domingo, 3 de agosto de 2014

FALSIDADE IDEOLÓGICA OU...

... Simples “aproveitamento comercial”?

Na primeira metade dos anos 70, surgiu uma leva de cantores e grupos brasileiros que adotaram pseudônimos estrangeiros e passaram a gravar músicas em inglês. Na época, a música internacional no idioma inglês tomava conta do mercado fonográfico, muito por conta das trilhas sonoras das novelas televisivas. O sucesso das novelas e das trilhas contribuiu para difundir este movimento "made in brazil".

Fábio Júnior, por exemplo, tinha dois alteregos: Mark Davis e Uncle Jack. Como Mark Davis, emplacou o sucesso "Don't Let Me Cry", como Uncle Jack, fez sucesso com a música "My Baby".

O falecido Jessé também usava dois pseudônimos: Christie Burgh e Tony Stevens (com este alterego emplacou em todo o Brasil as baladas "If You Could Remember" e "Flying High").

As trilhas sonoras das novelas impulsionaram este movimento de cantores brasileiros com pseudônimos estrangeiros a gravarem músicas em inglês. Boa parte destes artistas eram músicos e cantores competentes. A maioria vinha do circuito de bailes, como Os Pholhas, Sunday, Light Reflections (ex-Os Bruxos, da Jovem Guarda) e o Lee Jackson.



Para não serem desmascarados, os artistas evitavam fazer espetáculos e se apresentar na TV, o que os prejudicava bastante do ponto de vista financeiro. "Em 1973, eu estava estourado em todo o Brasil com a canção Dont't Say Goodbye. Podia ter ganho um bom dinheiro, se não fosse tão difícil encarar um show ao vivo", diz Chrystian, pernambucano radicado no Rio de Janeiro.

Michael Sullivan (nome verdadeiro, Ivanilton), estourou com dois grandes sucessos: "My Life" e "Sorrow". No final dos anos 80, fez muito sucesso como compositor e produtor em dupla com Paulo Massadas.

Um fato curioso ocorreu com o cantor Ivanilton de Souza Lima: em 1975 ele compôs uma linda balada e a intitulou de "My Life". Na hora de lançar o disco pelo selo Top Tape, teve de escolher um nome internacional. Abriu a lista telefônica de Nova York e escolheu Michael Sullivan. "My Life" entrou na trilha sonora da novela O Casarão, mas Michael continuou a faturar como Ivanílton – ele era vocalista da banda Renato e Seus Blue Caps.
"O chato é que eu cantava My Life com o grupo e tinha de ouvir das pessoas que a versão da novela era melhor".

Muitos desses artistas sonhavam em fazer sucesso em outros países. Apenas um deles conseguiu: o carioca Maurício Alberto Kaiserman, aliás, o “Mr. Morris Albert”. "Feelings", canção que compôs e gravou em 1973, está entre as músicas mais executadas em todos os tempos. Chegou a ganhar versões de Frank Sinatra e Julio Iglesias. Hoje, ele vive em Toronto, no Canadá, onde dirige um estúdio de gravação.

Em geral, os artistas aprendiam a pronunciar palavra por palavra das letras em sessões de gravação que duravam até quinze horas. "As letras eram compostas por quem não sabia nada de inglês e corrigidas por quem tinha alguma noção", diz Hélio Costa Manso, ou melhor, Steve MacLean, que fez sucesso numa carreira solo e como integrante do conjunto Sunday.

Os Pholhas tinham um método original de compor. Eles tiravam os versos de suas canções de um livro dos anos 30 chamado "Inglês Como Se Fala".
"A gente achava uma frase legal, copiava e depois tentava emendar com outras do mesmo livro", confessa Oswaldo Malagutti, ex-baixista do grupo.

6 comentários:

  1. Nossa, até o Steve MacLean?!

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  2. Tive uma namoradinha apaixonada por "Me and you" do Steve Mclean. Marcou! Creio que o maior ícone desta época foi "Summer holiday" de Terry Winter, que morreu cedo. Morris Albert foi condenado pela justiça americana a pagar uma indenização de um milhão de dólares por plágio do seu carro chefe "Feelings", mas outros medalhões de fora também foram apenados, como Rod Stewart que inspirou-se em "Taj Mahal" do Jorge Ben, assim como George Harrison com a sua "My Sweet Lord". Mas, o caso de plágio que mais surpreende, sem condenação possível, e que poucos sabem é o de John Lennon, com a sua "Happy Xmas". Era música de domínio popular que alcançou sucesso anterior com versão dos Greenboys, em 1958.
    Vitor Lemos

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    1. E além dessa tem também a "You can't catch me" que é do Chuck Berry e o Lennon fez acordo, procede?

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  3. Procede. Não precisava disto, não é? O homem tinha um talento enorme.
    Vitor Lemos

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