sexta-feira, 24 de outubro de 2014

CAMINHANDO E CANTANDO - O RETORNO


De volta à beira mar, de volta ao ritual de expiação dos meus maus hábitos. Então, vamos à caminhada na praia. No calçadão, bem entendido, porque não é sempre que a maré fornece uma areia dura e plana como convém a tão saudável exercício.
As descobertas são sempre interessantes. Começando pelas tribos várias, temos os empolgados que correm, dão pulinhos e se esticam sem parar. Depois aparecem os sociais; andam no mínimo em duplas, falam pra cacete e volta e meia surpreendem como, por exemplo, dois senhores de aspecto pra lá de respeitável que andavam na minha frente em ritmo mais lento, conversando e gesticulando com movimentos graves. Fui ultrapassando também lentamente pra pegar um pedacinho de tão profundo diálogo que eles pareciam estar travando e escuto: "Ela é muito é da goshtósa, Ôxe!".

Depois passam os skatistas. Tenho a impressão que eles treinam exaustivamente em locais secretos porque torço muito mas nunca vejo nenhum deles tomando um estabaco.

Ciclistas são um caso à parte. Um grupo é formado pelos que estão ali para se divertir - pedalam, olham a paisagem, conversam (como esse povo tem fôlego!) e seguem numa boa.
Outro grupo é composto pelos atletas que parecem egressos do Tour de France. As bikes (bicicleta é coisa de pobre) são sofisticadas, os caras se apresentam com roupinhas coloridas de gosto duvidoso coladas no corpo dos tornozelos até o pescoço, capacetes e óculos invocadíssimos, fones de ouvido, garrafinhas estrategicamente colocadas no quadro da bike e mochilas nas costas! Katzo! Pra que mochila? Devem ter lá suas razões que definitivamente não me interessam.

Outra tribo impressionante é a das gordinhas velozes. Elas passam correndo ou andando numa velocidade inacreditável, não bufam e aparentam uma felicidade que não condiz com seus formatos.

E aí aparecem as patinadoras. Ah! As patinadoras! São novas, bonitas, corpos perfeitos e rápidas. Muito rápidas. Mas não o suficiente para esconder que carregam uma haste com uma GoPro na ponta: elas se filmam patinando! É a selfie elevada à penúltima potência.
Porque a última potência será, certamente, quando elas engolirem uma câmera para filmar seus intestinos malhados e colocar no fêici.

Sigo em frente e troco de praia. Essa agora é lugar chique e, consequentemente, coalhado de turistas. Um cidadão trajando um uniforme da segunda guerra mundial caititua passeios no seu jipe ornamentado como sendo da Royal Air Force. E vende! Às sete horas da madrugada o cara consegue arrumar clientes! É um gênio do comércio.
Nessa praia os quiosques estão abertos e a turistada se empapuça de água de côco, açaí e outras estranhezas naturebas.
Três alegres senhoras, de sotaque inegavelmente paulista, passam conversando sobre... Compras, é claro.
É o suficiente. Dou meia volta e volto ao aconchego da praia mais "normal".

Um bom banho aprofunda a irritante sensação de bem estar após o dever cumprido, uma coca-cola seguida de um delicioso cigarrinho justifica a expiação e estou pronto para começar o dia.

Sento na frente do computador e ouço gritos abafados debaixo da mesa. São os meus meniscos (ou o que resta deles) reivindicando um diclofenaco urgente. Informo que serão atendidos depois do almoço e eles parecem se acalmar.

2 comentários:

  1. Invade-me uma perdoável inveja da sua nova atividade de fiscal da natureza marítima de João Pessoa, ao mesmo tempo que perdemos um distinto cidadão belohorizontino. Boa sorte.
    Vitor Lemos

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    1. Vitor,
      nesses tempos internéticos não nos perdemos mais!
      Vamos em frente...
      Abs.

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