quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PREZADO ARTISTA INCOMPREENDIDO

Artigo escrito originalmente para a legendária “Oh!” - revista de arte cuja nunca chegou às bancas.

Mesmo quando os entes mais queridos elogiam seu trabalho, você nota u’a mal disfarçada atitude próxima de “o médico mandou não contrariar”?
Quando os amigos mais chegados e/ou abonados compram uma obra de sua lavra, você sente que foi só por amizade?
Quando sua auto-estima cresce, você se acha e, no aniversário de casamento do seu padrinho dá de presente uma espetacular peça que te devorou diversas noites insones, recebe de volta um sorriso francamente amarelo?
E, pior, quando volta na casa deles - algum tempo depois, numa reunião familiar - vê o fruto de seu bem intencionado esforço jogado num canto?

Bem vindo ao clube.

É muito chato. Nós temos a inabalável vontade, necessidade mesmo, de expressão artística, mas sabe como é, né? O “faz-me rir” do final do mês garante a estabilidade familiar...
Então, são quadros, fotografias, objetos, tudo junto, de tudo um pouco, de pouco um tudo, conforme os humores e possibilidades do momento. Aí, é uma produção constante, uma tentativa aqui e ali e, muito de vez em quando, uma exposição em algum local obscuro. Mas não importa: vamos em frente.
É parte de nós não parar.

Já vivi o suficiente para aprender que nós somos marginais da arte. Temos nossa importância, é certo. Mas, ao não nos dedicarmos radicalmente à coisa, ficamos à margem dos acontecimentos.

Há muitos anos, quando eu encomendava molduras para meus fabulosos quadros numa loja na Assis Chateaubriand quase com Contorno, encontrava regularmente um cidadão com todo o estilo “artista de vanguarda” - camiseta colorida, barriga, barba, cabelo comprido e o mais importante: uma dedicação inquebrantável. Claro, hoje ele é sucesso, vive aparentemente muito bem graças à sua arte, etc etc. Enquanto eu continuo contando com o, já não tão constante, “faz-me rir” e batalhando artes noites a fora.

Pensamentos estilo Nostradamus, volta e meia, assolam nossas mentes: “Daqui a cem anos meus descendentes vão deitar e rolar”, “Uma hora dessas alguém vai descobrir como eu sou bom” e outras bobagens afins. Afinal, a gente tem que manter a chama acesa, né não?

Não.
Não é não, meu prezado companheiro de infortúnio.
A palavra mágica é CASPOP - Cago e Ando Solenemente Para a Opinião Pública.
Mas, claro, se for só uma palavra e não uma atitude, certamente não vai funcionar.

Pra mim, tá funcionando.

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