quarta-feira, 1 de julho de 2009

FICA SARNEY

(Claudio Abramo)
Diretor Executivo da Transparência Brasil. Bacharel em Matemática (USP) e Mestre em Filosofia da Ciência (Unicamp).
Conforme o noticiário dá conta, aumentam as pressões para que o presidente do Senado, José Sarney, se afaste do cargo. Ontem, o DEM, o PSDB e o PDT exprimiram a mesma coisa: Sarney deveria afastar-se até que as investigações sobre os atos secretos se concluam.
Evidentemente, trata-se conversa fiada. Dados os tentáculos que Sarney mantém no Senado, afastá-lo “temporariamente” não teria nenhum efeito sobre as “investigações”. Na escassa medida em que se possa interpretar o que se passa nas maquinações partidárias, a idéia desses três partidos nada tem a ver com “investigações”, mas parece ser afastar Sarney “temporariamente” para em seguida afastá-lo em definitivo.
Assumiria então o primeiro vice-presidente, o senador Marconi Perillo, o qual vem a pertencer ao… PSDB.
Evidentemente, tal possibilidade horroriza o PT e o governo, embora se diga que dois dos principais senadores do partido, Tião Vianna e Aloizio Mercadante, gostariam de ver Sarney pelas costas.
Já a senadora Ideli Salvatti exprimiu ontem a posição de que as suspeitas não incidem apenas sobre Sarney, mas sobre todo o Senado, e que portanto não cabe afastá-lo. É claro que essa posição tem origem nos interesses do Palácio do Planalto, mas nem por isso deixa de fazer sentido.
Mas os petistas também parecem pender para a solução peessedebista, conforme se informa.
Politicamente, portanto, o imbroglio não é pequeno.
Este espaço, porém, não é dedicado à política e seus mistérios. Só se aborda esse tipo de coisa para procurar algum semblante de sentido no pano de fundo das ilicitudes de que são suspeitos funcionários, senadores, cupinchas e parentes dos dois grupos.
O mais importante nessa história de Sarney sai-não-sai nada tem a ver com Sarney em si, mas com a pretensão de que, defenestrado o presidente da Casa, o assunto todo das nomeações secretas desapareça.
Essa tem sido a tática habitual usada pelos membros do Congresso: arranja-se uma punição (quanto mais branda, melhor) para um ou dois e o resto se escafede numa boa.
Assim, sob o ponto de vista da galera que paga a conta, quanto mais a situação se complicar em termos dessa politiquinha de quinta categoria a que se dedicam os senadores, e quanto mais impasses surgirem no que tange o presidente do Senado, melhor.
Por mais incrível que possa parecer face aos anseios de qualquer pessoa minimamente informada a respeito da biografia do sátrapa do Maranhão, quanto mais tempo este permanecer na Presidência do Senado melhor será, pois mais provável se tornará que novos fatos se revelem, mais funcionários e senadores se vinguem uns dos outros e com isso mais conheçamos sobre os porões da Casa.
A démise de Sarney traria aquela “normalidade” institucional tão ansiada por tantos senadores — leia-se fazer o escândalo sumir, as malfeitorias serem esquecidas e as “investigações” tomarem seu curso (de novo a palavra) “normal”.
Assim, em vez de “Fora Sarney”, é melhor o “Fica, Sarney”.

Ou seja, se trocam as moscas...

Um comentário:

  1. Se o Brasil conhecesse a verdadeira história dos Sarney, que só se locupletaram com a miséria do hoje paupérrimo Maranhão, o "marimbondo de fogo" não seria mais político. Mas todo o povo merece os
    ladravazes que elegem.
    Por isso, o nordeste padece de desenvolvimento enquanto os 'coronéis e lárápios' continuarem vivos e enganando a população.

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