quarta-feira, 3 de abril de 2013

TEORIAS

O esporte favorito da humanidade é a teoria. Para qualquer fato criamos teorias estapafúrdias que expliquem nossas ânsias e/ou frustrações em relação a qualquer coisa.

Aí, Bin Laden, missões espaciais, carne do McDonald’s, tudo vira uma grande festa para as criativas mentes que hoje pululam nos fêicibúquis e e-mails da vida.

Fico pensando em figuras como Chico, Caetano, Gil e vários outros que devem ter se divertido muito durante o período da censura. Na medida do possível, é claro.
Como exemplo, segue essa elucidativa historinha contada pelo Gilberto Gil sobre a música Cálice: ele, Gil, teve a ideia do refrão numa sexta-feira santa (Uau! Que inspirado!).
Ligou pro Chico e combinaram de encontrar no apartamento da Lagoa onde morava o Chico. Aí começa a diversão.

“Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?”
(A bebida amarga era Fernet - que o Chico gostava.)

“Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa”
(A lagoa era a Rodrigo de Freitas - vista do apartamento.)

Ocorre que nessa época, nos botecos, o papo era recorrente: descobrir mensagens ocultas inseridas em músicas. Desde “Atirei o pau no gato-tô” até “Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval”, descobriam-se coisas incríveis de matar de inveja os teóricos atuais.

Claro, a “bebida amarga” e o “monstro da lagoa” foram temas responsáveis por muito chopp e batatinhas na Fiorentina até o sol nascer.

O atento leitor deve estar concluindo, com certa razão, que éramos umas bestas. Mas, diga lá: E hoje? O que somos?

6 comentários:

  1. E vc nem chegou ao refrão, onde ele pede que afastem o "cale-se"! censura, coisa e tal...

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    1. Pois é.
      Ainda segundo o Gil, o trocadilho (perdão - poeta não faz trocadilho faz duplo sentido) foi do Chico.
      E bastou para a censura desligar os microfones durante a primeira apresentação da música...

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  2. A mais célebre que passou batido pela censura foi "você não gosta de mim, mas a sua filha gosta!"
    Vitor Lemos

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  3. Éramos umas bestas, mas pensávamos, conversávamos, nos emocionávamos. Hoje, as pessoas somente batucam o celular...

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