quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

VENENO DE LONGA DURAÇÃO


Que o Simonal, ainda que post-mortem, está reconhecido como o grande cantor que sempre foi, todo mundo já assimilou. E, havendo interesse, este link é para um vídeo promocional de um documentário muito legal (pra quem passou dos 50, é claro): http://www.youtube.com/watch?v=rxnNvWLE9pI&feature=related
(Alguns entrevistados fazem cara de paisagem e saída pela esquerda sobre o assunto e o Chico Anísio, pra variar, dá um banho de bola.)

Mas tem mais um que não recebe as devidas homenagens: Erlon Chaves. Morto de enfarte fulminante aos 41 anos (ou 37 segundo alguns) foi um tremendo músico que, segundo o extinto “Blog do Wir” – citando Nei Lopes, Zuza Homem de Melo e Ricardo Cravo Albin...

Nascido na capital paulista em 1933, Erlon foi – segundo o Cravo Albin – regente, arranjador, pianista, vibrafonista, compositor e cantor. Em 1965, depois de ter composto para a Tv Excelsior uma sinfonia que se tornou tema de abertura da emissora, mudou-se para o Rio, onde foi diretor musical da TV Rio e um dos idealizadores do I Festival Internacional da Canção em 1966.

Para a apresentação de “Eu Também Quero Mocotó”, na final de 25 de outubro de 1970, Erlon resolveu incrementar ainda mais o happening, que já ocorrera na apresentação classificatória da música, quando sua Banda Veneno, somando 40 pessoas entre cantores e músicos (eta, banda larga!), fez platéia e jurados dançarem ao som da canção, feita mesmo pra dançar, só à base de riffs dos metais, ritmo de boogaloo (a moda black de então) . E aí anunciou: “Agora vamos fazer um número quente, eu sendo beijado por lindas garotas. É como se eu fosse beijado por todas aqui presentes”.


“Na platéia foi uma vaia só. Nos lares, algumas esposas brancas engoliram em seco, ofendidíssimas, ao lado dos maridos”. E o happening rolou.

Só que, segundo nosso amigo Zuza, “o espetáculo de um negro sendo beijado por loiras no encerramento do V FIC foi demais para os padrões conservadores da época, e Erlon Chaves foi levado, dias depois, para um interrogatório na Censura Federal”, ao qual se seguiu a prisão, segundo consta, pela influência de esposas de alguns generais da Ditadura, ficando o músico, depois de libertado, proibido de exercer suas atividades profissionais em todo o território nacional por 30 dias.

Em 14 de novembro de 1974, Erlon Chaves, que transmitia a todos nós com seu talento, charme, sorriso e simpatia aquela autoconfiança que a nós todos ainda nos faltava, enfartou, quando olhava uns discos de jazz numa loja da zona sul, e morreu. No ato.

Será que morreu de seu próprio “veneno”? Este veneno de que nos faz querer também comer o “mocotó” dos espaços de excelência, das instâncias do poder, do conforto material, do acesso ao saber, do êxito, do respeito enfim!? Ou será que morreu porque era um “crioulo metido e pilantra”, que “não sabia seu lugar”, só “gostava de mulher branca” e “carro do ano”; que, de repente, quem sabe, queria até ver seus filhos – absurdo! – entrando pra uma boa faculdade?!

E, ainda, sem falar no Toni Tornado...

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