domingo, 30 de novembro de 2014

AGRURAS DE UM PAI SEPARADO


Domingão, fim de tarde, por do sol, atravesso a rua e vou pra praia degustar esse visual aí da foto. Só que por pouco tempo.

À minha esquerda desembarcam pai e filho.
O filho, gurdim desajeitado, mostrando empolgação zero, pula na areia com uma bola debaixo do braço. O pai, se desvencilha de tênis, meia, etc, e vai para a peleja.
O gurdim é dar dó. Começa querendo jogar vôlei. No primeiro toque a bola resvala entre as mãos, areia nos olhos e o pai observando as mulheres que passam pelo calçadão.

Passam para o futebol.
O pai, dono de uma canhota certeira, põe todas as bolas na frente do gurdim. Cujo tropeça, bate de canela, de joelho, de bochecha, um inferno. O pai segue de olho no calçadão enquanto aguarda o filho buscar bola após bola.

O gurdim cansa e senta na bola. Após uma rápida reunião onde ambos parecem tratar da imensidão do universo relacionada aos grãos de areia, acabam por concordar e vão correr em círculos. Com raios relativamente grandes. O gurdim se esforça durante quase duas voltas, tropeça nas pernas e cai. O pai desiste, eles pegam a bola, sandálias, tênis, camisetas, etc e vão embora.

Passam por mim sem conseguir disfarçar o alívio que ambos estão sentindo. Enquanto eu, de minha parte, espero ter conseguido disfarçar a tristeza que estava sentindo por ambos.

6 comentários:

  1. Muito bonito, Tiago. Mesmo. Podia figurar ao lado de uma crônica do Carlos Drummond de Andrade, na época em que saiam no jornal - e todo mundo iria preferir esta sua.

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  2. QuÊÍsso, Matias!
    (Disse Tiago pouco antes de deixar a estratosfera, inchado como um baiacu...)

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  3. Concordo com o mano, Tiago. Mas cuidado que os jota-pessoenses vão estranhar esse tal de baiacu voador. Abraço, Fuca

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    1. Procederia se algum jota-pessoense fosse meu leitor.
      Então, pelo menos por enquanto, parece que vou me livrando desse estranhamento.
      Abs.

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  4. Concordo com o Matias. Arrasou, Tiago Cruz! Acho que JP está te deixando mais lírico. E vc também está se tornando um sensitivo, né? Como é que vc sabe que o pai é separado?

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    1. Ô Cláudia,
      que sensitivo que nada!
      O cara não parava de babar em direção ao calçadão e a única dúvida era sobre quem estava mais doido praquilo acabar; se ele ou o desajeitadinho.
      Além do mais era domingão, quase 6 da tarde.
      Qual o pai que se preza que vai levantar do sofá num fim de domingo pra ir à praia bater bola, pateticamente, com o filho?
      CQD...

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