terça-feira, 15 de setembro de 2015

ME ENGANA QUE EU GOSTO

Principalmente nos dias de hoje, o excelente artigo de Guilherme Ravache - “Por que somos vítimas do 'me engana que eu gosto'. E como um chato pode te salvar”, dá o que pensar.

Seguem alguns trechos:

Filtramos as informações de maneira a selecionar apenas aquelas que confirmam o que acreditamos.
A ciência chama isso de viés de confirmação (confirmation bias).

Como disse o megainvestidor Warren Buffett, “O que as pessoas mais sabem fazer é filtrar novas informações de tal forma que as concepções existentes permaneçam intactas”.

O viés de confirmação está em todo lugar.
Um jornalista que usa somente a parte da entrevista que confirma sua teoria inicial.
O chefe que descarta uma pesquisa por não apoiar a expectativa inicial.
O diretor que não gosta dos números do relatório e pede para que sejam reavaliados.
Eleitores que votam novamente em um candidato mesmo diante de indícios de má administração.
Um relacionamento problemático e que você insiste em manter se esforçando para ver “o lado bom” do outro.

Aliás, conhecer o viés de confirmação faz com que o seu viés de confirmação demonstre ainda mais casos para você!
E o pior é que mesmo os especialistas em viés de confirmação não conseguem evitá-lo, pois fazemos sem ter consciência de que estamos fazendo.

E como combater o viés de confirmação? 
A melhor resposta encontrei no livro A Arte de Pensar Claramente, de Rolf Dobelli. 
“É melhor ater-se a Charles Darwin, que, desde a juventude, se preparou para combater de maneira sistemática o viés de confirmação. Quando as observações de sua teoria se contradiziam, ele as levava especialmente a sério. Carregava sempre um caderno de apontamentos consigo e obrigava-se a anotar, dentro de trinta minutos, as observações que contradissessem sua teoria. Sabia que, após trinta minutos, o cérebro “esqueceria” ativamente a evidência desconfirmatória. Quanto mais sólida ele estimasse sua teoria, mais ativa era sua busca por observações contraditórias”

Outra alternativa é manter os irritantes por perto.
Como disse Voltaire, “o segredo de ser chato é dizer tudo”.

Mas, lembre-se: evite os engenheiros de obra pronta, os chatos que dizem “eu te avisei” ou “deveria ter feito isso ou aquilo”. Prefira os que falam antes.
Portanto, questione-se o tempo todo. Duvide das métricas. Ouça seus críticos. Anote suas observações e consulte-as no futuro.


6 comentários:

  1. Passar para o outro lado, de vez em quando, pode ajudar.

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    1. Acho que, simplificadamente, foi isso que o autor quis dizer né não, anônimo?

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  2. Todos somos preconceituosos, de alguma forma. Seria um bom caminho que todos, humildemente, se reconhecessem, pelo menos, minimamente assim. Entretanto, poucos o fazem e, pior, demonstram-se escancaradamente pré-conceituosos, ou seja, nem querem ouvir ou tentar perceber. Antes de ouvir já descartam o produto da falha alheia.
    Vitor Lemos

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    1. Vitor,
      acho que o problema não é nem o pré-conceito. Me parece ser mais uma forma instantânea de proteção contra ideias que possam gerar desconforto.
      Ou, resumindo, a preguiça mental inerente a todos nós seres humanos.

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  3. Aonde escrevi falha alheia, que se entenda fala alheia. A sua conclusão é elucidativa, e a forma instantânea de proteção que os humanos usam contra as ideias que geram desconforto é aquela que sempre surge quando estes veem contrariados os próprios interesses, porque o lema da raça é "eu em primeiro lugar, eu em segundo lugar, e eu em terceiro lugar". Ah, alguns abrem exceção quando se trata de sua prole.
    Vitor Lemos

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    1. Concordo total.
      E em alguns casos, mesmo quando a exceção é o trato da prole, lá no fundo continua sendo uma forma disfarçada de "eu, eu, eu".
      E, pior: acho que nem dúzias de Franciscos espalhados pelo planeta seriam capazes de mudar essa cultura que se enraizou nesse tal de "mundo globalizado".

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