Reforçando minha
crença de que a política tupiniquim é um grande bebê sujo de bosta, segue mais
um primoroso artigo do Santayana.
O PT, O PSDB E A ARTE
DE CEVAR OS URUBUS.
6 de
mar de 2015
Mauro
Santayana
Se houve um erro
recorrente, que pode ser trágico em suas consequências, cometido pela
geração que participou da luta pela
redemocratização do Brasil, foi permitir que a flor da liberdade e da democracia,
germinada naqueles tempos memoráveis, fosse abandonada, à sua própria sorte, no
coração do povo, relegada a segundo plano pela
batalha, encarniçada e imediatista, das suas diferentes facções, pelo
poder.
Perdeu-se a
oportunidade - e nisso também devemos nos penitenciar - de aproveitar o impulso
democrático, surgido da morte trágica de Tancredo Neves, para se inserir, no
currículo escolar de instituições
públicas e privadas, obrigatoriamente, o ensino de noções de cidadania e de
democracia, assim como o dos Direitos do Homem, estabelecidos na Carta das
Nações Unidas, e esse tema poderia ter sido especificamente tratado na
Constituição de 1988 e não o foi.
Não se tendo feito
isso, naquele momento, a ascensão ao poder de um auto-exilado, o senhor
Fernando Henrique Cardoso, poderia ter levado ao enfrentamento dessa mazela
histórica, e, mais ainda, pelas mesmas e mais fortes razões - a questão deveria
ter sido enfrentada quando da chegada ao poder de um líder sindical oriundo da
camada menos favorecida da população, pronto a entender a importância de dar a outras pessoas como ele,
o acesso à formação política que lhe permitiu mudar a si mesmo, e tentar, de
alguma forma, fazer o mesmo com o
seu país.
Em vários anos, nada
foi feito, no entanto, nesse sentido.
Mesmo tratando-se de
questão fundamental - a de explicar aos brasileiros para além das eventuais
campanhas feitas pela Justiça Eleitoral a divisão e a atribuição dos Três
Poderes da República, noções do funcionamento do Estado, dos direitos e deveres
do cidadão, e de como se processa, por meio do voto, a participação da
populaçao - nunca houve, e tratamos do tema muitas vezes, nenhuma iniciativa
desse tipo, mesmo que pudesse ter sido adotada, a qualquer momento, por
qualquer administração municipal.
Pensou-se,
erroneamente, que bastava voltar à eleição, pelo voto direto, do Presidente da
República, e redigir e promulgar um novo
texto constitucional, para que se
consolidasse a Democracia no Brasil.
Na verdade, essas duas
circunstâncias deveriam ter sido vistas apenas como o primeiro passo para uma
mudança mais efetiva e profunda, que teria de ter começado por uma verdadeira
educação cívica e política da população.
Imprimiu-se a
Democracia em milhões de exemplares da Constituição da República, mas não nos
coraçôes e mentes da população brasileira.
De um povo que vinha,
historicamente, de uma série de curtas experiências democráticas, entrecortadas
por numerosos golpes, contra-golpes, de todo tipo; educado ao longo das duas
décadas anteriores, dentro dos ritos e mitos de uma ditadura que precisava
justificar, de forma peremptória, a derrubada de um governo democrático e
nacionalista - ungido pelo plebiscito que deu vitória ao presidencialismo - com
a desculpa do bovino anticomunismo da Guerra Fria, cego e ideologicamente
manipulado a partir de uma potência estrangeira, os Estados Unidos.
À ausência de um
programa de educação democrática para a população brasileira - e da defesa da Democracia como parte
integrante, permanente, necessária, no nível do Congresso e dos partidos, do
discurso político nacional, somou-se, nos últimos tempos, a deletéria
criminalização e judicialização da política, antes, depois e durante as
campanhas eleitorais.
Assim como parece não
perceber que a desestruturação da Petrobras, do BNDES, das grandes empresas de
infra-estrutura, de outros bancos públicos, criará um efeito cascata que
prejudicará toda a nação, legando-lhe uma vitória de Pirro, caso venha a chegar ao poder em 2018, a
oposição também não compreende, que ao incentivar ou se omitir, oficialmente,
com relação a ataques à Democracia e aos apelos ao golpismo por parte de alguns
segmentos da população, está dando um tiro pela culatra, que só favorecerá uma terceira força, com relação à
qual comete terrível engano, se acredita que tem a menor possibilidade de vir a
controlar.
