quinta-feira, 20 de junho de 2013

OLHANDO DE FORA - 3

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18 JUNHO 2013
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FAZER CONTAS
*Por Cristovam Buarque

Há oito anos a população do Brasil se dedica a construção de estádios para a realização da Copa. Não se pode esperar diferente em um país que já foi chamado de uma “pátria de chuteiras”. A população do Distrito Federal, por exemplo, ainda não tem times que atraiam torcedores, mas está deslumbrada com um monumental estádio para 71 mil espectadores a custo superior a R$1,6 bilhão. Poucos, porém, fizeram as contas do que significa este custo.
A obra custou R$ 800 para cada um dos brasilienses. Considerando apenas os adultos, o custo subiria para cerca de R$ 3 mil por cada pessoa. Se considerar o dinheiro que deixou de ir para os 208 mil moradores mais necessitados, com rendimentos de até um salário mínimo mensal, o custo foi de cerca de R$ 8 mil, mais ou menos um ano de trabalho de cada um deles. Se cada brasiliense soubesse que este valor saiu do seu bolso e conhecesse seus usos alternativos, a euforia com o estádio não seria tão grande. 

Com os recursos gastos com o estádio seria possível financiar a formação de 6.800 engenheiros de excelência, desde a primeira série do ensino fundamental em superescolas de qualidade internacional, ao custo anual de R$ 9 mil por aluno ao ano, pagando R$ 9.500 por mês para cada professor, até o final do curso de Engenharia, em cursos universitários de excelência iguais aos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Este número seria maior do que a soma de todos os engenheiros já formados no ITA nos seus 64 anos de funcionamento. Além disso, a formação seria pública, igual para os filhos dos mais pobres e dos mais ricos que tenham vocação e persistência.

Se considerarmos que cada um desses profissionais contribuiria para o desenvolvimento do País e geraria uma renda no mínimo igual ao salário, tomando para efeito de simulação a quantia de R$ 20 mil por mês, o montante gerado ao longo de 35 anos de trabalho, resultaria em renda de aproximadamente R$ 63,6 bilhões. Algo equivalente a 40 estádios similares ao novo Mané Garrincha do Distrito Federal. Mais importante ainda é que esses profissionais serviriam como base para o desenvolvimento científico e tecnológico que o Brasil tanto necessita.

Se considerarmos o custo de todos os 12 estádios da Copa, atualmente orçados em R$ 7,2 bilhões, e que certamente será maior, deixaremos de formar cerca de 30.400 cientistas e tecnólogos da mais alta qualidade. Por mais benefícios que traga a Copa, não há dúvida que investir em Ciência e Tecnologia (C&T) seria um melhor uso do dinheiro na construção do futuro do país. Alguns vão dizer que aproximadamente 4 mil trabalhadores receberam seus salários por terem emprego diretamente gerado pela obra no DF, mas estes poderiam ganhar o mesmo construindo hospitais e escolas. Podem dizer também que as arenas vão permitir atividades esportivas e culturais, mas isto já seria possível com pequenas melhorias nos estádios anteriores.

O Brasil tem muitos problemas, mas um dos mais graves é não fazer contas.

*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF.

5 comentários:

  1. Vamos para a rua pai!!! Vamos gritar palavras de ordem, em cima do pirulito!! Vamos levar cartazes com dizeres engraçados!!
    VAAAMOOOSSS PPAAAIII!!!!!!!!!!!!

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  2. Curti isso!! Brasileiro não entende de contas, meu caríssimo friend. O que diremos de contas tão altas, quanto as das construções das arenas (não concordo com o termo) - prefiro estádios - DuduGouvêa again!

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  3. Também acho "arena" uma merda.

    O resto é com o Paulo Emilio...

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