sábado, 21 de maio de 2016

COM UM CERTO ATRASO


Mas, fica o registro do artigo, 'directo' pra variar, do Francisco Louçã em 'Tudo Menos Economia' do Público de Lisboa.


Só um porém quanto à última afirmação "As eleições directas para a presidência são portanto a única solução."

Também acho que eleições possam ser uma solução.
Mas, dado o panorama atual, votar em quem? Quem? QUEM?
Raimundo Nonato!?


17 de Maio de 2016, 08:27
Por
A inauguração da quadrilha

        Uma quadrilha, dizia um jornal norte-americano, se não foi mal citado. Não é para menos. Michel Temer formou o seu governo e está à vista de toda a gente. Peço por isso um pouco de indulgência para o feito: o presidente interino até desconvidou um bispo de uma seita, que tinha sido indigitado, como não poderia deixar de ser, para ministro da ciência, onde poderia promover a defenestração de Darwin. Neste afã de conseguir respeitabilidade em modo de arrependimento pelos primeiros convites, Temer lá constitui então a sua equipe dispensando o dito bispo.
  Mas, ainda assim, a fotografia não ficou nada bem. Só homens num país em que as mulheres são a maioria da população, todos brancos, todos empresários ou gestores (há de tudo, empresários do agro-negócio, empresários da finança e mesmo empresários da religião, que não podiam faltar, outro bispo veio colorir o governo). Mono-étnico, mono-género e mono-social, este é o governo para começar a recomposição do poder da elite brasileira que, malgrado as cedências dos governos anteriores, deu uma lição solene a todos os adversários: nunca se distrai, nunca recua enquanto não tiver o poder todo e com gente de toda a confiança.
  Mas os ministros têm outra característica em comum. Treze são investigados em diversos casos de corrupção e lavagem de dinheiro ou outras tropelias, seis dos quais em fase final do processo; sete estão na lista de pagamentos da Odebrecht. O presidente interino é um dos investigados. Pode-se então perguntar: não era golpe político e saiu este governo? Era combate à corrupção e foi empossado um gabinete de desavindos da investigação judicial? Era tudo democracia e a primeira reunião do ministro da saúde é com uma empresária que quer vender a “cura para a homossexualidade”? Era tudo resposta à crise económica e a primeira medida anunciada é a privatização dos Correios e da Casa da Moeda – a venda a privados da instituição que imprime as notas da moeda soberana do Brasil?
  Já aqui questionei onde estão agora as vozes dos moralistas que asseguravam que tudo isto era justiça e não era jogo político, ou que era combate à corrupção doa a quem doer, fosse “de esquerda ou de direita”. Não creio que valha a pena voltar a perguntar, o silêncio é mesmo a melhor resposta que se pode esperar desses eflúvios de entusiasmos de há tão poucas semanas.
  Há no entanto outra pergunta mais pertinente: isto é governo para dois anos? Muitos comentadores e analistas apontam para a inviabilidade de uma solução que se baseia no poder de um presidente que é quase unanimemente detestado no país (tem menos de 2% de intenções de voto, ou seja, nem os apoiantes do impeachment o suportam). Um governo sem legitimidade, suspeito pela formação golpada, cuja composição é irreconhecível e que vive à margem da justiça não pode ser solução para a crise gravíssima que o golpe palaciano desencadeou no Brasil.
As eleições directas para a presidência são portanto a única solução.

2 comentários:

  1. Sempre a guerra de quem está contra quem quer estar " com amão na grana somente ". Nenhum deles que possa ser apoiado 100%. Bastou ser político para ter culpa no cartório. Contar com quem ? O Governo que saiu ??? e somente limpou cofres, mostrou que a gula pode causar obesidade, principalmente nas dívidas ... não são 150 bilhões mas 4 trilhões. Duvido que alguém dê uma solução. A Venezuela vai bem obrigado !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hmmm... Arrã...
      Então a solução deve ser a antiga "Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos"?

      Excluir