A mesma parcela do
público radicalmente contrária ao Partido dos Trabalhadores, estende agora,
paulatinamente, o processo de criminalização da política ao PSDB e a outros
partidos contrários ao PT, e já há quem defenda, na internet, e nas redes
sociais, a tese de que o país precisa livrar-se das duas legendas, e de que a saída só virá por meio do
rápido surgimento de outra alternativa
política, ou de uma intervenção militar.
Bem intencionado na
área social, na macroeconomia, em alguns momentos, e em áreas como as Relações
Exteriores e a Defesa, e atuando quase sempre
sob pressão, o PT cometeu inúmeros erros - e não apenas de ordem
política - nos últimos anos.
Deixar de investigar,
com o mesmo rigor que vigora agora, certos episódios ocorridos nos oito anos
anteriores à sua chegada ao poder, foi um deles.
Abrir a porta a
páraquedistas que nada tinham a ver com os ideais de sua origem, atraídos pela
perspectiva de poder, também foi um equívoco.
Como foi fechar os
olhos para o fato de que alguns de seus militantes estavam caindo,
paulatinamente, na tentação de se deixar seduzir e contaminar, também, pelas
benesses e possibilidades decorrentes das vitórias nas urnas.
O maior de todos, no
entanto, foi se omitir de responder, do começo, àqueles ataques mais
espatafurdios, sem outra motivação do que a do ódio e do preconceito, que passou
a receber desde que chegou à Presidência da República.
Ao adotar, de forma
persistente, essa posição, o PT prestou
um terrível, quase irreparável, desserviço à Democracia.
Em um país em que
blogueiros são condenados a pagar indenizações por chamar alguém de sacripanta,
a própria liturgia do cargo exige que um Presidente ou uma Presidente da
República usem a força da Lei para coibir e exemplar quem os qualifica, pública
e diuturnamente, na internet, de fdp, ladrão, bandido, assassina,
terrorista, vaca, anta, prostituta, etc, etc, etc.
E tal liturgia exige
que isso se faça desde a posse, não apenas para preservar a autoridade máxima da República, que a ninguém
pertence pessoalmente, já que conferida
foi pelo voto de milhões de brasileiros, mas, sobretudo, para defender a
democracia em um país e uma região do mundo em que quase sempre esteve
ameaçada.
Existe, é claro, a
liberdade de expressão, e existem a calúnia, o ataque às instituições, ao
Estado de Direito, à Constituição, que ameaçam a estabilidade do país e a paz
social, e o governo que se furta a
defender tais pressupostos, nos quais se fundamentam Estado e Nação,
deveria responsabilizar-se direta, senão
criminalmente, por essa omissão.
Se Lula, Dilma, e
outras lideranças não se defendem, nem mesmo quando acusadas de crimes como
esquartejamento, o PT, como partido, faz o mesmo, e incorre no mesmo erro, ao omitir-se de ampla
e coordenada defesa da democracia - e não apenas em proveito próprio - dentro e fora do ambiente virtual.
Em plena ascensão do
discurso anticomunista e “anti-bolivariano” - o Brasil agora é um pais
“comunista”, com 55 bilhões de reais de lucro para os bancos e 65
bilhões de dólares de Investimento Estrangeiro Direto no ano passado, e
perigosos marxistas, como Katia Abreu, Guilherme Afif Domingos e Joaquim Levy
no governo - sua militância insiste em se vestir de vermelho como o diabo, como
adoram lembrar seus adversários,a cada vez que bota o pé na rua.
Isso, enquanto,
estranhamente, abandona, ao mesmo tempo,
o espaço de comentários dos grandes portais e redes sociais, lidos pela
maioria dos internautas, a golpistas que
se apropriam das cores da bandeira, agora até mesmo como slogan.
Ao fazer o que estão
fazendo, o Governo, o PT e o PSDB, estão fortalecendo uma terceira força, e
especializando-se na perigosa arte de cevar os
urubus.
De que se alimenta a
extrema direita?
Do ódio, da violência,
do preconceito, da criminalização da política, da infiltração e do
aparelhamento do estado, do divisionismo, da disseminação terrorista da
calúnia, do boato e da desinformação.
