IMAGENS DO SIÃO
Paulo Emilio de Medeiros
Se há uma imagem que me ficará de Bangkok, como símbolo da graça e da maneira serena com que os tailandeses caminham pela vida, esta será certamente a de uma mocinha com a sandália balançando no pé, na garupa de uma motocicleta-táxi.
Todo dia vejo várias delas. Às vezes de manhã, quando vão para o trabalho, vestindo saia escura justa e blusa branca. Na cultura tailandesa, não há muito toque físico nas pessoas, em público. Então as passageiras das motos não se seguram no motoqueiro - a não ser que sejam sua namorada, esposa ou irmã.
Como geralmente estão de saia, sentam-se de lado, um pé apoiado em algum lugar da moto (não entendo nada de motocicleta) e o outro balançando no ar; com o sapato-sandália a balançar ainda mais, preso apenas nos dedos e quase encostando no chão. E lá vão elas, equilibrando-se nas curvas; bonitas, impassíveis, com uma mão se segurando na moto e com a outra carregando uma bolsa.
E quando as duas mãos estão ocupadas levando algo? Além da bolsa, talvez uma sombrinha, ou papéis. Não é problema para essas tailandesas hábeis: vão se equilibrando, calmas, aparentemente sem receio de cair. E eu, seguindo-as em meu carro, sou afastado de meus aborrecimentos por esse pequeno milagre de graciosa sobrevivência urbana.
Esta é uma imagem que neste momento me toca. Há outras, igualmente admiradas, que se tornaram um pouco mais óbvias, pois podem ser identificadas assim que um turista estrangeiro chega ao país. Mas, para quem me lê do Brasil, aqui vão.
Os sorrisos. A Tailândia é conhecida como a "terra dos sorrisos". E com muita razão. Aqui se sorri por tudo e para tudo, e isso torna nossa vida mais fácil. Não importa que o sorriso seja muitas vezes fruto do treinamento e do hábito desde criança, um modo de ser/fazer ligado à cultura do país: é muito melhor dar com um sorriso do que com uma cara amarrada. O sorriso pode significar uma infinidade de coisas: amizade, afeto, um cumprimento, uma despedida, obrigado, por favor, um pedido de desculpas.
Uma vez, na fila do caixa em uma padaria, eu carregava uma bandeja com dois pãezinhos de sal. Ao entregar a compra para a moça do caixa, aconteceu um desencontro e um dos pãezinhos foi ao chão. A funcionária foi imediatamente buscar outro. Virei-me para trás, acompanhando, mudo, o seu deslocamento, sem poder lhe dizer - pois não falo tailandês - que na prateleira não havia mais daquele pão. E aí dei de cara com o rapaz depois de mim na fila, que me olhava e tinha um largo sorriso - quase ria! - diante da situação Meu primeiro impulso foi fechar a cara. Mas me lembrei, em tempo, de algo que havia lido: em momentos como esse, o sorriso de quem está à sua volta é uma forma de se solidarizar com você, de amenizar a contrariedade e lhe dizer:
- Não leve a sério, não tem importância. (Mai pen rai, pra quem leu minha primeira crônica...) Vou sentir falta dos sorrisos, quando for embora do Sião.
Mais uma imagem: a de cabelos negros, longos, fortes, lisos e sedosos, por toda parte. Até hoje, quando entro em um elevador cheio de moças tailandesas com esses cabelos tão bonitos, tenho a impressão de que estou dentro de um anúncio de xampu.
O fascínio de um país chamado Tailândia...
Deixo essas imagens com vocês, e até a próxima.
Mais uma vez uma profusão de imagens maravilhosas, Que olho vc. tem para ver a vida heim ? Se antes eu queria só ler sobre esse lugar tão interessante agora estou convencida de que devo incluir Bangkok no meu roteiro de lugares para conhecer logo, breve, já, esse ano... E pensar que eu nunca tinha realmente pensado nisso.
ResponderExcluirPois é... Seu comentário me faz pensar que a gente ver o que quer ver. Pode focalizar as coisas ruins, como pode focalizar as boas, divertidas, originais. A escolha é livre. E a vida, curta. Que tipo de imagens a gente vai querer acumular?
ResponderExcluirPosso te dizer que ainda não conheci brasileiro que não tenha gostado da Tailândia. Mas é bom ter cuidado com a expectativa: ela pode estragar muitas experiências que, de outra forma, seriam até boas. Valeu!
Paulo Emílio, me transporto para Bangkok ao ler suas crônicas. Você descreve com tal perfeição cada detalhe. Dá para enxergar, sentir aromas e sabores!!! Muito legal!
ResponderExcluirMuito obrigado, Vera!
ResponderExcluirSeu comentário me leva a pensar que palavras são como notas musicais, podem transmitir idéias complexas - às vezes melhor que uma fotografia. Assim, aquela frase "uma foto vale mais que mil palavras" não é válida sempre. (Será que às vezes uma palavra vale mais que mil fotos?...)