domingo, 2 de agosto de 2015

INVERNO

Caso o amável leitor seja partidário da filosofia "deixa a vida me levar - vida leva eu", JP é a cidade perfeita para seu inverno.
Como não é bem o meu caso, só me resta tentar encarar as coisas com bom humor.

Acordei hoje na hora certinha da maré baixa,
olhei pela janela e o marzão estava lá brilhando, só faltava dizer "Veeenha!" com sotaque carregado.
Meia hora depois, tudo nublado e a linha do horizonte escurinha de tudo.

Então, danou-se. Vou para o supermercado.
Uma tortura pois, aos domingos chuvosos, os supermercados só perdem para os shoppings.
Lá de dentro escuto o barulho de um temporal.
Tá feia a coisa. Pra amenizar, encontro uma quase solitária lata de doce de leite - iguaria que andava desaparecida das prateleiras.

Chego em casa, ponho a cerveja pra gelar e me preparo para partir na captura de um torneio de poker.
Olho pela janela e... Sol! Radiante! Tá de sacanagem!?

Desligo a máquina e me mando rapidinho. Não dá pra acreditar na velocidade radical das mudanças. Mas, durou e melhorou. Quase nenhuma nuvem no céu, brisa suave, quase perfeição. Quase porque como estamos no inverno (rigoroso, com temperaturas beirando os 27º), a água não está adequada.

E aqui vou abrir um parêntese:
Uma das alegrias da velhice é reclamar nos míínimos detalhes.
As "deixa pra lá", "depois a gente vê", "tá bom assim" da juventude, há muito foram deturpadas e substituídas por exigências fundamentais no estilo "esse vinho não harmoniza", "aquela cadeira não está no lugar", "classe econômica é foda..." e tantas outras no gênero. Mas, bem dosado é muito divertido. Pelo menos para mim.

Back to the cold cow, lá vou eu andando e vejo uma mocinha bonita, deitada na areia, de óculos, lendo um livro. Putz! Um Livro! Gordo, capa dura, formato de "livro-que-se-preza". Tomara que ela aproveite bastante porque do jeito que as coisas estão caminhando, breve ela poderá ser apedrejada.

De volta, entro na portaria justo na hora em que Zé Ramalho derrama os uivos iniciais de Chão de Giz. A simpática criatura que atua na recepção me entrega a chave e brada: "Agoreuvô chórá!"

Não fico pra ver se Zé Ramalho vai cumprir sua função e subo rápido, salivando por uma cerveja.

2 comentários:

  1. " Uma das alegrias da velhice ... " Putz, assumidaço !
    ... reclamar nos míínimos detalhes ... > Haja muito saco ! Resolve tudo !
    e vejo uma mocinha bonita ... é tem jeito não !

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    1. Prezado anônimo,
      outra grande vantagem da velhice é ler comentários cifrados, achar graça e imaginar os esforços do comentarista para disfarçar a idade...

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