quarta-feira, 15 de abril de 2015

DÁ-LHE BAGÃO!

Segue mais um excelente artigo de Bagão Félix - que pontifica no Público de Lisboa.

Passado, presente e futuro

Há anos, escrevi um pequeno texto sobre a hegemonia do presentismo. Volto ao tema que, para mim, persiste ainda que agora numa versão mais “ousada” que designaria como a supremacia do futuro-do-dia-seguinte.

Entre o passado ignorado e o futuro descartado decretou-se a primazia do presente. Entre a memória e a utopia programou-se a aparência. Entre o que já foi e o que ainda não se sabe se vai ser inventou-se o estar.

Na Antiguidade, o presente era medido como um roubo de tempo jamais recuperável. A clepsidra, primeiro relógio de água, ilustrava esta ideia do instantâneo. Na sua etimologia, clepsidra significa precisamente roubo de água, uma espécie clássica de cleptomania do tempo!

O presente confunde-se com a actualidade feita por notícias alinhadas na imprecisão de um passado recente de segundos, minutos, horas e até dias ou naquele futuro fugaz e imediato de pequenas partículas do tempo.

É do presente que se anda prenhe. Às vezes, do presente envenenado. Quanto ao passado, oscila-se entre a memória curta e a ignorância petulante. Dizia Torga: “Os governantes não querem saber da História. Para eles tudo começa na hora em que assumem o poder. E o poder sem memória sempre foi arbitrário”.
E do verdadeiro e desafiante futuro anda-se ausente ou doente. Assim, não se vai longe…

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