sábado, 3 de outubro de 2009

VIA CRUCIS


01:30h > Sua mulher já foi dormir, acabou o filme, você desliga a televisão e esdâ dôdo endubîdo. A coriza é digna de história em quadrinhos, os espirros são comparáveis a gritos primais, mas dûdo bêm. Você tomou todos os remédios e vitaminas e isso é sinal que a coisa já deve estar indo embora.

02:05h > Seu dâriz é um chafariz. Não fosse a providencial toalhinha na guarda da cama, você estaria se afogando. O sono é intermitente mas você sabe que é assim mesmo. A noite será longa.

03:17h > Ventos polares invadem sua casa e, mais precisamente, sua cama. Como ela consegue dormir sem cobertor? Essa mulher deve ter algum problema. Aliás, problema tem você. Tiritando tanto que ela acorda com o sacolejo da cama, você consegue balbuciar:
-“Âcho gui dô gum fêbre!” A santa criatura levanta, providencia um anti-térmico, te cobre, faz carinhos maternais e dorme. Você também, se é que se pode chamar de dormir esse período entrecortado de pesadelos agoniantes e recorrentes.

04:02h > Você sua como um cavalo de corrida, tenta chutar os cobertores mas seu corpo dói tanto que você só consegue se balançar e gemer. A santinha acorda, põe a mão em sua testa e declara com experiência de tetra mãe: - “A febre já passou.”
Ótimo. Parece ter sido uma boa briga essa do seu corpo contra a infecção. Resta saber quem ganhou.

05:46h > Totalmente desperto, olhando para o teto, você confirma toda a inutilidade de sua vida. Nada vale a pena, por que estamos neste planeta, essa luta toda, pra que? Claro que essa doença é um castigo divino pela sua irresponsabilidade! Definitivamente, culpa católica e gripe, foram feitos um para o outro. Num último esforço para levantar a moral, você pensa: -“Bom, pelo menos não estou tossindo.” Funciona como um tiro de partida: borrrúm, borRRÚÚM, BORRRÚÚÚM!!! A santa acorda mais uma vez, pondera sobre as alegrias do matrimônio e te informa que estamos em falta de xarope. Seu dâriz jorra como um emissário submarino e ocorre uma estranha transformação em sua boca: onde havia uma língua, agora você porta uma pedra rugosa originária do mais árido deserto africano. A santa deixou um copo d’água na sua cabeceira, você alcança a umidade e, finalmente, dorme.

08:49h > Você acorda se sentindo menos mal, toma um café e, tentando ser animadinho, pergunta:
- “O que nós vamos fazer hoje?”
- “Nós vamos ficar quietinhos cuidando dessa gripe. Vou fazer uma canja, comprar um xarope e mais vitamina C que acabou.”
- “Mas hoje é sáb...”
- “Esquece...”
- “Simsinhora.”

08:50h > Uma olhada pela janela te fornece uma tênue compensação: está chovendo.

Um comentário:

  1. Buda guiu bâriu. Vicar gribâdo, gôm o dâris indubido e ôda!!! DuduGouvea

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