Tenho pra mim que todo
político, por definição, já é merecedor de severas desconfianças e incontáveis -
péssimas - certezas.
Entretanto alguns (que
não enchem os dedos de u’a mão) como o cidadão Cristovam Buarque, de quem
reproduzo abaixo mais um texto da melhor qualidade, formam no meu time das
exceções.
Desculpe David Luiz
Cristovam Buarque
Os EUA tiveram uma
guerra civil que custou cerca de 600 mil vidas. A Alemanha foi derrotada duas
vezes no período de 27 anos e a França foi ocupada pelos alemães. Outros países
tiveram grandes traumas por terremotos e maremotos.
Nossos traumas foram
derrotas no futebol: para o Uruguai, em 16/7/1950, e Alemanha, em 8/7/2014.
Sofremos por causa dos 7 a 1 no futebol, mas esquecemos dos 103 a Zero para a
Alemanha em Prêmios Nobel.
A realidade social não
nos traumatiza porque nossos grandes problemas foram banalizados.
Consideramos tragédia
ter o quarto melhor time de futebol do mundo, mas não nos traumatiza quando, no
dia 1/3/11, a UNESCO divulgou que estamos em 88º lugar em educação; nem quando,
em 15/3/13, o PNUD divulgou que estamos em 85º lugar no Índice de Desenvolvimento
Humano; ou quando o Banco Mundial nos coloca como o 8º pior país em
concentração de renda; ou ainda quando soubemos que somos o 54º país em
competitividade no mercado mundial; ou quando o IBGE divulgou, em 27/9/13, o
aumento no número de adultos analfabetos entre 2011 e 2012.
Nenhum trauma
aconteceu quando a Transparência Internacional nos reprova em corrupção; ou
quando vemos que, no ano passado, 54 mil brasileiros foram assassinados no país
e outros 50 mil mortos no trânsito.
Não nos traumatiza o
fato de que 50 milhões de brasileiros - desalojados históricos pelo modelo
econômico - passariam fome se não fossem as pequenas transferências de renda,
como se eles fossem abrigados depois de uma inundação.
Não nos choca a
destruição de 9% a mais de florestas em 2013 do que em 2012.
Sofremos com as
derrotas no futebol porque elas não foram banalizadas, são exceções na nossa
trajetória de vitórias.
Não nos traumatizam os
desastres sociais porque nos acostumamos a eles e nos acomodamos. Por isso, não
exigimos de nossos líderes políticos o mesmo que exigimos dos jogadores e
técnicos.
Ao ouvir David Luiz
pedir desculpas porque não foi “capaz de fazer seu povo feliz, pelo menos no
futebol”, pensei que deveria pedir desculpas a ele, porque sou parte da seleção
brasileira de líderes políticos e não consigo fazer o necessário para facilitar
a vida de cada brasileiro em busca de sua felicidade.
O político não
proporciona felicidade, como um artilheiro que faz gols, mas deve eliminar os
entulhos sociais, tais como, transporte público ineficiente, fila nos
hospitais, escolas sem qualidade e violência descontrolada, que dificultam o
caminho de cada pessoa em busca de sua felicidade pessoal.
Esses entulhos sociais
que povoam o Brasil provam que nós, os políticos brasileiros, não estamos
ganhando a Copa do Bem Estar, base necessária, embora não suficiente, para a
felicidade de cada pessoa.
Por isso, eu e todos
os políticos com mandatos, não David Luiz, devemos pedir desculpas por não
eliminarmos os entulhos que dificultam a busca da felicidade por cada
brasileiro.
Há muito reparo nele. Parece mesmo um baixinho diferenciado na estatura moral.
ResponderExcluirÉ uma das poucas andorinhas que ainda tentam fazer verão nesse interminável inverno político tupiniquim.
ExcluirEle foi meu professor em Brasília. Tenho boa imagem dele desde aquela época.
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