sábado, 23 de agosto de 2014

PROGRAMAÇÃO BIZARRA

Lendo hoje mais um excelente artigo do Sakamoto - que quem quiser pode ver aqui:

http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/08/23/quem-nao-sabe-votar-nao-deveria-ter-o-direito-de-eleger-alguem/

- me espantou o seguinte trecho:
“Todos nós que fomos criados em uma sociedade racista, machista, homofóbica e elitista temos que percorrer um longo caminho para abandonar a programação bizarra a que fomos submetidos.”

Sempre achei que isso era “privilégio” da minha geração “classe 52”, mas o cara é “classe 77”: tem 37 anos!
Ou seja, pelo visto as coisas demoram muito para mudar ou, simplesmente, não vou viver para ver a mudança!

Como também sempre achei que essa programação (cuja muitos de nós não abandonamos jamais ou temos muita dificuldade em), é responsável pelas abominações que vemos hoje potencializadas pela “mudernidade” dos meios de comunicação.

Nunca vou esquecer a seguinte historinha: festival da MPB, 1967, família reunida na sala assistindo pela televisão.
Gilberto Gil defendendo “Domingo no Parque”, a câmera enquadra os bastidores e a Nana Caymmi (que na época estava com o cidadão), um segundo antes dele entrar no palco, sapeca-lhe um beijo na boca. (Que não adiantou muito; ele acabou perdendo para “Ponteio” do Edu Lobo e Capinam.)
Mas, o incrível foi o pulo que meu avô deu da cadeira:
-“Ela beijou o crioulo!!!”
Meu pai (que hoje entendo ter vivido antes de seu tempo), fez que não ouviu enquanto minha mãe, avó, tio e primos concordaram em tom compungido: -“Que horror!”
Fiquei na minha e não ousei olhar para meu pai pela certeza que ele iria fazer alguma gracinha fora de hora.

Uns vinte anos depois, quando eu tinha mais ou menos a idade que o Sakamoto tem hoje, numa agradável conversa de boteco, um amigo me fez a terrível confidência: -“Quer saber? Eu hoje não enfio mais o meu pau em qualquer lugar...”
Horror 1: Fomos criados para comer até papel de bala rasgado!
Horror 2: Concordei! Eu, que até então não ousava confessar, também já tinha parado com isso; a mulher que estivesse comigo me bastava.
Fui pra casa feliz carregando, no meu otimismo incurável, a certeza de que a tal “programação bizarra” estava sendo rompida!

Entretanto, pelo que se vê hoje, mais uma vez, me enganei redondamente.

4 comentários:

  1. O artigo do link é bom mesmo. Valeu!

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  2. Tiago,
    Como já lhe falei, existem dois Fucas: o AI e o DI (e vc sabe o que significa).
    DI, seu blog ficou bem mais saboroso, e essa estória do "beijou o crioulo" me fez viajar: vi as fisionomias do Dr Edson e de seu pai (é vero, viveu antes de seu tempo) um cara incrível, próximo da gente, uns pirralhos na época.
    Mas discordo de vc qto a esta programação estar enrustida em nós. Tá não, Zé Arti.
    E quero muito sentar numa mesa de boteco com vc, com tempo de sobra, para uma viagem de volta para o futuro.
    Abração, Fuca

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    1. Fucão, depois de duas horas de esforços sobre-humanos de memória e consulta infrutífera a fontes confiáveis, finalmente matei a charada do AI e DI.
      O que também é um ótimo motivo pro boteco.
      Abração.

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