no mínimo, estúpido.
Então, segue mais uma das incontáveis crônicas (para mim) geniais do Luis Fernando Verissimo:
Zeloso guardador
01/09/2016
- 15h00
No outro dia estive
conversando com meu anjo da guarda. Há tempo não nos falávamos. Na verdade, na
última vez que me dirigira a ele, eu tinha uns 7 ou 8 anos. Começamos a
conversa lembrando aquele tempo.
— Como era mesmo que
eu dizia? “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador...” Ele sorriu.
— É. Todas as noites,
antes de dormir. E sempre terminava me pedindo para proteger toda a sua
família, os amigos, os vizinhos e o doutor Getúlio Vargas.
— O doutor Getúlio
Vargas?!
— Faz tempo. Foi você que não
quis mais falar comigo. Eu continuei ouvindo.
— Pois é. Perdi a fé.
Não acreditava mais em você. Aliás, continuo não acreditando.
— Tudo bem. Não é
razão para não conversarmos. Eu não tenho preconceito.
— Teve uma coisa que
sempre me intrigou: você, se existisse, seria o meu guardador particular, ou
cada anjo cuidaria de várias pessoas ao mesmo tempo? Isso explicaria o fato de
tantos morrerem fora de hora, enquanto outros sobrevivem. Os anjos da guarda
não estão sobrecarregados?
— Não, não. Minhas
instruções são cuidar de você com exclusividade. Dedicação integral. Sete por
vinte e quatro, sem folga nos fins de semana.
— Eu não lhe dei muito
trabalho, dei? Tive uma vida pacata...
— Bom, precisei
intervir algumas vezes. Esta você nem vai se lembrar. Ainda garoto, você foi
soltar um foguete e não se deu conta de que estava apontando o lado errado para
cima. Se não fosse eu cochichar “Vira! Vira!” no seu ouvido, no último minuto,
o rojão teria entrado no seu peito.
Outra vez você estava num avião que saía do
Galeão para Porto Alegre, e a decolagem teve que ser abortada na metade da
pista. Poderia ter sido uma tragédia se não fosse a minha intervenção. No caso,
intervi para salvar o seu ego, já que todo o time do Flamengo estava no avião,
e o seu nome só sairia nos jornais sob “Também morreram...” .
— Mas fora isso...
— Fora isso, não tenho
do que me queixar. Está sendo uma missão tranquila.
— Posso lhe pedir uma
coisa, como fazia antigamente, quando eu acreditava?
— Depende. O que?
— Alguns congressistas
brasileiros... Não dá para...
— Liquidá-los?
— Não. Mas quem sabe
uma dor de barriga coletiva?
— Nós não nos metemos
em politica.
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