CLASSE MÉDIA SOFRE.

Recebeu mais um desses muitos milhares de e-mails que não interessam e, por alguma razão obscura, abriu.

Deparou-se com uma foto salivante de uma picanha acompanhada da fantástica promoção: 40% de desconto num restaurante pseudo-chique do momento.

Basta chegar lá, apresentar a fatura da Net e pronto: ele será automaticamente transportado à indescritíveis delícias culinárias pagando só um pouco mais da metade do preço salgado. -Até que enfim uma promoção legal! (Disse para si mesmo o desavisado.)

Aí, cheio de charme, propõe à amada um jantar caprichado num ambiente zona sul. Chegando lá, ele entrega (com ar blasé) o carro para o manobrista, adentram o recinto, ocupam uma mesa bem colocada e, sacando do bolso a amarfanhada fatura da Net, ele olha pro garçom em busca da confirmação:

-Tá valendo a promoção, né?

-Claro, meu senhor. Por favor, só vou levar ao caixa para validar...

Ele evita o olhar (um tanto surpreso) da amada e segue em frente:

-Vamos tomar um vinhozinho?

Antes que ela possa responder está de volta o garçom:

-Desculpe senhor, mas a fatura deve estar quitada.

-Mas é claro que está quitada! Não está vendo aí anotado o número do comprovante do pagamento?

-Sim, senhor. Mas, é preciso que seja autenticação mecânica.

-Mas, meu amigo... Eu pago pela internet...

-Sinto muito, senhor. Vão querer couvert?

Das mesas ao lado emanam sorrisos mal disfarçados. Ele, fazendo cara de paisagem, reza por um terremoto que abra a falha de Santo André sob seus pés. O que, infelizmente, não acontece.
Recusa o couvert, pede o vinho e luta pela sobrevivência:

-Que incompetência desses caras, nunca vi...

Ela, tão ou mais envergonhada, é condescendente:

-Bobagem, querido! Não faz tanta diferença, né?

É. A diferença no bolso machuca, mas não é fatal.

Fatais são algumas certezas que ficam - cristalinas - na cabeça dele:

1. Não tenho coragem de voltar nesse restaurante.

2. Amanhã vou trocar para a Sky e nunca mais abro e-mail desse povo.