Burro não é quem escreve “errado”. Burro é quem discrimina
Leonardo Sakamoto
05/08/2014 17:48
Algumas das pessoas mais sábias que
conheci são iletradas. E alguns dos maiores idiotas têm doutorado. Às vezes,
mais de um.
Significa que os iletrados são
melhores que os doutores? Não.
Então, o contrário? Também não.
O nível de escolaridade e a forma através
da qual uma pessoa se expressa muitas vezes é irrelevante frente ao conteúdo
que pode agregar a uma discussão.
Se ela conseguiu fazer com que os
outros a entendessem, ótimo, fez-se a comunicação.
Muita gente não entendeu isso ainda e
desvaloriza a opinião do outro porque este separou sujeito e predicado com
vírgula. Mesquinhos, sabe? Isso quando não oprimem quem não sentou em bancos de
escola.
Mas o que esperar de uma sociedade em
que pipocam pessoas que desconsideram o interlocutor por não saber acertar uma
concordância verbal ou conjugar um verbo?
- Meu Deus! Você não sabe flexionar o
verbo “funhunhar” no futuro do subjuntivo? É um desqualificado ignorante que
merece meu desprezo…
E na qual o domínio da norma culta
(que, convenhamos, é um porre) é alçado à condição de passaporte para a
participação nas discussões sobre o destino do mundo.
A língua é construída pela boca das
pessoas no dia-a-dia e não por meia dúzia de iluminados. É dinâmica, em
constante mutação e, para sobreviver, não precisa de formalismos – que são
exatamente isso, construções, muitas vezes definidas pelo grupo hegemônico.
Como dizer que uma pessoa que nasceu
e cresceu falando português e sempre se fez entender está errada ?
Dizer que um pescador, um vendedor
ambulante, a vendedora do tabuleiro de doces, uma quilombola ou ribeirinha ou
um operário da construção civil que não usem a norma culta “desconhecem a
própria língua” não é um ação pedagógica e sim um ato político.
Excludente.
Que usa uma justificativa
supostamente técnica para manter do lado de fora dos debates sobre o futuro a
maior parte da sociedade brasileira.
A quem interessa a manutenção desse
comportamento? A quem está no poder e, muitas vezes, usa a língua como
instrumento de coerção.
Que faz o restante – que não foi chamado
para Grande Rega-Bofe – acreditar que política é coisa de gente culta e
estudada. E, portanto, melhor eles ficarem de fora e só entrarem para para
encher as taças de vinho ou trazer os canapés.
No sufrágio que se aproxima, não
seja niilista: defenestre – de forma paradigmática – quem
maquiavelicamente oblitera a democracia por diletantismo ou dolo. Traduzindo:
dê uma banana a quem não quer que você entenda nada.
Endosso plenamente o comentário acima, embora, em alguns casos que envolvam profissionais o erro seja menos perdoável, como o anotado na manchete de um jornal: "Grávida que sobreviveu ao acidente está viva". Outra dizia que "Carro capota com 4 pessoas e uma mulher". Aí é duro! Tratando-se de um veículo de comunicação, o erro não se restringe ao autor da matéria, estendendo-se ao editor chefe do jornal.
ResponderExcluirVitor Lemos
Os erros profissionais, ainda que - às vezes - acidentais, são imperdoáveis.
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