sábado, 29 de agosto de 2009

PÛM, PÛM!

-Pûmpûm!
-Nããão... É bumbum! Bum-Bum! Esquece, gringo burro. Bunda. Fala: bun-da.
-Oh, yeah! Pûn-dha! I love brazilian pûn-dha!
-(Lóvi, né? Gringo safado…) É BUNDA!!! Repete: BUUNDA!
-Aah, PÛÛNDHA!
-Gúdi, gúdi, é issaí.

Especializada em capturar gringos em Copacabana, Zildinha Pérola Negra, como a alcunha deixa antever, era uma mulher bonita com todos os predicados para reinar no pedaço: pele lisa, muito preta, com poucas e discretas manchas, cabelos trançados, carnes protuberantes nos locais exatos, (des)cobertas por diminutos tecidos.

O dia-a-dia era caminhar pelo calçadão em torno dos quiosques com a natural elegância da raça e, com a experiência adquirida por quilômetros de labuta, escolher o gringo que aparentasse maior disposição para se ver livre de diversos dólares em troca de promessas que poderiam até se cumprir. Dependendo do naipe do escolhido.
Esse holandês, com sua profunda admiração pelas brazilian pûûndhas, não estava levando muito jeito. Mas, início da tarde, poderia ser um aperitivo para a noite vizinha. Caipirinhas, conversa aos arrancos, mímicas variadas. (Zildinha entendia e falava inglês suficiente para se defender em qualquer lugar do mundo, mas preferia se fazer de besta. Era mais prático, seguro e lucrativo.)

Rupert Van Daahen era um ambicioso estagiário de um núcleo de doação de sangue no centro de Amsterdã. Ganhara um concurso de viagens na internet e, graças às opções exóticas dos destinos apresentados, pôde escolher sua fantasia: Brasil. Rio de Janeiro, para ser mais preciso.
Aos 21 anos era obcecado por ginástica, internet e mulheres negras. Coisas comuns lá entre os (só eles?) nórdicos. Administrava a vida entre o estudo, a burocracia do trabalho, malhação na academia e as solitárias contemplações da internet. Era um cidadão comum, adaptado, bem quisto na escola, no trabalho e na vizinhança.

Prática, Zildinha propôs o trivial: massagem com cremes para aliviar a ardência provocada pelo sol naquela pele branca azeda. Hundred bucks, fora o hotel... Rupert entendeu direitinho, sorriu seu sorriso de 32 dentes, pagou as caipirinhas e atravessaram a avenida de mãos dadas. Cruzaram com o Betão e a Gabi. Ela fez que não viu e ficou com o coração apertado.

No quarto do hotel, Zildinha foi direto ao banheiro. Rupert desarmou a mochila, desvestiu a roupa e desabou na cama.
Retornando rotineiramente em calcinha e sutiã, Zildinha arregalou os olhos ao encarar as descargas que saíam daquele buraco negro, muito mais vermelhas do que a pele do gringo. Foi a última coisa que tentou entender antes de sua cabeça explodir.
Rupert limpou e guardou a arma. Ficou no quarto até dez minutos antes de vencer o período, pagou os trinta dólares da conta, pegou um táxi para o aeroporto e embarcou. Levou, de lembrança, um frasquinho com um pouco de sangue da Zildinha. Sabe-se lá por quê e pra quê.

Betão, quando ficou sabendo que Zildinha havia dançado, raciocinou que seria um bom exemplo para as outras e seguiu sua vida.
Gabi, quando ficou sabendo que Zildinha havia dançado, sentiu muita raiva, muito medo e seguiu sua vida.
Rupert formou, casou, mudou para Bruxelas onde hoje administra um hospital. Continua fazendo ginástica e tentando a sorte nos concursos de viagens. De vez em quando ainda lembra daqueles barulhinhos tropicais: Pûm, Pûm!

Nenhum comentário:

Postar um comentário