sexta-feira, 25 de abril de 2014

CURIOSIDADES RUBRO NEGRAS - 31


- Eu me chamo Edvaldo!
- “Edi” o que? – perguntou o “professor” que procurava distribuir a garotada pelos dois times da “peneira”.
- Edvaldo! – respondeu o garoto quase com medo.
- Isso não é nome de jogador de bola! Como é teu apelido em casa?
O garoto ainda assustado falou:
- Dida…!
- Dida é legal! Curtinho, quatro letras, como Didi, Dudu, legal!

E Dida entrou no seu primeiro treino e fez três gols.

Edvaldo Alves de Santa Rosa vinha de uma família classe média de Maceió, Alagoas. O pai e os quatro irmãos jogaram bola. Nenhum foi profissional. Dida se destacava. Jogava muito.
O diálogo com o “professor” foi no América, Dida tinha apenas 15 anos e tinha sido convencido pelos dirigentes a jogar uma única partida pelo clube. Dida não queria, queria estudar, ser médico.
Mas os dirigentes acabaram convencendo o rapaz: - É uma partida só! Só uma! Contra o Barroso, decidindo o campeonato de juvenis.
Dida acabou aceitando, o América venceu, 4 a 1, com três gols do menino Edvaldo.

A partir daí estava decidido, Dida ia ser jogador de bola.
O CSA, que divide a torcida com o CRB, ofereceu um bom emprego ao rapaz.

Com 16 anos Dida foi convocado para a seleção alagoana. O presidente do Flamengo na época, 1953, era Gilberto Cardoso, um alagoano, ouviu falar de Dida e mandou um representante para observar o jogador.
Foi um jogo entre as seleções de Alagoas e da Paraíba. No primeiro tempo venceu a Paraíba, 3 a 1. No segundo tempo Dida fez três gols e a seleção de Alagoas venceu, por 4 a 3. O emissário voltou ao Rio maravilhado. Custou convencer Dida a largar sua terra natal, mas finalmente em abril de 1954 ele chegou para o Flamengo.

Apesar da saudade Dida fazia furor entre os aspirantes. Nos coletivos, ele fazia três, quatro gols na defesa titular, que formada por seus ídolos, Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan. O problema é que os titulares no ataque eram o paraguaio Benitez e o fantástico Evaristo.

Na decisão do bicampeonato de 54, contra o Vasco, Benitez se machucou e Evaristo andava se queixando de uma dor na perna. Fleitas Solich, um técnico paraguaio de muita história e personalidade, na manhã da grande decisão, falou com Dida:
- Olha, você vai jogar. Mas não se preocupe, você não tem nenhuma responsabilidade. Vai lá, joga, como se estivesse nos aspirantes.
Tomado de súbita coragem Solich tirou Zagalo que era o titular e fez o parceiro de Dida nos aspirantes, o ponta-esquerda Babá, entrar.

Os dois não fizeram gols por causa do grande Barbosa, que pegou tudo, ou quase tudo, mas conquistaram a torcida. O Flamengo venceu, 2 a 1, com gols de Rubens, o doutor Rubis, e do centroavante Índio.

No ano seguinte o Flamengo queria o tricampeonato, que seria o segundo de sua história.
Evaristo já estava de malas prontas para a Espanha, vendido ao Barcelona e Dida, no segundo turno, finalmente virou titular do Flamengo, se tornando também o artilheiro do campeonato.
A decisão contra o América foi em um “melhor-de-três”. Mesmo assim no primeiro jogo, Evaristo ainda jogou e fez o gol da vitória, por 1 a 0.

No segundo jogo, o América com um timaço, venceu por 5 a 1.

Aí veio a “negra” e Solich colocou Dida no ataque ao lado de Evaristo.
 
A história conta que o América só perdeu a decisão porque o lateral Tomires, conhecido pelo apelido de Cangaceiro, quebrou a perna do meia Alarcon, do América. Naquela época não existia substituição, nem quando um jogador quebrava a perna.
 
Assim o meia Duca fez o primeiro gol do Flamengo e Dida os outros três na conquista do tricampeonato do Flamengo.
 
Dida foi o senhor absoluto da posição de titular do Flamengo por longos 11 anos.
 
Entre uma conquista e outra pelo Flamengo, foi campeão do mundo na Copa da Suécia em 58, quando jogou as duas primeiras partidas e foi substituído por Pelé nas quatro últimas.
 
Dida foi o maior artilheiro da história do Flamengo por quase três décadas, até que apareceu Zico (cujo ídolo era o Dida) na década de 80 e quebrou todas as marcas do alagoano.
 
Dida, o homem que gostava de fazer três gols por partida, faleceu em 2002.
 
Por Michel Laurence em 31/1/2012.

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