Segue mais um primoroso artigo do António Bagão Félix - hoje no Público de Lisboa:
Comentário sobre comentários (futebolísticos)
Como
em quase tudo na vida, o resultado condiciona a apreciação do que a ele conduz.
No
desporto, esta regra é quase levada ao estatuto de universal.
Os comentários sobre um jogo acabam sempre por dar razão ao resultado.
À falta de melhor conclusão, há sempre a velha frase “não obstante, o resultado acaba por justificar-se”. Como se vê pelo uso do verbo reflexivo, o dito resultado contém em si a justificação.
Os comentários sobre um jogo acabam sempre por dar razão ao resultado.
À falta de melhor conclusão, há sempre a velha frase “não obstante, o resultado acaba por justificar-se”. Como se vê pelo uso do verbo reflexivo, o dito resultado contém em si a justificação.
Vejamos
o clássico de domingo. O Benfica venceu por 2–0 (como benfiquista estou muito
contente, o que certamente não acontecerá com os portistas que fazem o favor de
me ler). Os jornais e comentadores não pouparam elogios aos encarnados, no
plano táctico, na inteligência de jogo, na eficácia letal.
Qualquer
coisa como isto: “Jogando com paciência e cinismo, o Benfica acabou por ver
premiada a sua inteligência táctica e o rigor posicional. Foi cirurgicamente
venenoso nos seus rápidos contra-ataques que abalaram a defesa portista. Uma
vitória do carácter, da persistência e da ousadia”.
Mas,
como a contingência é a vida no jogo jogado, poderia ter acontecido um
resultado favorável ao Porto.
Ora, neste caso, e tudo o resto igual (ou como se
usa muito em economia “ceteris paribus”), dir-se-ia categoricamente: “O
Porto foi um justo vencedor. Teve mais bola, foi inteligente na ocupação do
espaço, o Benfica esteve quase sempre manietado por uma defesa alta dos
portistas, e não teve antídoto sempre que o Porto acelerava e flanqueava o seu
jogo. Uma vitória do colectivo alicerçada em valores individuais de
classe.”
Que me
perdoem os bons profissionais, mas percebe-se por que razão o som da minha televisão
vai ficando imperceptível quando vejo um jogo…
Após cinco vitórias (sobre a Argentina, só Deus sabe como), até o Dunga, agora, está se tornando o técnico ideal.
ResponderExcluirVitor Lemos
Em compensação, os comentaristas continuam os mesmos e... Piorando!
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