Muito
lá no século passado, um grande amigo
(daquele tipo que nem o tempo, as curvas da vida
e a consequente pouca convivência conseguem distanciar) usava essa expressão que era a sentença de morte para
qualquer tentativa de narração ou conversa mais atravessada:
-"Pô, mas que Papo Drek!"
Para minha tristeza, tenho lembrado do Papo Drek em quase todas as vezes que abro o fêicibúqui e me deparo com pratos de comida, frases pseudo inspiratórias e xingatórios do fla-flu político.
Mas, para
minha alegria, por aqui as ocorrências passíveis dessa sentença têm sido muito próximas de zero.
O que é perfeitamente explicável pela incrível novidade que
é, para mim, acostumado aos tortuosos labirintos das conversas mineiras,
a maneira simples e direta desse povo paraibano doidão.
Ou seja, normalmente
a mais corriqueira conversa se transforma em diversão e, várias vezes, em aprendizado
do cultivo da gentileza.
Se
não, vejamos: fila de idosos no supermercado, o locutor que vos fala porta uma
mísera caixa de cervejas atrás de uma caricatural matrona nordestina atarracada,
sem pescoço, com um carrinho abarrotado de compras e uma simpatia
inversamente proporcional a seus atributos físicos.
Na
frente da matrona está um casal de portugueses com dois carrinhos abarrotados.
E
na frente deles, parecendo recém chegado da figuração de um filme de caubói,
está um cidadão de quase dois metros de altura, óculos escuros, chapéu preto, bengala
e luvas pretas. (Juro.)
A
fila não anda.
Todo
mundo quer pagar com cartão e o sistema não está sistemando.
A
matrona vira-se pra mim e começa a conversar.
(Atenção, leitor: as intervenções
'matronais' devem ser lidas com sótáqui).
-Tá
assim a semana toda. E eles não providenciam...
-É...
Chato, né?
-É
só essa cervejinha que o senhor vai levar? Se for pagar com dinheiro dou-lhe
meu lugar.
-Vou
sim, muito obrigado.
-Pois fique
à vontade... Vou sentar no banquinho porque tá demorando mesmo!
Avanço
e apelo para o português que, com a gentileza da raça (ou, quem sabe, adquirida por aqui) também me cede a vez.
O
sistema volta a sistemar, o caubói estratosférico consegue pagar e eu chego à
pole position. A tempo de ouvir da matrona sentadinha:
-O
senhor com esse cabelinho branco tá enganando todo mundo, hein?
-Quêisso,
minha senhora, eu sou bem idoso...
-Pois
num parece, viu? Deus conserve.
-Amém!
E
vou embora com o dia ganho.
Aahhhh gastoso!!! (Gato idoso!) 😂😂🙈
ResponderExcluirÉ o meu jeitinho...
ExcluirVAI..IDOSO
ResponderExcluirVou, Weber.
ExcluirNão sei bem pra onde mas, vou!
Moda Cotonete tem as suas vantagens !
ResponderExcluir"Moda Cotonete" é ótimo!
ExcluirMuito legal, encontrar gente de bem com a vida e que transmite coisas boas.
ResponderExcluirE pra quem, como eu, ainda não está acostumado, é uma surpresa boa atrás da outra.
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