domingo, 10 de maio de 2015

PARA ARRUMAR O MUNDO

Dom Lucas Moreira Neves (São João Del Rey, 1925 / Roma, 2002), pra mim era o Frei Lucas - amigo de meus pais e de quem fui coroinha na Igreja do Leme. Gente boa, sempre bem humorado, um mineiro tranquilão.

Fazendo jus à terra natal, era também um tremendo político (no bom sentido da palavra)
e foi longe na carreira.
Se alguém tiver curiosidade, (coisa que duvido muito), esse link conta um pouco da história: http://www.memorialdomlucas.org.br/

Segue um ótimo artigo dele publicado no Jornal do Brasil em janeiro de 1997:

“Não boto a mão no fogo pela autenticidade da história que estou para contar. Não posso, porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei e, por isso, tenho-a como verdadeira.
Salva-me, de qualquer modo, o provérbio italiano: 'Se não é verdadeira… é muito graciosa!'

Estava, pois, aquele pai carioca, engenheiro de profissão, posto em sossego, admitido que, para um engenheiro, é sossego andar mergulhado em cálculos de estrutura.
Ao lado, o filho, de 7 ou 8 anos, não cessava de atormentá-lo com perguntas de todo jaez, tentando conquistar um companheiro de lazer.
A ideia mais luminosa que ocorreu ao pai, depois de dez a quinze convites a ficar quieto e a deixá-lo trabalhar, foi a de pôr nas mãos do moleque um belo quebra-cabeça trazido da última viagem à Europa. 'Vá brincando enquanto eu termino esta conta', sentencia entre dentes, prelibando pelo menos uma hora, hora e meia de trégua.
O peralta não levará menos do que isso para armar o mapa do mundo com os cinco continentes, arquipélagos, mares e oceanos, comemora o pai-engenheiro.

Quem foi que disse hora e meia?
Dez minutos depois, dez minutos cravados, e o menino já o puxava triunfante: 'Pai, vem ver!' No chão, completinho, sem defeito, o mapa do mundo.
Como fez, como não fez? Em menos de uma hora era impossível.
O próprio herói deu a chave da proeza: 'Pai, você não percebeu que, atrás do mundo, o quebra-cabeça tinha um homem? Era mais fácil. E quando eu arrumei o homem, o mundo ficou arrumado!'"

“Mas esse garoto é um sábio!”, sobressaltei, ouvindo a palavra final. Nunca ouvi verdade tão cristalina: "Basta arrumar o homem (tão desarrumado quase sempre) e o mundo fica arrumado!".

Arrumar o homem é a tarefa das tarefas, se é que se quer arrumar o mundo.”

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