sábado, 6 de fevereiro de 2010

SOBREVIVÊNCIA FÍSICA E MENTAL NO BUZUM

Se existissem programas de quilometragem, como os de milhagem aérea, eu estaria bonito na foto. O que me leva à irresistível tentação de perpetrar um pequeno manual de sobrevivência nos buzuns da vida. Claro, estou falando dos intermunicipais e interestaduais porque os urbanos, aí já é querer demais.

Você aí, desavisado leitor, acha que é simples, que é só chegar, embarcar e pronto? Muito enganado estás. Como qualquer consultor pode te explicar, nada mais é simples nesse mundinho besta. Para tudo funcionar a contento, precisamos de métodos participativos, transferência de tecnologia, atitudes pró-ativas, equalização de percepções, adaptações do clima organizacional e muito, mas muito mais. Chique, não? Mas não se preocupe, serei o mais direto possível e o que é melhor: sem cobrar uma quantia obscena por um serviço que você não precisa...

Então vamos lá:
• Escolhendo o lugar - procure sempre o meio do carro. (Em “buzunês” ônibus é carro e a parte que acomoda os passageiros também é chamada de salão.)
Por que? Ah, essa todo mundo sabe: sacoleja menos. Mas, atenção: é também uma das regiões mais procuradas pelos pentelhos rodoviários, categoria que trataremos mais adiante.
Se você tiver problemas de visão, leve seus oclinhos à mão. Se não tiver, leve também. Os números das poltronas são desenhados por sádicos que se deliciam com o tumulto que criam quando ninguém consegue saber onde é seu lugar e o “salão” fica parecendo uma gafieira.

• Escolhendo o horário – se você não tiver problemas de enjôos ou coisas no gênero, o horário diurno é ótimo para por as leituras em dia, finalizar trabalhos pendentes, etc. Mas o mais indicado mesmo é o horário noturno. Se houver opção por ônibus leito, pegue. É mais caro, mas vale. De preferência em poltrona individual. Se não, alguns cuidados devem ser observados. Ao comprar a passagem, seja simpático com o vendedor e recomende que se alguém pretender o lugar ao seu lado, deverá ser informado que você ronca, solta pum, enfim, é um inferno viajar a seu lado. Normalmente o vendedor faz uma cara de cumplicidade safada e diz algo como: “E se for uma popozuda preparada?”. Não se empolgue. Uma popozuda preparada nunca vai comprar o assento a seu lado. E, caso isso aconteça, ela é que vai roncar, soltar pum, etc. É uma das Leis de Murphy. E você vai passar a noite inteira acordado maldizendo a vida e o fato de ter nascido homem.

Outro detalhe importante: durma. Não importa a custa de quê. Tome um porre, fique sem dormir na noite anterior, faça ginástica como um louco durante o dia, reze fervorosamente para Buda, mas durma. Durante uma noite insone num buzum, todos os seus problemas são elevados à oitava potência e, caso você não os tenha, criará vários. Chegará ao seu destino exausto, deprimido e achando que, definitivamente, a vida não tem sentido.

• Os pentelhos rodoviários – estes são divididos em categorias. A primeira categoria é a dos vendedores. Surpreso? Achou que era a das mães com filhos catarrentos? Pois fique sabendo, inexperiente leitor, que de acordo com as pesquisas, 74% dos catarrentos dormem durante quase toda a viagem e só acordam quando faltam entre 15 e 20 minutos para a chegada.
Já os vendedores... Esses não dormem nunca, andam no mínimo em duplas e passam todo o tempo falando de assuntos palpitantes como índices de vendas de secadores de cabelo, torneiras, panelas, etc, sobre como e quando o fulano comeu a beltrana, sobre o gerente da firma e sobre tudo mais que for chato e inoportuno. E, sempre, em voz alta. E, sempre, com gargalhadas próximas da histeria. E, sempre, com mau hálito. E, sempre, tossem na sua nuca.

Outra categoria é a dos gordos. Tadinhos, a maioria é até simpática, mas os buzuns não foram feitos para eles. Alguns são educados e procuram te causar o mínimo desconforto possível. Outros não estão nem aí. Parece que é a hora da vingança. Depositam suas adiposidades com estrondo, ficam se mexendo sem parar, suam mesmo debaixo do ar condicionado e, horror dos horrores, querem conversar com você. Se te acontecer esta tragédia, encare como uma provação divina, sinal de que tempos melhores estão chegando.

Só para ficar nas categorias principais, encerramos com as velhinhas muxibentas. Tadinhas também, não é? Poderiam (Deus nos livre!) ser nossas avós. Mas o fato é que são umas chatas, enjoam, tossem e, não raro, vomitam, transformando o ambiente numa réplica da ante-sala do Demo. Querem sempre ir ao banheiro e vão tropeçando, caindo em cima dos outros, aprontam uma balbúrdia. E, sempre, pedindo desculpinhas com a cara mais cínica do mundo. Um saco.

• Conselhos finais – evite tudo o que puder nas paradas. No máximo, tome um refrigerante que raramente estará gelado. Salgadinhos, nem pensar! Todas as paradas rodoviárias têm convênios secretos com gastroenterologistas e afins. Se for inevitável vá ao banheiro de galochas; se tiver coragem respire pela boca ou, melhor, não respire. Pensando bem, o mais certo é descer, fumar um cigarro, caso você tenha este relaxante hábito, passear um pouco e voltar para sua poltrona.

Quando o buzum estiver chegando, resista à tentação de levantar e ser o primeirão lá na porta de saída. Os motoristas, tão sádicos quanto os designers de números das poltronas, sempre dão um aconchegante tranco ao parar. Bom negócio é ficar sentadinho e sorrir discretamente quando todos os afoitos se amontoarem grudados como uma massa disforme na porta de saída.

Concluindo: sempre que puder, vá de avião. Para este caso também temos um manual de sobrevivência física e mental, mas é assunto para outro dia.

4 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Tiago é muito sofrimento viajar de ônibus segundo seu relato.......pelamordedeus!

    ResponderExcluir
  2. Tiago,
    Tenho um amigo aqui de BH, mais conhecido como Ronaldo do Citi, que trabalhou no Citibank em São Paulo por muitos anos e família ficou aqui, mas toda sexta-feira ele pegava o buzum Cometa e vinha na capital das Minas Gerais, dar uns amassos na patroa e passear com as crianças, e no domingo pegava o buzum Cometa de volta. Era tão conhecido, que tinha a poltrona sempre reservada. Seja na vinda ou na volta.
    Como podemos classifica-lo?
    João Góes

    ResponderExcluir
  3. Certamente podemos classificar o sofrido cidadão como "Buzun's Master Consultator Tabajara"...

    ResponderExcluir