sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O MUNDO CONFORME CASCIARI

Hernán Casciari é um argentino de quase 40 anos que atualmente vive em Barcelona.
É também um tremendo de um escritor como podemos comprovar pelo texto a seguir.


Ih, é grande, não vou agüentar ler isso tudo! Tenta preguiçoso(a) porque vale a pena!


(Valeu, Morici.)


Li uma vez que a Argentina não é nem melhor nem pior que a Espanha, só mais jovem. Gostei dessa teoria e aí inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no 'sistema cão'.

Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7. No caso de países temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana. Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.

A Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividimos estes anos por 14, a Argentina tem 'humanamente' cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne.

Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que tem um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco.

A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com o Brasil, que tem 14 anos e um membro grande.

O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.

No outro extremo, está a China milenar. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, cheirando a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem - ainda - dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.

Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mamãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos. A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul. O Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento pode adotar o bebê Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão na moda.

A França é uma separada de 36 anos, mais puta que galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mônaco, que vai acabar virando puto ou bailarino... ou ambas as coisas. É amante esporádica da Alemanha, um caminhoneiro rico que está casado com a Áustria, que sabe que é chifruda, mas não se importa.

A Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gêmeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (A Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar espaguete).

A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde espontaneidade por usar tanto perfume). É muito tetuda e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa foder pela Inglaterra e depois a denuncia. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas a perturbam quando têm fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam sua geladeira.

Outro que tem filhos espalhados no mundo é a Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra as alimenta. A Escócia e a Irlanda, os irmãos de Inglaterra que moram no andar de cima, passam a vida inteira bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família.

A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha, haxixe e heroína); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com a Coréia.

A Coréia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizóide. São gêmeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, a vigia muito, não por medo, mas porque quer pegar as suas pistolas.

Irã e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negócio para eles. Agora estão comendo lixo.

O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrênicos.
Faz uns dias, e por causa de um conflito com tiros e mortos, nós, os habitantes sérios do mundo, descobrimos que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna... e até gente! Eu fico com medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passar por ignorantes.

Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?

12 comentários:

  1. Ihhhh é grande mesmo: não li tudo, mas li o final e o começo e já entendi tudo!!!!!
    E fico me perguntando quem é esse eu lírico "nós, os habitantes sérios do mundo" uma vez que o autor é argentino e neste momento está assaltando a parte da geladeira da mãe, a que é esquisofrência, diga-se de passagem, porque acha que não tem parte com "as pretuberâncias mamilais".
    Ehhhh! espelho espelho meu...

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  2. Será que você entendeu mesmo...? (rs)
    Abs,
    Tiago.

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  3. Quero nascer em outro planeta! Quanta ironia, nasci no Brasil de pau grande que não come ninguém...

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  4. Eu li tudo.

    Achei genial o jeito de desenvolver o texto e as imagens criadas pros países. Ri mto.

    Claro que algumas relações são desconhecidas para mim, não banco a "superentendida de tudo que rola no planeta". Mas, já vale como leitura, o que é ótimo.

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  5. Oi maria, não acho que se trata de se bancar isso ou aquilo, acho que é bem mais uma questão de agir com naturalidade admitir que alguns sabem algumas coisas melhor do que outros, naturalmente assim. Como bem fez você. Todavia, não entendi o porquê do "claro"; você poderia estar muito por dentro dessas questões geopolíticas. Qual a coisa sobrenatural ou "superentendida" disso?
    Antes, deveria soar naturalmente, sem ofensa pessoal ou sobressalto nem, como de costume, com bajulamento.
    Essa necessidade de falsa modéstia, que virou regra de etiqueta, só afirma, pelo seu contrário, o quanto somos afetados. Eu morro de rir com os exageros, rsrsrsrs.
    E ainda mais; o quanto o Brasil é um país de mediocres e de iletrados, com membro grande, que como diz o amigo anônimo "não come ninguém" e que, entretanto, pra mim, a solução é crescer pra aprender a dar conta do recado e não nascer de novo, ou mudar de país como nosso amigo argentino.
    Bom feriado de independência pra todos!

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  6. Ah Haja, claro que eu li! Só falei isso pra tirar uma onda com vc, como vc tb faz de vez enquando com seus leitores. Brincadeiras trocadas.
    Beijos,
    Amanda

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  7. Amanda,
    é essa a idéia.
    Quanto ao feriado de independência, independência de que?
    Aliás, essa história de independência rende muito e, pra variar, num tô cum saco não...
    Abs,
    Tiago.

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  8. De Portugal né Haja, ou vc queria que fosse do que do capitalismo?!!!
    Daqui a pouco vc me muda pro Uruguai e começa a dizer que "nós, povo da provincia de cisplatina, somos civilizados."
    Haja saco, hein Haja?!

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  9. Amanda, concordo. O "claro" fica por conta de achar que os "milhares e milhares de leitores do Haja" me conhecem tão bem quanto meu pai, que sabe que eu não saco muito de geopolítica!!!

    Bjs! :)

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  10. Cada um ve o mundo de uma forma. Às vezes, as formas se igualam. Casciari o desenha, no texto, de uma forma sui generis, que merece aplauso pela imaginação, muito embora de contéudo assaz verdadeiro. Quem estudou, bem, as diversas civilizações haverá de compreender o texto. Ao exaurimento, é leitura gostosa. Valeu a pena. Ah, a propósito, 'seu' Tiago, amigo do coração, o texto quando é bom não se perde tempo, nem há falar em preguiça para executá-la. Abç. DuduGouvêa

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  11. Dudu,
    bom que você não é do time da "preguiça" e nem do time dos "muito ocupados" para textos grandes. (Aliás, nos dias de hoje, já reparou a quantidade assustadora de gente ocupadíííssima?)
    Abs,
    Tiago.

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