terça-feira, 29 de setembro de 2009

CRÔNICAS TAILANDESAS - 10


AINDA TAILÂNDIA

Paulo Emilio de Medeiros

Me deu vontade, nesta crônica, de fazer uma misturada.
E assim refletirei um aspecto da vida em Bangkok.
Pois a capital tailandesa é cidade onde convivem templos dourados e estátuas do Buda com moderníssimos arranha-céus de arquitetura arrojada. Muitas ruas estreitas sem passeio e largas avenidas com canteiros de flores. Moderníssimos shopping centers e quarteirões inteiros de pequenos prédios com lojas simples no andar térreo e apartamentos também simples em cima. Numa mesma rua, encontram-se lado a lado mansões, casinhas muito simples e prédios de apartamentos.

Esta última característica faz de Bangkok uma cidade mais humana que algumas metrópoles brasileiras. Como a cidade no Brasil onde cresci, onde havia, na mesma rua de um quarteirão, várias casas de classe média, umas duas casas mais pobres e uma casa moderna, com piscina, do rico da rua. Isso mistura as classes sociais e cria um elemento de solidariedade.

Na Tailândia, aliás, a caridade é um hábito importante. O ato de fazer caridade não apenas permite ganhar mérito para vidas futuras, como também possibilita ao doador dar uma demonstração de seu status social (alguém que pode doar, e doa) — além de exprimir genuína compaixão pelo próximo. Tenho um amigo tailandês que não gosta muito de celebrar o próprio aniversário; prefere, como já fez algumas vezes, ir nesse dia a um orfanato e dar comida e brinquedos para as crianças.

O povo tailandês pode ser extremamente gentil (aqui é a "terra dos sorrisos", conforme comentei em crônica anterior). Mas os tailandeses são seres humanos: têm também seus dias de aborrecimentos ou preocupações, e há quem seja normalmente azedo, como em qualquer país. No trânsito, encontra-se desde o motorista que acelera quando você dá seta para indicar mudança de faixa, bloqueando assim a sua tentativa, como almas gentis que deixam você, vindo de uma rua secundária, no meio de um engarrafamento às 6 da tarde, entrar com seu carro na avenida. As duas coisas acontecem com freqüência. Uma curiosidade sobre o trânsito: nas ruas secundárias de Bangkok, apesar de todas as regras formais, a preferência, na prática, é do motorista que ocupa o espaço primeiro. Isso torna divertido dirigir... Mas é preciso cuidado.

Há aqui algo que eu não via desde quando era menino, no Brasil: sombrinhas usadas pelas mulheres como proteção contra o sol, As pessoas não querem ficar queimadas de sol. Nas praias, os turistas ocidentais e os tailandeses quase não se cruzam. Os turistas chegam na areia lá pras 11 da manhã e ficam até 3 ou 4 da tarde. Os tailandeses vão cedo, antes das 10, e voltam a partir das 5 da tarde.
Um pulo ao Laos, país vizinho: lá, vi homens usando sombrinha ao meio-dia, sem nem um pingo de chuva no ar. O sol era tão forte que eu mesmo teria querido uma sombrinha. E os monges de sombrinha? Para belas imagens, sugiro uma pesquisa na internet com as palavras "Luang Prabang" (antiga capital real do Laos), "monks" e "umbrella". O Laos, aliás, é uma pérola.

Voltando à Tailândia, encerro hoje com mais uma manifestação da flexibilidade tailandesa: se alguém não me paga um empréstimo que fiz a ele, mai pen rai (não tem importância); vai ver que, em uma vida passada, eu não paguei um empréstimo a ele.
Ter uma perspectiva de várias vidas muda o modo de ser...

Um comentário:

  1. Paulo Emílio, interessante a disposição das casas em Bangkok.
    No Brasil geralmente as classes sociais se distribuem por bairros. Na minha rua tem de tudo um pouco: casas de classe média, casas simples, casonas ocupando 3 lotes. Seria uma rua tailandesa?...rssssss

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