terça-feira, 6 de outubro de 2009

CRÔNICAS TAILANDESAS - última (!?)


CRÔNICA NÃO TAILANDESA
Paulo Emilio de Medeiros


De minha janela vejo um terreno baldio. No meio de um monte de prédios e do asfalto, ele é superverde, em razão da quantidade de chuvas em Bangkok. É um espetáculo, esse verde tão forte.

Aí começo a viajar. Mas não no espaço: no tempo. Tempo em que a Europa era cheia de florestas. (Lembram-se das histórias de Robin Hood na floresta?) Muito antes de eles começarem a reclamar que cortamos nossas florestas, eles cortaram as deles. Pena.

Mas tudo muda. Não é à toa que um dos ensinamentos fundamentais do budismo é a impermanência das coisas. Cabe à gente não se apegar e se adaptar.

Todos aqueles reis e imperadores que tanto batalharam por poder, na antiguidade e na Idade Média, e suas versões mais modernas, viraram pó. Junto com seus reinos e impérios. Hitler, Napoleão, Alexandre, Júlio César são hoje menos importantes que o varredor de rua ali na esquina. Este, sim, é importante, porque está vivo e tem um destino a cumprir. Os outros? Sumiram.

Muita gente - inclusive eu - gosta de ver as ruínas desses impérios: as pirâmides, Machu Picchu, o Coliseu, a Grande Muralha da China, Angkor Vat. Mas não são mais do que pálidas imagens do que foram em seu tempo, quando faziam parte da vida de tantas pessoas - assim como, hoje, igrejas, teatros e estádios da cidade onde você vive fazem parte da sua vida.

Quando se focaliza o tempo, o tema pode ficar fascinante. Pense, por exemplo, no inconsciente coletivo, de que falava Jung. Será que ele existe mesmo, ou nós nos lembramos de coisas que aconteceram em passados distantes, e temos memórias comuns, porque estávamos lá?

Se reencarnação existe, o que volta a cada vez é... o que? Quem? Será esse o verdadeiro você - e não o pequeno você que normalmente recebe esse rótulo?

Alma, história, religião. Questões fundamentais.

Da minha janela, olho de novo para o terreno baldio. O sol já se pôs, e agora, em vez do intenso verde da vegetação, vejo os letreiros luminosos no alto dos prédios. Daqui a cem anos, quanto disto estará de pé? E será essa impermanência motivo para tristeza, ou haverá uma permanência por trás dela? Ah!...

Encerro aqui esta série de crônicas, com um muito obrigado aos que me acompanharam.

Valeu, Tiago!!

E daqui a 150 anos, ninguém se lembrará
Da tua primeira ruga, de nossas más escolhas [...]
Deste mundo que cresce, deste mundo que grita,
Do tempo que avança, da melancolia [...]
Então sorria. [...]
E daqui a 150 anos, ninguém mais pensará
No que amamos, no que perdemos [...]
Então sorria.

Et dans 150 ans, on s'en souviendra pás
De ta première ride, de nos mauvais choix [...]
De ce monde qui pousse, de ce monde qui crie,
Du temps qui avance, de la mélancolie [...]
Alors souris.
Et dans 150 ans, on n'y pensera même plus
A ce qu'on a aimé, à ce qu'on a perdu [...]
Alors souris.
E daqui a 150 anos (Et dans 150 ans) - Raphaël Haroche

8 comentários:

  1. Eu e os milhares e milhares de leitores é que agradecemos.
    Some não, cidadão!
    Grande Abraço.

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  2. Ahhhhhhhhhh Paulo Emílio, por que vai parar??????
    Você escreve tão bem, arranja outro tema se for o caso. Não pára não...snif snif

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  3. Vera, esse feedback seu é muito importante para mim. É preciso ser dito que, com o tema Tailândia nas mãos, fica mais fácil escrever.
    Mas tenho um projeto de livro que quero retomar, e a cada vez que escrevo sobre outro assunto, parece que fica algo faltando...
    Obrigado pelo apoio, e sucesso com seu blog.

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  4. Paulo Emílio, entendo, a Tailândia é o seu foco e fonte inspiradora.
    Então continua, busque outros aspectos do local, quer sugestões? Gastronomia, o comércio de rua, educação formal (colégios), como é a política aí, comportamentos que um estrangeiro previsa ter qdo vai a casa de um Tailandês.

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  5. Vera, na verdade eu quero e tenho necessidade de escrever é sobre outro assunto, que é o foco de meu outro projeto...

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  6. Paulo Emilio, as crônicas são mesmo um sucesso. Sua leitura parece atrelada com serenidade. A gente entra numa outra sintonia: de leveza, maior capacidade de observação,sensibilidade mais aguçada. Espero que o livro traga também essas e outras sensações. Parabéns e até breve.
    João Senra de Vilhena

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