Segue
mais um excelente artigo de Bagão Félix - que pontifica no Público de Lisboa.
Passado, presente e
futuro
Há anos, escrevi um
pequeno texto sobre a hegemonia do presentismo. Volto ao tema que, para mim,
persiste ainda que agora numa versão mais “ousada” que designaria como a
supremacia do futuro-do-dia-seguinte.
Entre o passado
ignorado e o futuro descartado decretou-se a primazia do presente. Entre a
memória e a utopia programou-se a aparência. Entre o que já foi e o que ainda
não se sabe se vai ser inventou-se o estar.
Na Antiguidade, o
presente era medido como um roubo de tempo jamais recuperável. A clepsidra,
primeiro relógio de água, ilustrava esta ideia do instantâneo. Na sua
etimologia, clepsidra significa precisamente roubo de água, uma espécie
clássica de cleptomania do tempo!
O presente confunde-se
com a actualidade feita por notícias alinhadas na imprecisão de um passado
recente de segundos, minutos, horas e até dias ou naquele futuro fugaz e
imediato de pequenas partículas do tempo.
É do presente que se
anda prenhe. Às vezes, do presente envenenado. Quanto ao passado, oscila-se
entre a memória curta e a ignorância petulante. Dizia Torga: “Os governantes
não querem saber da História. Para eles tudo começa na hora em que assumem o
poder. E o poder sem memória sempre foi arbitrário”.
E do verdadeiro e
desafiante futuro anda-se ausente ou doente. Assim, não se vai longe…
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