sábado, 26 de setembro de 2015

CONFLITO DE EMOÇÕES


O ilustrado leitor certamente já passou por isto: o livro é tão bom que você começa a dosar a leitura para retardar o final.

É o que estou fazendo com o "Futebol ao Sol e à Sombra" do Eduardo Galeano.
Pra quem ainda não leu (e pra quem já leu se divertir de novo), segue um capítulo:

Pobre Mãezinha Querida

No final dos anos sessenta, o poeta Jorge Henrique Adoum voltou ao Equador, depois de longa ausência. Nem bem chegou, cumpriu o ritual obrigatório da cidade de Quito: foi ao estádio, ver jogar o time do Aucas. Era uma partida importante, e o estádio estava repleto.

Antes do início, fez-se um minuto de silêncio pela mãe do juiz, morta na véspera. Todos se levantaram, todos calaram. Em seguida, um dirigente pronunciou um discurso destacando a atitude do esportista exemplar que ia apitar a partida, cumprindo com seu dever nas mais tristes circunstâncias. No meio do campo, cabisbaixo, o homem de preto recebeu o denso aplauso do público.

Adoum piscou, beliscou um braço: não podia acreditar. Em que país estava? As coisas tinham mudado muito. Antes, as pessoas só se ocupavam do árbitro para gritar filho-da-puta.

E começou a partida. Aos quinze minutos, explodiu o estádio: gol do Aucas. Mas o árbitro anulou o gol, por impedimento, e imediatamente a multidão recordou a finada autora de seus dias:
- Órfão da puta! – rugiram as arquibancadas.

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