Já tratamos do assunto aqui:
mas, claro, sem a mesma agudeza desse cidadão.
Declaração de não voto
Por Clóvis Rossi
Como diria Dilma
Rousseff, estou estarrecido com a quantidade de amor e ódio que vertem sem
parar as redes sociais e alguns colunistas.
Não é apenas que não
me comovem. É que não entendo como seres racionais podem ter o cérebro dominado
pelo fígado, em relação aos adversários, ou pelo coração, em relação a seu
próprio time.
Sou bicho raro a quem
não assustava minimamente a possibilidade nem de reeleição de Dilma nem de
vitória de Aécio Neves.
Antes de mais nada
porque acho que os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva foram os melhores - ou, no mínimo, os menos ruins - de toda a minha vida
adulta, os últimos 50 anos.
Tiveram defeitos?
Incontáveis. Espero tê-los apontado todos no devido momento. Os méritos, estes
sim deixei de apontar pela simples e boa razão de que fazer bem as coisas é a
obrigação de quem governa.
Elogiar o mero
cumprimento da obrigação seria aceitar a mediocridade como regra. Não dá.
Por tudo isso, me
estarrece que haja adultos, alguns deles veteranos na observação da cena
política, capazes de enrolar-se na bandeira de um partido e de deixar que ela
os cegue em relação aos seus defeitos.
Como me estarrece que
se tornem em uma espécie de "black-blogs", empenhados em destruir o
inimigo, que deveria ser só adversário, se o combate político fosse civilizado.
Nada contra a paixão,
fique claro. Mas quem ama não mata. Nem fica cego. Ainda mais que paixão e ódio
giram em torno de agendas vencidas.
Está vencida a agenda
da estabilização econômica, a grande marca do tucanato, conforme reconheceu
Dilma, na carta em que cumprimentou FHC pelo 80º aniversário.
Está pelo menos
iniciada a inclusão social, a grande marca de Lula, internacionalmente
reconhecida.
O que deveria, agora,
despertar paixões incontroláveis é a a agenda das revoluções que o Brasil
necessita. Não deixo por menos: revoluções, sim, não meras reformas.
Revolução política,
porque não há um único país minimamente sério que tenha 28 partidos
representados na Câmara de Deputados, como ocorrerá no Brasil em 2015.
Não é sério um país em
que quase dois terços são pobres (24,5%) ou vulneráveis (37,5%).
Não é sério um país
que passa tremenda vergonha em rankings internacionais de educação, de
competitividade ou de corrupção.
Não é sério um país
cujos habitantes sufocam no trânsito cada vez que saem de casa. Não é sério um
país em que a atenção à saúde é o que todos sabemos.
Não é sério um país
cujos habitantes são submetidos diariamente a uma roleta russa, porque não
sabem se a bala que lhes está destinada chegará hoje ou amanhã.
Há alguém aí que
acredita de verdade que o PT ou o PSDB, os partidos em que a maioria dos
brasileiros depositou suas esperanças, é capaz de resolver essa ampla agenda?
Ou a sociedade se
mobiliza para empurrá-la para a frente ou acabará se afogando em fel.
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