Fatos
observados:
Um
casal djóvem chega na praia com as
duas filhinhas pequenas.
Elas vão direto pro mar que, em maré baixa, se
esparrama mansamente pela areia.
Os
dois ficam sentados juntinhos e começam a trocar safanões amorosos.
Ele esconde
alguma coisa, ela se estica pra pegar, se engalfinham, se sarram e seguem bem
humorados.
Até
que algo acontece e ela levanta, puxa a toalha e joga na cara dele. Ele
joga de volta.
Ela
joga areia e ele levanta. É uma cabeça maior do que ela.
Avança e grita com
ela. Ela negaceia, joga mais areia e sai de lado.
Ele
vai pra água, pega a menor no colo, dá a mão para a maior e vão pular ondas.
Ela,
na areia, continua jogando areia para o vento.
Ele
sai da água com as meninas, tenta conversar e é rechaçado.
Levantam
acampamento. Param no limite da praia com a mureta e o cidadão pula
acrobaticamente para cima, limpa a areia dos pés e, fazendo pose de macho alfa, aguarda a mãe das crianças
finalizar os preparativos da saída.
Ela
prolonga interminavelmente as arrumações dos cachos das crias, das blusinhas,
ele, muito puto, pula de volta e cobra ação.
Ela,
nem aí. Ele argumenta - mãos nas costas e pescoço esticado - ela retruca
atirando mais coisas longe.
Ele
volta para a mureta em outro salto acrobático. Ela e as filhas dão a volta,
sobem as escadinhas e sentam todos lado a lado - mãe, filhas e pai.
Ele
segue argumentando, ela segue ignorando, as meninas brincam ao redor e ele
compra um côco.
Ela
recusa e as filhas aceitam. Ele compra outro para si mesmo.
Mais
argumentos, mais negativas.
Ele, num gesto que poderia ser de revolta, atira o
côco no chão.
Mas, foi só pra abrir. Compartilha o miolo com as filhas e segue
argumentando. E sendo ignorado.
Já
são looongos 55 minutos (cravados)
nessa inconha.
Por
mais que eu tente ser um observador do cotidiano alheio, meu saco estoura. Vou
em busca de uma cerveja, vejo que tenho mensagens no computador, leio, respondo
e lembro da palpitante novela que se desenrolava na minha janela.
Corro
de volta e...
Lá
está a família feliz (?) atravessando a avenida em direção ao carro.
Aí,
é contigo imaginativo leitor: considerando que só temos acesso às imagens e à
nossa imaginação sobre o que foi dito, qual a sua conclusão?
•
Foi uma briguinha 'perda de tempo' ou um ganho na relação familiar?
•
Foi uma produtiva DBR (Discussão Básica da Relação) ou uma cagada geral?
•
E as meninas? Já estão acostumadas ou começam a colecionar memórias e ensinamentos (?) sobre o
supremo amor familiar?
•
NRA
Cartas para a redação.