segunda-feira, 28 de maio de 2012

CANALVA

Como falei anteontem, estava lendo o Canalva – romance do Fernando Fabbrini. Ocorre que o livro é muito bom, mesmo!
Aí, segue essa troca de e-mails que tem a missão de instigar vocês ao prazeroso investimento em cultura. (Olhaí que otimismo!)


Fabbrini,
"First of all", como diria Lady Florence, quero te agradecer pelas horas de alegria e desafios que só histórias tão espetacularmente bem contadas produzem na gente.
E, caso você tenha paciência, gostaria de conversar sobre:


Prezado Tiagão
Primeiro lugar, a alegria de você ter se divertido em território canalviano não tem preço - nem Mastercard existia naquela época. Bem, vamos aos itens.


1. Você falou, em alguma entrevista que eu li, sobre o fato dos personagens te fazerem companhia no "exílio" de Aracaju, se não me engano. Aí, vem a primeira grande curiosidade: o que surgiu primeiro, a ideia geral ou os personagens ou tudo junto ou...?


2. Como comecei a ler ontem à tarde e acabei de fechar o livro, tudo ainda está meio fervilhante na minha cabeça e pode ser que eu mude de ideia amanhã. Mas, minha impressão é que você pretendia uma "sátira brasiliana" e, ainda bem, acabou se envolvendo com a Ilha Doce de maneira irremediável. Claro, todos os deliciosos paralelos sobreviveram... Ou não?


Itens 1 e 2 juntos: você acertou em cheio e foi o único dos leitores atentos que sacou a tentativa de uma sátira brasiliana, sim! O título primitivo era "Canália", a ilha teria este nome e estaria cheia de muita canalhice, como no Brasil. Mas os dias foram passando e acabei me apegando ao prazer de "criar os personagens", moldando-os à minha vontade, e o viés
irônico-brasiliano acabou ficando menos importante.
Os personagens foram surgindo naturalmente, devem ser originários de alguns "avatares" que voltaram à vida, construídos com retalhos de pessoas que conheci. Não consigo explicar direito, mesmo.


3. O entrelaçamento dos episódios é perfeito. Você usou anotações, planilhas, ou conseguiu manter tudo "arrumadinho" na cabeça?


3. O entrelaçamento dos personagens também foi acontecendo. Vale aqui uma reflexão entre "autores", já que vc também o é: foi o meu primeiro romance, uma história mais longa. Daí, tenho a sensação que a gente abre uma torneira mental e deixa a água jorrar. Não usei planilhas nem nada, o processo é aparentemente caótico, mas no fim dá certo, com mexidinhas aqui e ali. Depois de tudo pronto, e revisto centenas de vezes, sempre tem alguma coisa que pode ser mais encaixada e adaptada.


E um último elogio: quando leio textos de conhecidos, não consigo desvincular o autor da obra.
No caso do Canalva, depois de umas dez ou quinze páginas pensando "Pô, será que esse cara é mesmo o Fabbrini?", desisti dessa bobagem e aproveitei. Muito. Só voltei à real no epílogo "Antes de fechar o livro..."


Este é o mais engraçado. Várias pessoas que leram Canalva me surpreenderam com comentários semelhantes. "Poxa, você mesmo quem escreveu, cara?"
Quase respondia: "Não, foi um anão que mantenho em regime de escravatura dentro do HD de meu micro."
Afastadas as suspeitas da ação de um misterioso gosht-writer, fiquei com a sensação de que muitas pessoas não me conhecem de verdade e que o referido escrito, onde pude soltar minhas frangas à vontade (e não sob o rigor de um briefing...) acabou sendo revelador do território do imaginário onde labuto diariamente.


Abração,
Tiago.


Valeu, cara, é muito bom saber que a garrafa atirada ao mar nas praias de Santabela chegou ao destinatário e cumpriu a missão de "comunicar".
Recomende pros amigos, dê de presente, etc. Sou um mísero autor independente de uma editora idem.
Abração, FF.

2 comentários:

  1. A comunidade canalviana agradece a divulgação e os elogios.

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  2. 'Tamos aí, cidadão!
    (Só ficou faltando a lista de livrarias. Manda que a gente atualiza.)
    Abs.

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