quinta-feira, 10 de julho de 2014

LUCIDEZ PÓS-DERROTA

 
Em meio a um impressionante desfile de imbecilidades variadas que vão das inevitáveis teorias conspiratórias à “Desastre histórico:
Ô partidinho seca-pimenteira esse PT”, passando por incontáveis "istas" repetindo "Eu avisei" até ficarem roucos, seguem três textos que são oásis na babaquice, mais do que nunca, reinante na mídia.


Janio de Freitas – 10/7/2014

A variedade dos adjetivos foi pequena. Não por escassez vocabular de quem os emitiu nos jornais e nas emissoras, mas porque o acontecimento não suscitava mais do que palavras com força dramática. E todas serviram para conduzir à mesma ideia, também expressa com pequena variedade: é preciso mudar tudo no futebol brasileiro, que seja o fim de uma era, é o momento de iniciar uma ressurreição. A ideia é o que importa e é boa. Para torná-la real, nada seria mais eficiente do que começar pelos que a propõem.

A imprensa e os jornalistas são muito democráticos: têm a convicção de que tudo e todos são sujeitos à crítica. Desde que não sejam a imprensa e os jornalistas.
...
O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida no futebol.


Romário – 9/7/2014

... O meu sentimento é de revolta.
Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira, nossas cores e, o mais importante, nosso material humano, nossos jogadores.
Porque não se iludam, futebol é negócio, business, entretenimento e move rios de dinheiro. Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do Governo Federal no nosso futebol.

Em 2012, eu apresentei um pedido de CPI da CBF, baseado em um série de escândalos envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verba do patrocínio da empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília há dois anos. Em questionamento ao presidente da Câmara dos Deputados, sr. Henrique Eduardo Alves, ouvi como resposta que este não era o melhor momento para se instalar esta CPI. Não concordei, mas respeitei a decisão. E agora, presidente, está na hora?

Exceto por um vexame como o de ontem, o Brasil não precisaria se envergonhar de uma derrota em campo, afinal, derrotas fazem parte do esporte. Mas, vergonha mesmo devemos sentir de ter uma das gestões de futebol mais corruptas do mundo.


Luis Fernando Verissimo – 10/7/2014

... E Argentina e Alemanha farão a grande final, no domingo.
Todos torcendo pela América contra a Europa, nossos irmãos continentais contra os nossos algozes, nossos co-colonizados contra os senhores do mundo etc. A esta altura, só nos resta a hipocrisia.

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