No futuro, quando for
estudado o curto período de 30 anos que nos separa da redemocratização, será
possível ver com clareza - e isso cobrarão os patriotas pósteros, se ainda os
houver, nesta Nação - como a hesitação, a imprevisibilidade, a aversão ao
planejamento, a anemia partidária e a mais absoluta incompetência por parte da
comunicação do PT, principalmente na enumeração e disseminação de dados
irrefutáveis; e o irresponsável fomento ao anti-nacionalismo e à paulatina
criminalização e judicialização da política, por parte, PSDB à frente, da
oposição, conseguiram transformar o país libertário, uno e nacionalista, que
emergiu da luta pela Democracia e que reunia milhões de pessoas nas ruas para
defender esses ideais há 30 anos, em uma
nação fascista, retrógrada, politicamente anacrônica, anti-nacional e conservadora,
que reúne, agora, nas ruas, pessoas para atacar o Estado de Direito, a quebra
das regras que o sustentam, e a interrupção do processo democrático.
Um país cada vez mais
influenciado por uma direita “emergente” e boçal - abjeta e submissa ao
estrangeiro e preconceituosa e arrogante com a maioria da população brasileira
- estúpida, golpista e violenta, que
está estendendo sua influência sobre setores da classe média e do lumpen
proletariado, e crescendo, como câncer, na
estrutura de administração do estado, na área de segurança, nos meios
religiosos, na mídia e na comunicação.
Destruiu-se a aliança
entre burguesia nacionalista e trabalhadores, que conduziu o país à Campanha das Diretas e à eleição de Tancredo
Neves como primeiro presidente civil, depois de 21 anos de interrupção do
processo democrático.
Destruiu-se a
articulação das organizações e setores mais importantes da sociedade civil, na defesa
do país, do desenvolvimento e da democracia.
Destruiu-se,
sobretudo, a esperança e o nacionalismo, que, hoje, só a muito custo persistem,
no coração abnegado de patriotas que lutam, como quixotes aguerridos e impolutos, em pequenas
organizações, e, sobretudo, na internet,
para evitar que a Nação naufrague, definitivamente, em meio à desinformação, ao
escolho moral e à apatia suicida da atualidade; ao pesado bombardeio das forças
que cobiçam, do exterior, nossas riquezas; e que o Brasil abandone e relegue,
como quinto maior país do mundo em território e população, qualquer intenção
que já tenha tido de ocupar, de forma altiva e soberana, o lugar que lhe cabe
no concerto das Nações.
Quando se vêem
brasileiros encaminhando pedidos à Casa Branca de intervenção na vida nacional,
defendendo a total privatização,
desnacionalização e entrega de nossas maiores empresas, em troca, alegadamente,
de comprar, como no país do Tio Sam, por
um real um litro de gasolina - se for por esta razão, por que não se mudam para
a Venezuela, e vão abastecer seus carros em postos PDVSA, empresa 100% estatal,
onde ela está custando 15 centavos ?
- tratando meios de comunicação
estrangeiros e pseudo organizações de todo tipo sediadas na Europa e nos
Estados Unidos como incontestáveis oráculos aos que se deve reverência e
obediência absolutas, os inimigos do Brasil riem, e sua boca se enche de
saliva, antecipando a divisão e o esgarçamento da nossa sociedade, e nossa
entrega e capitulação aos seus ditames, com a definitiva colonização da nossa
Pátria, e, sobretudo, da alma brasileira.
Pouco mais há a fazer
- correndo o risco de sermos tachados mais uma vez de loucos, ridículos e
senis, extintos, e sem mais lugar neste mundo, do que os répteis que outrora
cruzavam as planícies de Pangea - do que pregar, como João Batista, no deserto,
mastigando os gafanhotos do ódio e do sarcasmo.
É preciso reunir os
democratas e os nacionalistas onde os houver, para evitar e se contrapor, de
forma inteligente, coordenada, ao fortalecimento descontrolado, já quase
inevitável, das forças antidemocráticas e anti-nacionais.
O governo e a oposição
- ao menos a mais equilibrada - precisam parar de cevar as aves de rapina, que,
dentro, e fora do país, anseiam e já antevêem nossa destruição, e o controle definitivo de nossa
população e de nossas riquezas.
Quando acabarem, pelo
natural esgotamento e imposição das circunstâncias, os equívocos, as
concessões, os enganos, as omissões, as pequenas felonias, as traições à
verdade, ao passado e ao futuro, de que se alimentarão
os urubus?