domingo, 1 de novembro de 2015

SOCIETY


Elegante convescote praiano, cerca de trinta convivas selecionados estão sob uma grande tenda com direito a churrasqueiro e bebidas geladas.

A madame patrocinadora está instalada em posição estratégica
e, enquanto saboreia seu Villa Crespia Francesco Iacono Riserva Franciacorta DOCG 2005 (fruto de uma safra excepcional!),
vai conferindo o andamento das coisas.

Não por muito tempo porque ela saboreia pra valer.
Um puxa-saco se ajoelha para saudá-la, ela se inclina para dar beijinho e aderna perigosamente para estibordo.

Segue o evento com todas as ocorrências típicas desse tipo de encontro praiano.

A maioria absoluta das jovens está, elegantemente, debruçada no celular, as mais velhas, elegantemente, tricotam fofocas e as mães de filhos pequenos, elegantemente, fiscalizam tudo com olhos de águia.

Os homens estão em rodinha bebendo e se vangloriando, elegantemente, de mentiras adaptadas.

Vários vão para a água, outros saem para uma caminhada com as respectivas, madame segue saboreando seu Villa-qualquer-coisa, as jovens seguem cultivando suas corcundas no celular e o tempo passa.

Madame se encharca e resolve entrar no mar. Devidamente escoltada por um gentil rapaz, chega ao agradável convívio dos que lá já estavam. Vem uma ondinha, todos pulam e ela, tortinha, se estabaca na horizontal. Constrangimento, duas mais jovens conduzem madame, troncha, revoltada, tossindo, de volta ao trono.

Enquanto isso, de lados opostos, chegam dois casais de suas saudáveis caminhadas. Não tão saudáveis porque cada casal chega brigando. Briguinhas que, hipocritamente, são adiadas no momento em que chegam à tenda.

E, enquanto isso, o clima esquenta na água. Os remanescentes do constrangimento discutem - sem nenhum intere$$e - sobre quem deveria assumir a responsabilidade pelo porrete de madame.

Beijinhos, abraços e, com a desculpa do horário, a maioria se dirige a seus carros importados estrategicamente estacionados onde todos possam ver.

Normal, né?

Pois muito bem, vamos aos fatos:
Tudo isso aí em cima aconteceu na minha frente.
Só que não era um "elegante convescote". Era um evento classe C.

Assim, caso o incansável leitor tenha paciência, releia o texto substituindo "elegante convescote praiano" por "farofeiros", "trinta convivas selecionados" por "galera da vizinhança", "grande tenda" por "barracas", "madame" por "matrona", "Villa-qualquer-coisa" por "Sangue-de-Boá" e os carros importados por Ka's e Celta's.

Baixaria total, né?

(Ainda bem que você não é preconceituoso...)

4 comentários:

  1. É que - como nós já sabemos (ainda bem, né?) - os ingredientes básicos do Social são os mesmos independentemente da grana dos participantes: hipocrisia, vaidade exacerbada, tagarelice, disputa de poder, etc. Enfim, uma eterna REPETIÇÃO. E o pior é que vira e mexe ainda me pego escorregando e embarcando nessa mesmice. Abraços. Tche

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    Respostas
    1. Você está certo, Tche.
      Quanto aos escorregões, prefiro colocar na conta do "já que não se pode combater", etc, etc.
      Abs.

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