sexta-feira, 1 de maio de 2015

BOM É MARÉ BAIXA


Literalmente.
Porque a maré baixa proporciona um assoalho plano de areia com o mar se espalhando mansamente.
Então, sou fã e vigia de maré baixa.
A de hoje foi cedo mas, às 9h15, lá estava o locutor que vos fala.

Nessa hora a praia é outra.
Cheia de menino pequeno, de famílias saudáveis e de jovens, muito jovens casais de namorados sarrando na água ou praticando esportes praianos - principalmente frescobol e futebol (sim, as meninas andam batendo um bolão em todos os sentidos).

Numa dessas cenas, um casalzinho tentando jogar frescobol me chamou a atenção. Ambos sérios, o carinha mandava a bola e a menina, quando conseguia rebater, devolvia a bolinha longe.
Ele, com uma expressão resignada, buscava a bola e tentava de novo. E de novo. E foi ficando de saco cheio. E fazendo cara feia.
E ela, segurando a raquete como se fosse de pingue pongue, nem aí. Ele se encheu de vez e melou a coisa. Ela nem ligou.

Ficou claro que ambos estavam fazendo por fazer. O que me gerou profundas reflexões (porque intelectual não pensa - reflete):
1. Por que ele nem tentou ensinar o básico à criaturinha?
2. Se ele já sabia que ela não levava jeito, por que insistir?
3. Por que, apesar da claríssima atitude denunciadora de que nenhum dos dois queria estar jogando, mesmo assim continuaram por um bom tempo?

Resposta única: porque os dois já estão trilhando o caminho comum à grande parte dos casais. "Vamos levando porque é assim mesmo..."

Conclusão: Tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Ô vidinha besta!

2 comentários:

  1. Mais um texto seu que me deixa sabor semelhante ao de uma crônica do Carlos Drummond de Andrade, ou do Rubem Braga nos seus melhores tempos. Muito bom para começar um domingo, Tiago!

    (veja a segunda crônica - "As boas coisas da vida" - do Rubem Braga neste link: http://pensador.uol.com.br/cronicas_de_rubem_braga/ )

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    1. Pra você ver, Rubem Braga escreveu 'As Boas Coisas da Vida' em 1988.
      Lá no meio tem um trecho -
      "Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito e ser aplaudido pelos serventes de pedreiro."
      - que é exatamente pelo que passei um tempo atrás
      (A [des]importância de um toque).
      Mais do que alegria de ter vivido algo em comum com o cidadão, é a constatação que, no fundo, bem lá no fundo, a humanidade é uma só. Ou deveria ser.

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