    Parei....
    Vou ascender mas não vou fumar agora

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  4. GOSTEI MUITO DO TEXTO FOI DE3 GRANDE AJUDA PARA MEU TRABALHO.


    FSDT PVP TEAM

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  5. GOSTEI MUITO DO TEXTO ELE AJUDOU MUITO NO NOSSO TRABALHO, BJOS ME LIGA.
    21 58986974


    FSDT PVP TEAM

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  6. Prezado(a) "Anônimo" / "BIRT",
    me parece que esse é um assunto entre você e o autor mas, não resisto à curiosidade:
    O que é "FSDT PVP TEAM"???
    Abs.

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