Que me seja perdoado, mas o
jargão forense se impõe nas circunstâncias: “concessa máxima vênia”, o Ministro
Joaquim Barbosa não disse tudo nas suas procedentes críticas ao Congresso, em
especial à Câmara dos Deputados.
Não que ele esteja errado no
que disse, mas por não ter atingido o que me parece ser o ponto de origem de
tudo que assistimos e padecemos hoje em nome dessa “democracia”.
Os deputados, em tese os
representantes do povo, seriam frutos da vontade política expressa nas urnas
pelos brasileiros.
Os eleitores seriam os
titulares dos direitos políticos.
Os deputados seriam apenas os
seus representantes, os representantes dos eleitores.
Mas eles, esses deputados
todos, se elegem por caminhos que escapam à consciência dos eleitores. O
processo eleitoral é escondido, disfarçado.
Todos se omitem na hora de
explicitar, de ensinar, como eles são eleitos e que caminhos percorre o voto
que lhes damos.
Ninguém diz o que deveria – e
que falta – ser dito. Nem colocam as perguntas que precisam ser feitas.
Por exemplo: quantos deputados
foram eleitos com seus próprios votos? Na Câmara de Deputados, serão mais de
10% do total? Não acredito...
E mais: será que os brasileiros
têm consciência de que nenhum de nós, nem um só eleitor, sabe quem foi eleito
com o voto que deu?
Será que todos nós temos
consciência de que só nos é permitido saber em quem votamos, mas não temos o
direito de saber quem elegemos?
Deputados “foram eleitos”, ou
prepotentemente, “se elegeram”. Quem você elegeu? Isso você não sabe.
Nós votamos em quem queremos.
Total liberdade, de escolha e de exercício da nossa “vontade política”,
democraticamente expressada.
Damos o nosso voto ao candidato
“1” do partido “A”, por força de simpatia pessoal, por razões ideológicas, por
que um amigo indicou, por que ele é da minha igreja, porque ele botou água na
minha rua.
Esse voto que demos, que
expressou nossa vontade, nossa afinidade, nossa conveniência, nossa consciência
ou convicções pode contribuir para eleger alguém em quem jamais votaríamos, num
partido que jamais apoiaríamos, que nunca nos prometeu nada e - sobretudo – que
não nos deve nada.
Nosso voto é desapropriado
assim que apertamos o botão.
Com essas tais “alianças” e
outras manobras de cúpula com fins eleitoreiros, o voto que damos a um
candidato a deputado é um tiro no escuro. Pode acertar no que queríamos e pode
acertar no que detestaríamos contribuir para que acontecesse.
Como já disse o Deputado Miro
Teixeira, pior que esse Congresso só um Congresso fechado.
A lei da “ficha limpa” chegou
ao Congresso por iniciativa popular, e lá foi aprovada. Mas não há macaco que
serre o galho no qual se pendura: por lei nada disso mudará.
Talvez uma maciça anulação de
votos para deputado possa contribuir para deslegitimar de vez essa
representação fraudada. Mas acho que isso o Ministro não podia propor...
É muito triste perceber que não haveria outra solução além desta proposta por Flexa Ribeiro. Considerando que, certamente, os deputados jamais legislariam contra os seus interesses, resta esta idéia plantada. Mas, quem tomará frente, quem mobilizará o acomodadíssimo povo brasileiro na luta contra os Senhores Feudais?
ResponderExcluirVitor Lemos
Você disse tudo: o acomodadíssimo povo não está nem aí.
Excluir(Menos no fêicibúqui, é claro...)
Eu proponho que nos inspiremos no livro "Ensaio sobre a lucidez", do Saramago, e votemos, todos, todos, todos, em branco, nas próximas eleições.
ResponderExcluirO melhor seria anular.
ExcluirMas, com essa misteriosa forma de eleição, acabamos todos elegendo os Tiriricas da vida.