quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CHÁ DE ROSA OU PÃO DE FORMA?

Investigador formado pelo IUB, quase trinta anos de profissão, MBA em Caligrafia, Carimbo e Eletricidade, todo mundo pensa que sou bobo. Mas, isso é disfarce - parte do meu trabalho.
Que andava escasso. Aí, comecei a ver mais televisão e aprendi que sucesso é Colgate Total 12, desodorante Axe, tênis Adidas, conta no Itaú, Honda Civic e mais um monte de coisas.
Já estou com a boca e o suvaco cheirando bem.
O resto fica pra depois.

Tenho leitura também. Paulo Coelho me ensinou que “Pode-se renunciar ao fruto, mas esta renúncia não significa indiferença ao resultado”. Até agora não entendi, mas sinto que é esse o caminho, entende?

Então, resolvi dar uma guinada na minha vida profissional. Chega de maridos traídos e esposas desconfiadas. Agora eu penso grande. Sucesso é a palavra que me guia. Me aguardem Itaú, Honda e Adidas!
De cara, arranjei um trabalho condizente com minha nova postura:
“Seu” Jurandir, dono de um restaurante em Higienópolis, estava achando que o gerente andava esquisito e me contratou para descobrir se ele estava aprontando alguma falcatrua. Coisa chique.

Edinelson, o gerente, quase não saía de casa até a hora de ir para o trabalho. Usando meu charme natural (115 quilos harmoniosamente distribuídos em 1,74m) a faxineira não resistiu e, depois de meia dúzia de cervejas, contou que ele ficava o tempo todo na internet falando num tal de iscáipe.
Mole pra nós. Não entendo picas de internet, computador, essas coisas, mas meu garoto é viciado e grampeou o cara em vinte minutos. Dois dias depois eu estava apresentando o primeiro relatório ao cliente.
-Seguinte, doutor: o Edinelson está metido em coisa grande. Passa o tempo todo conversando na internet e é tudo em código. Pelo que deduzi, ele está desviando mantimentos do seu estoque e provavelmente está envolvido com o tráfico. Tá aqui um trecho grampeado de uma conversa dele com um tal de Jotinha:

E: “-E aí, cara? As folhas já estão no ponto?”
J: “-Quase, quase. Fica calmo.”
E: “-Não dá pra ficar calmo. Você sabe que o cara tá me pressionando. Hoje é segunda e se a gente não entregar até sexta, vai dar a maior merda!”
J: “-Deixa que com o cara eu resolvo. Vou mandar hoje ainda. Você prefere em chá de rosa ou em pão de forma?”
E: “-Melhor em pão de forma. É mais seguro.”
J: “-Tá legal. Não esquece de armar com o Chicão o lance da entrega.”
E: “-Já tá no jeito. Agora é com você. Tô nervoso!”
J: “-Não tem por que. Te ligo mais tarde.”
E: “-Tchau.”

Cinco minutos depois, quando “Seu” Jurandir parou de rir, me explicou que o Jotinha é filho dele, estudante de publicidade, que as “folhas” eram para o cardápio que tinha que estar pronto na sexta-feira, que “cde rosa” é um tal de coreldráu, “pão de forma” é um tal de pê-dê-éfe e o Chicão é o dono da gráfica.
Me olhou com pena mas, como estava feliz, pagou metade do combinado e me mandou passear.

Maridos traídos e esposas desconfiadas: estou de volta!
Paulo Coelho, Itaú, Honda e Adidas: vão todos à merda!

2 comentários:

  1. Rsrsrs
    Haja, gosto do seu humor. Em boas parte das vezes que venho aqui dou boas risadas com sua maneira divertida de ver e falar das coisas.
    beijo,
    Amanda

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  2. Chá De Rosa ou Pão De Forma é realmente muito bom! :)

    Isso para não falar do "iscáipe" e do "coreldráu".

    Mto bom!

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