segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CRÔNICAS TAILANDESAS - 7

O MUNDO INTERIOR

Paulo Emilio Medeiros


Nesta série de crônicas, já abordei sorrisos, cores ("O Reino das Cores") e movimentos (o balanço do pé de passageiras de moto-táxis em Bangkok, o ondular de cabelos sedosos dignos de figurarem em anúncios de xampu e o tec-tec de pinças de caranguejos).

É hora de focalizar um pouco mais as qualidades interiores dos tailandeses. Não que eu seja uma autoridade sobre o assunto. O estrangeiro aqui volta e meia tem a sensação de que não entende os códigos que explicam a realidade local. E fica meio perdido... Mas uma das propostas destas "Crônicas" é transmitir as sensações que tem um estrangeiro vivendo na Tailândia, mesmo sem ser uma autoridade na cultura local.

O budismo tem muito a ver com a vida interior - e exterior - dos tailandeses. A começar pelo caminho do meio. O tailandês tende a evitar os extremos e buscar o caminho do meio.

Isso se aplica, por exemplo, a evitar os excessos de emoção. Os tailandeses em geral, se comparados com os brasileiros, externam menos suas emoções. O estrangeiro inicialmente fica intrigado (sobretudo se for latino...), e conclui que ser menos emocional é impossível; portanto, os tailandeses devem estar apenas escondendo suas emoções - ou seja, varrendo-as para debaixo do tapete.

É claro que há emoções que são sentidas e não muito exprimidas pelos tailandeses, em função das sanções culturais. Mas eles genuinamente aprendem desde crianças, com ensinamentos e pelo exemplo, a ter um comportamento que exclui grandes arroubos emocionais.

Aí chega o estrangeiro - e aqui não precisa ser um latino, pode ser um europeu muito acostumado a determinada ordem de coisas - e fica exaltado em público por causa de um assunto qualquer. É visto como desequilibrado, mal-educado e... um estrangeiro.

Mas um dia esse estrangeiro, depois de aqui viver algum tempo, começa simplesmente a gostar desse comportamento tailandês. Ou - quem sabe - começa a fazer meditação e descobre como as emoções são, em sua maior parte, simplesmente reações. Em conseqüência, vem o autoquestionamento: - Quero passar a vida reagindo?

A partir daí, ele(a), assim como os tailandeses, talvez seja capaz de, ao ficar preso em um engarrafamento numa rua inundada, em vez de se irritar, descer do carro e sair, os pés no meio da água, para comprar alguma coisa de comer num carrinho logo ali na calçada. E ainda rir da confusão.

A idéia do caminho do meio está de tal forma entranhada no modo de ser local que um amigo tailandês assim me explicou sua forma de fazer compras:
- Se tenho condições financeiras, evito escolher os produtos mais baratos. Mas também evito os mais caros, mesmo que estejam a meu alcance. Busco o caminho do meio.

O que se vê na Tailândia é uma tradição espiritual muito forte, confrontada diariamente pela maciça exposição ao materialismo e ao consumismo modernos. O tailandês resolve - ou administra - esse conflito como pode, o que freqüentemente resulta em incongruências. Mas a tolerância, importante característica local, aceita as incongruências e a vida vai em frente.
Mai pen rai (não tem importância).

6 comentários:

  1. Valeu,Thiago.
    Estive lá ano passado.É assim mesmo,e sempre sorrindo.
    MV

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  2. Bom saber que você está por aqui, MV!

    Acho que o nosso Paulo Emilio vai acabar abrindo uma agência de turismo. O que tem de gente querendo ir à Tailândia a partir das histórias dele já tá quase justificando o empreendimento...
    Abs,
    Tiago.

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  3. Tiago, adorei seu blog!!!

    Lerei sempre, já adicionei aos blogs que sigo.
    Nunca fui para a Tailândia, estudei os costumes, a cultura é exatamente como descreveu. Parabéns!

    Abraço
    Vera

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  4. Valeu, Vera! Elogio é sempre bom!

    Mas, as Crônicas Tailandesas são do Paulo Emilio - cujo, assim que acordar em Bangkok, certamente vai ficar muito feliz também...

    Abs,
    Tiago.

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  5. Oi Tiago, eu vi só depois o nome dele, foi um lapso visual...:)

    Paulo Emílio, parabéns, adorei suas crônicas!

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