Segue excelente
artigo do Kiko Nogueira:
O que explica a obsessão patológica brasileira com os
7 a 1 da Alemanha?
Postado em 08 jul 2015
O Brasil inteiro, ao que consta,
está relembrando o primeiro aniversário dos 7 a 1 para a Alemanha na Copa do
Mundo. Relembrando e comemorando.
Jornais e revistas produziram
“especiais” sobre a data, com fotos, piadas (algumas ótimas), causos, análises
etc. Um dia que envergonhou o país, uma desgraça de proporções bíblicas causada
pela gangue de Felipão.
Foi um resultado desastroso para o
futebol, sem dúvida, inédito, uma palhaçada de 90 minutos em que se viu uma
equipe desmoronar em campo. Tomamos um cacete.
Mas tudo isso você já sabe. Qual o
sentido, então, do barulho?
Nenhum, a não ser a velha mania de se
autoflagelar, dando importância transcendental a uma derrota num esporte que,
como outro qualquer, vive de derrotas e de vitórias. Um penitência patológica.
É preciso conferir ao futebol uma dimensão que, na vida real, ele não tem.
A Jovem Pan chama de “eternos” 7 a 1.
Colunistas traçam paralelos com a crise política. “Uma soma de fatores levou ao
7 x 1”, escreveu o acaciano PVC, descobrindo a pólvora. Milhares falam na
“perda da honra”. Testemunhas (!!!) estão sendo ouvidas. Nelson Rodrigues,
pobre Nelson, é evocado novamente, sem direito a defesa.
Vai ser assim pelos próximos séculos,
segundo essa vocação maníaca depressiva.
A goleada alemã será rememorada, daqui
por diante, como o “maracanazo”, quando o Brasil perdeu para o Uruguai na final
de 1950. Alguém já disse que, se todas as pessoas que garantem que estavam
no Maracanã naquela tarde estivessem mesmo ali, a capacidade do estádio teria
de ser de 800 mil lugares. Sim, foi marcante na história desportiva —
mas daí à transformação em catástrofe nacional é uma insanidade.
Depois, conquistamos cinco títulos. O
que costuma ser repisado, porém, é a arrancada de Ghiggia rumo ao gol de
Barbosa e o fictício apocalipse que se seguiu: suicídios, assassinatos com
requintes de crueldade, aumento radical no número de álcoolatras, abortos
espontâneos, enguias rastejando da Baía da Guanabara em direção às
casas.
O que aconteceu quando a Alemanha
aplicou aquela surra no Mineirão? Muita gente ficou triste, chocada ou
revoltada — eventualmente, as três opções.
Os alemães avançaram e conquistaram o título. Fim.
Os alemães avançaram e conquistaram o título. Fim.
Falta transformar o 8 de julho em
feriado nacional. Há quem acredite que essa obsessão seria uma autocrítica
necessária, que levaria, você já ouviu isso, a “salvar nosso futebol”.
Não. É puro auto flagelo. Paradoxalmente, uma auto importância masoquista.
Não. É puro auto flagelo. Paradoxalmente, uma auto importância masoquista.
A situação é tão absurda que a
Alemanha, que por uma lógica reversa deveria estar celebrando a paulada em nós,
passou batido na data. O maior jornal local, o Bild, preferiu falar dos 25 anos
do triunfo no Mundial de 1990.
Como assim?? Provavelmente, eles têm mais o que fazer. Uma sugestão é armar uma missão de senadores para exigir deles que enalteçam, enchendo a cara de cerveja quente durante uma semana, o resultado que os derrotados fazem questão absoluta de imortalizar.
Como assim?? Provavelmente, eles têm mais o que fazer. Uma sugestão é armar uma missão de senadores para exigir deles que enalteçam, enchendo a cara de cerveja quente durante uma semana, o resultado que os derrotados fazem questão absoluta de imortalizar.
Os 7x1 são tão mais inesquecíveis quanto mais assistimos às partidas do atual campeonato brasileiro. Até Walter, com trinta quilos a mais consegue jogar no nível dos demais. O nosso futebol agoniza, e quem nos comanda? De Nero e Gilmar Rinaldi. É duro!
ResponderExcluirVitor Lemos