quinta-feira, 30 de julho de 2015

APESAR (?) DA CRISE


Segue texto do Pablo Villaça:
Eu fico realmente impressionado ao perceber como os colunistas políticos da grande mídia sentem prazer em pintar o país em cores sombrias: tudo está sempre “terrível”, “desesperador”, “desalentador”. Nunca estivemos “tão mal” ou numa crise “tão grande”.
Em primeiro lugar, é preciso perguntar: estes colunistas não viveram os anos 90?! Mas, mesmo que não tenham vivido e realmente acreditem que “crise” é o que o Brasil enfrenta hoje, outra indagação se faz necessária: não lêem as informações que seus próprios jornais publicam, mesmo que escondidas em pequenas notas no meio dos cadernos?
Vejamos: a safra agrícola é recordista, o setor automobilístico tem imensas filas de espera por produtos, os supermercados seguem aumentando lucros, a estimativa de ganhos da Ambev para 2015 é 14,5% maior do que o de 2014, os aeroportos estão lotados e as cidades turísticas têm atraído número colossal de visitantes. Passem diante dos melhores bares e restaurantes de sua cidade no fim de semana e perceberá que seguem lotados.
Aliás, isto é sintomático: quando um país se encontra realmente em crise econômica, as primeiras indústrias que sofrem são as de entretenimento. Sempre. Famílias com o bolso vazio não gastam com supérfluos – e o entretenimento não consegue competir com a necessidade de economizar para gastos em supermercado, escola, saúde, água, luz, etc.
Portanto, é revelador notar, por exemplo, como os cinemas brasileiros estão tendo seu melhor ano desde 2011. Público recorde. “Apesar da crise”. A venda de livros aumentou 7% no primeiro semestre. “Apesar da crise”.
Uma “crise” que, no entanto, não dissuadiu a China de anunciar investimentos de mais de 60 bilhões no mercado brasileiro – porque, claro, os chineses são conhecidos por investir em maus negócios, certo? Foi isto que os tornou uma potência econômica, afinal de contas. Não?
Se banissem a expressão “apesar da crise” do jornalismo brasileiro, a mídia não teria mais o que publicar. Faça uma rápida pesquisa no Google pela expressão “apesar da crise”: quase 400 mil resultados.
Apesar da crise, cenário de investimentos no Brasil é promissor para 2015.”
“Cinemas do país têm maior crescimento em 4 anos apesar da crise
Apesar da crise, organização da Flip soube driblar os contratempos: mesas estiveram sempre lotadas”
Apesar da crise, produção de batatas atrai investimentos em Minas”
Apesar da crise, vendas da Toyota crescem 3% no primeiro semestre”
Apesar da crise, Riachuelo vai inaugurar mais 40 lojas em 2015″
Apesar da crise, fabricantes de máquinas agrícolas estão otimistas para 2015″
Apesar da crise, Rock in Rio conseguiu licenciar 643 produtos – o recorde histórico do festival.”
“Honda tem fila de espera por carros e paga hora extra para produzir mais apesar da crise
“16º Exposerra: Apesar da crise, hotéis estão lotados;”
Apesar da crise, brasileiros pretendem fazer mais viagens internacionais”
Apesar da crise, Piauí registra crescimento na abertura de empresas”

Apesar da crise. Apesar da crise. Apesar da crise.
A crise que nós vivemos no país é a de falta de caráter do jornalismo brasileiro.

Uma coisa é dizer que o país está em situação maravilhosa, pois não está; outra é inventar um caos que não corresponde à realidade. A verdade, como de hábito, reside no meio do caminho: o país enfrenta problemas sérios, mas está longe de viver “em crise”. E certamente teria mais facilidade para evitá-la caso a mídia em peso não insistisse em semear o pânico na mente da população – o que, aí, sim, tem potencial de provocar uma crise real.
Que é, afinal, o que eles querem. Porque nos momentos de verdadeira crise econômica, os mais abastados permanecem confortáveis – no máximo cortam uma viagem extra à Europa. Já da classe média para baixo, as consequências são devastadoras, criando um quadro no qual, em desespero, a população poderá tender a acreditar que a solução será devolver ao poder aqueles mesmos que encabeçaram a verdadeira crise dos anos 90. Uma “crise” neoliberal que sufocou os miseráveis, mas enriqueceu ainda mais os poderosos.
E quando nos damos conta disso, percebemos por que os colunistas políticos insistem tanto em pintar um retrato tão sombrio do país. Porque estão escrevendo as palavras desejadas pelas corporações que os empregam.
Como eu disse, a crise é de caráter. E, infelizmente, este não é vendido nas prateleiras dos supermercados.

11 comentários:

  1. Sem dúvida que a crise é principalmente de CARÁTER !!!
    Esses assaltantes da pátria, vestidos em uma bandeira bolivariana de merda, continuam arrumando desculpas e belos textos, para tentar justificar toda a incompetência dos caciques petralhas.

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  2. Os chineses estão investindo aqui porque sabem que PIOR não vai ficar!!!
    E vão investir mais ainda porque estão recebendo esse doce dos Petralhas, que nada mais é do que continuação da entrega de nossos recursos e patrimônio. No entanto, prá quem está na MERDA, que venha a grana chinesa!
    Vamos lá, Tiago Cruz, nunca te imaginei nesta face da moeda!!!!

