sexta-feira, 29 de agosto de 2014

10 X 0 PARA A IMPUNIDADE


Aos seis anos de idade entrei no Maracanã pela primeira vez para ver o Flamengo perder para o Botafogo.
Quer dizer, para o Garrincha.
Em mais de vinte anos seguintes fui frequentador assíduo do “maior do mundo”.


O xingatório sempre fez parte da arquibancada.
Desde o juiz, passando pelos adversários e o próprio time.
Juiz era, preferencialmente “fi-lha-da-pu-taaa” ou, no caso do Armando Marques, “biii-chaaa” e os adversários eram tudo isso e muito mais: “Re-na-tooo, viii-aaa-dooo” e por aí afora.
(Em tempos mais modernos apareceu o ótimo “Ei, fulano, vai-to-má-no-cuuu” além de corinhos estilo “Ei fulano, tua mulher deu pra beltrano.)

Mas, nunca vi nenhum torcedor xingando um crioulo de macaco ou afins. Até porque a maioria no campo sempre foi preta, na arquibancada era quase meio a meio e na geral a proporção de pretos e brancos era 75X25. O que não significa ausência de racismo. Mas, era na encolha.

Elitizaram os estádios, globalizou-se a comunicação e começaram a pipocar casos de racismo escancarado nos campos da Europa.
Claro, colonizados que somos, aderimos logo.
E aí, tome de mídia horrorizada, tome de entrevistas, tome de chororô, tome de “medidas rigorosas” que nunca são cumpridas.
A garota que ontem foi flagrada, em close, na arquibancada do Grêmio gritando “ma-ca-cooo”, dizem que foi despedida do emprego; o xingado Aranha fez um B.O. e vida que segue.

Acho escrota a atitude da torcida (ou dos poucos torcedores que não representam a valorosa torcida gremista e blgrghfghsss...) mas, também desconfio desse horror escandalizado e midiático dos analistas de plantão.

É crime? Claro que é, tá na lei.
(E como tem crime na lei! E como tem lei pra abafar tantos crimes!)
Mas, acho que, muito mais do que um crime, essa atitude é reflexo da sociedade brasileira de hoje. Que, acobertada pelo anonimato - seja da arquibancada seja das redes sociais, se entrega a esses desfrutes.
E isso não é apresentado nem comentado e muito menos solucionado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário