quinta-feira, 2 de julho de 2009

NENÚFARES

Passo ao largo dessa modinha de ficar endeusando palavras. Acho que cada palavra tem significado, pertinência e sonoridade absolutamente distintas para cada ser humano que queira delas se ocupar. Mas...
O frenético leitor já parou pra pensar em nenúfares?
(Não fique revoltado. Eu sei que você está aí buscando um pouco de equilíbrio durante um breve momento de relaxamento e não tem a menor necessidade de que um degenerado venha propor tão profundas questões filológicas e filosóficas. E agora, o que fazer? Deixar de lado e ir ver televisão? Não, não... Espere mais um pouco e todas as suas suspeitas serão confirmadas: o locutor que vos fala nada mais é do que um pobre cidadão em apuros, tentando, de todas as formas, alcançar o mínimo de linhas exigidas!)
O fato é que nenúfares são, além de uma palavra no mínimo instigante, plantas aquáticas de nobre linhagem, com caules longos que se fixam no fundo de lagoas e banhados, tendo como estrela principal a Vitória-Régia. Também se destacam pela velocidade de reprodução, quando apresentam igual ou maior vivacidade do que os coelhos.
As vítimas dos nenúfares afirmam que, uma vez estabelecidas, as malditas ninfeáceas comportam-se como alguns - vários - políticos brasileiros: não há o que as destrua.
Envenenar não é recomendável pois irá poluir toda a água que, tal como algumas telas, não são culpadas pelo que lhes é colocado sobre.
Esvaziar o laguinho para tirar a lama e as raízes é o mesmo que jogar adubo. Em semanas elas estão de volta mais fortes do que nunca.
É mais ou menos como renunciar ao mandato para não ser cassado e voltar “nos braços do povo” após as eleições, como se nada houvesse acontecido. (Os verdadeiramente sábios observam a natureza e, muito depressa, aprendem que ela é completamente amoral.)
De volta aos nenúfares, eles foram descobertos em 1803 na Bolívia, pelo botânico inglês Haenke. Posteriormente outros exploradores europeus também os identificaram em rios do Brasil, Argentina e Guianas. (São loucos, os nenúfares e os pesquisadores.)
O nome “Vitória-Régia” foi cunhado em homenagem à Rainha Vitória. Claro, uma planta tipicamente sul-americana tinha que homenagear uma rainha inglesa... (Mas, cá entre nós, os botânicos eram, em sua maioria, ingleses que batalharam, cruzaram oceanos, enfrentaram um clima do cão e descobriram a bendita plantinha flutuante. Iam batizar como? “Atahualpa-El-Príncipe”? “Zumbi-Meu-Rei”? “Evita”?)
“Nenúfares” deveria ser alçada à categoria das palavras resumitivas. Significaria algo próximo de “bulhufas” - por sua vez uma das palavras mais interessantes da língua portuguesa. (Viu como eu estava certo? Cada palavra soa diferente pra cada pessoa. Aposto que pra você, “bulhufas” pode ter a mesma aplicação que “pitibiribas” e... Tá bom, tá bom, já parei.)
Enfim, palavras resumitivas são aquelas palavras que têm o poder de resumir sensações, sentimentos, intimidades, enfim: elas resumem o clima geral do indivíduo.
- “Não entendi bulhufas!”
- “E você achava mesmo que essa conversa ia dar em alguma coisa...? Nenúfares!”

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