terça-feira, 14 de julho de 2009

ESTRESSE

(O texto é velho mas, infelizmente, ainda está valendo...)
Diga lá, leitor arguto e observador da vida: quantas pessoas ao seu redor andam estressadas? Perdeu a conta? A culpa, claro, é do governo ou é da crise ou é da mulher que está enchendo o saco ou é do chefe que vive aporrinhando, o fato é que todo mundo anda estressado, concorda? Pois eu, chato profissional, não concordo. Na minha opinião essa história de estresse (já até abrasileiramos a palavra) é a grande desculpa do momento.
“Pôxa, você marcou comigo e não apareceu!” “Ah, estressei...”
Se fosse coisa só de homem, poderíamos até reivindicar o estresse como a nossa TPM. Mas não, elas também estão estressando cada vez mais. “Minina, cê viu a roupa que a Cotinha tava usando ontem?” “Pois é, mas ela tá estressada, né?” E lá vai a Cotinha, trinta e tantos anos, de calça apertada, meio palmo abaixo do umbigo, o ventre ao vento, ridícula mas, sabe como é, né? Estresse.
Chutou o balde sem razão? Engrossou com o amigo por um nada? “Pô cara, tô estressado!” E se o cara chiar você chia mais ainda. “De que planeta você veio? Eu TÔ ESTRESSADO!!!” E ponto final. Segue o baile.
Ninguém precisa mais se preocupar com aquelas coisinhas bobas de antigamente como gentileza, boa educação, pontualidade, retornar ligação, etc. Dane-se tudo.
Estar estressado substitui com enormes vantagens o ultrapassado “foi mal”. O “foi mal” incorporava, ainda que de longe, um suave pedido de desculpas. O estresse é muito melhor. Não só não desculpa nada como ainda joga para o ofendido uma carga insuportável de cumplicidade pela sua má educação. Se eu tô estressado posso tudo, os outros é que devem entender e, de preferência, engolir com um sorriso amarelo e benevolente o sapão da minha grosseria. Não é espetacular?
Melhor ainda é observar algumas rodas de amigos no boteco onde os mais competitivos resolvem comparar seus níveis de estresse. “Pô, tô estressado.” (Engraçado como a frase não muda) “Quêisso, estressado tô eu.” Pronto. Prepare-se para um longo e desagradável confronto onde as duas antas ficarão empurrando entre si e goela abaixo da platéia, suas respectivas idiossincrasias e frustrações variadas. Tudo isso para, ao final do duelo de babaquices, sempre aparecer a indefectível: “Se não fosse esse choppinho com os amigos, não sei não...” Deixando no ar a, infelizmente, remotíssima possibilidade de internação hospitalar – o que nos daria merecidas férias dessas conversas bestas.
(Em tempo: se quiserem substituir o "estressado" por "ocupado", dá na mesma!)

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