sexta-feira, 21 de junho de 2013

O BRASIL DOS VELHOS

Nós, os velhos, por vezes, esquecemos coisas que deveríamos lembrar e lembramos o que deveríamos esquecer. (Frasezinha safada pra dar um início instigante, entende?)
 
Por exemplo, você aí, patriótico leitor, lembra quando saía de casa tranquilo, sem nem pensar em possíveis assaltos, blitz, etc?

Lembra quando você saía pra jantar com sua mulher e ela usava um colar bonito sem que você precisasse contratar um segurança?

Lembra a última vez que estacionou seu carro sem um pentelho achacador te dizendo “vem”, “vem”...?
(Sei, sei. Foi ontem no shopping, né?)

Lembra quando você dirigia com os vidros abertos?
“Cabelo ao vento, gente jovem reunida”... (Perdão, leitores.)

Lembra quando você pegava o ônibus, dava bom dia ao motorista e ele respondia?!

Lembra que existia o médico da família? Um clínico geral que resolvia quase tudo e quando não resolvia, aí sim, a gente ia para o “especialista”.

Lembra que a gente operava amígdalas, por exemplo, e ficava no hospital tomando sorvete sem medo nenhum?

Lembra que se você não estudasse tomava bomba e repetia de ano?

Pois bem.
Todas essas lembranças não vão desaguar no que tenho visto rolar nos e-mails e fêicibúquis da vida. Definitivamente não tenho nenhuma saudade dos militares e não acho que a ditadura é solução pra coisa nenhuma. E antes que me mandem, pela enésima vez, aquele e-mail falando sobre o que podíamos fazer nessa época ("Podíamos dirigir a 100 por hora mas não podíamos falar mal do presidente"... "Hoje não podemos fazer nada a não ser falar mal do presidente") devo alertar que é muito engraçadinho, mas esconde uma infinidade de coisas que nós, os velhos, pelo visto, preferimos colocar na conveniente gaveta do esquecimento.

Meu receio atual é só um: se “vier chuva” mesmo - a partir de manifestações sem lideranças explícitas, quem vai negociar com o governo?

Se, como a burguesia está salivando, o governo cair, quem vai assumir? Barbosão? Duvido!

E mesmo que fosse ele, quem iria assumir os governos estaduais e municipais, a câmara e o senado?
Em todas as alternativas, aposto nos oportunistas de sempre.

E, principalmente, quem vai dar jeito nos famigerados segundo e terceiro escalões?
Sim, porque são estes que, escorados na burocracia, nas letras pequenas de leis encomendadas, estão lá - entra governo sai governo - abrindo todos os caminhos para a corrupção desenfreada.

E não adianta colocar panos quentes. Tudo isso que está aí foi criado pela nossa preguiça, pela nossa indiferença, pela nossa incompetência na hora do voto e, tão importante quanto, no “pós-voto”.
Você lembra em quem votou na última eleição para deputado?
Se sim (o que eu duvido), você, alguma vez, interpelou o seu “representante”?

Lembra que já tivemos caras pintadas e não caras tampadas?
Vamos ficando velhos... E burros!

4 comentários:

  1. Meu 'ad referendum' pelo que foi emoldurado acima. Somos alienados de pais e mães. Não se desentorna pau que nasce torto. Abç. DuduGouvêa

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    1. Concordo que desentortar é complicado.
      Mas dá pra "adaptar", "repaginar", por aí...
      Abs.

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  2. Minha reverência às suas palavras, Doutor Tiago!
    Vitor Lemos

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