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    1. Prezado anônimo,
      pra começar, devo informar que não estou participando desse ridículo flaXflu entre petralhas e tucanalhas.
      Estou, sim, cada dia mais impressionado com a descarada parcialidade da chamada 'grande' mídia.
      Quanto a partidos políticos, minha opinião é que nenhum deles vale nada. E digo isso com grande tristeza ao constatar que a frase atribuída ao Delfin Netto estava correta: "É preciso que o PT chegue logo ao poder para eles ficarem iguais a nós..."
      Sempre votei no Lula e, por falta de opção, na Dilma.
      E caso o prezado anônimo seja de Minas, creio que vai concordar que Aécio nunca foi opção para nada.

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    2. Não me identifiquei como tucanalha e não estou procurando opções. Não participo de comparações entre quem roubou mais ou menos, porque isso é igual a dar o cú: se deu uma ou duas vezes é tão viado quanto quem morreu dando.
      É evidente que os atuais escândalos batem recordes de pouca vergonha e imoralidade.
      Delfim Netto nunca me entrou na goela, gordo como é, mas sua frase não se referia a desonestidade e sim a ``telhado de vidro``.
      Admiro sua humildade de se confessar eleitor de Lula e Dilma.
      Mas acredito que você, inteligente como eu sempre o reputei, não pode se ter tornado menos e já deve ter-se arrependido, mesmo não vendo pela frente nova opção.
      Gosto muito de você, amigo de grandes goles, flamenguista dos velhos tempos, e sendo assim não há mais motivos de eu estar anônimo. Abraço, Luiz Celso.

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    3. Grande Luiz Celso!
      • Pra quem não participa de comparações, a do cu é perfeita!
      • "Recordes estão aí para serem quebrados" (Boa essa pra botar nos fêicibúquis da vida). Mas o que me espanta é ver FHC posando de virgo intacta depois de comprar reeleição, Aecim sem explicar nada sobre aeroportos, helicópteros, etc, sob o atordoante silêncio das redigrôbo da vida.
      • Acho que desonestidade é premissa de telhado de vidro.
      • Não considero "humildade" e muito me espanta o me "confessar eleitor". Pra você ver em que pé andam as coisas: você, ao usar essa expressão, me classifica como cúmplice de tudo o que você acha podre no governo. Porque, pra mim, quem "confessa" é cúmplice. (Vou negociar dela$$ão premiada!)
      • Arrependido, não estou não. Decepcionado, é claro! E triste pela certeza que não vou viver para ver um debate político com gente que honre o cargo. O que faz lembrar essa ótima: Projeto de Constituição atribuído a Capistrano de Abreu: Art. 1º - Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. Parágrafo único: Revogam-se as disposições em contrário.
      • E, finalizando por enquanto, vamos às importâncias: mesmo com Paolo Guerrero, Éderson, etc, continuamos sem ter como fazer a bola chegar neles com um mínimo de criatividade. Tá feia a coisa...!
      Abração.

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  3. Prezadíssimo Tiago, das inesquecíveis férias em Cabo Frio, entre outros muitos eventos juntos!
    Não usei o verbo ``confessar`` no transitivo direto e sim no reflexivo, o que ameniza muito minha consideração. Em todo caso, desculpe-me pois estaria melhor escrever ``manifestar-se``.
    Em final de 2001, quando o Lula já estava irremediavelmente eleito, amigos de SP que nele votavam me perguntaram o que eu esperava, ao que respondi (e não me esqueço nunca) : Nunca comunguei com ideologias de esquerda, mas com todo o respeito que tenho (tinha) pelo PT que é um partido sério e coerente (!!!!), espero que o Lula possa reduzir em pelo menos 15% a corrupção do País.
    Pra você ver qual a avaliação que eu tinha do governo que estava saindo!!!
    No entanto, hoje concedo bons pontos ao FHC, pelo motivo de ser o único presidente, fora os milicos do período de exceção, que não se arvorou em retornar aos quadros políticos eletivos, quer como deputado, senador ou governador, nem mesmo como ministro de qualquer pasta. Para mim, isso pesa muito. Como virgo intacta ainda vai bem em meio a tantas putanas travestidas de santas.
    Finalmente, Capistrano de Abreu deveria ter aditado : ``.. e a quem não tiver vergonha na cara..... TIRO na cara!``.
    Grande abraço e só Deus sabe quando poderemos tornar a nos ver, coisa que muito nos aprazeria, tenho certeza.

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    1. "...Mas com todo o respeito que tenho (tinha) pelo PT que é um partido sério e coerente..."
      É isso que machuca! Ficou tudo no passado.

      Quanto a um possível encontro, pelo que sei você também está na praia. Mas, como as daqui têm águas mais convidativas, fica a sugestão: tendo tempo, vem pra JP!
      Abraços.

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    2. Ok, Tiago.Obrigado, grande abraço.

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  4. "Apesar da crise", confesso que estaria mais pelo pensar do An0nimo Luiz Celso...embora meio dividido, rsrsrsr.
    Mas fico muito feliz que divergencias e pontos de vista diferentes conseguem ser "discutidos" numa boa e sem rancores ou dores maiores.
    E. "apesar da crise", também acredito que o Pais poderia estar bem melhor...seja lá o que isso possa querer dizer.
    Abração, grande Tiago.
    ps: vc está em JP(João Pessoa)?
    abs
    f.

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    1. A "discussão numa boa" faz parte dos imensuráveis ganhos proporcionados pelas amizades de longos anos.

      Pô, Fernandão! Estou em JP desde outubro do ano passado.
      (Você anda sumidão mesmo!)
      Abração.

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