sábado, 8 de outubro de 2011

BASEADO EM FATOS REAIS

(Recomenda-se enfaticamente que o leitor - se tiver mais de 50 anos - pite unzinho ou tome umazinha ou os dois, aguarde uns 5 minutos e, só então, desfrute a leitura.
Se você tiver menos de 50 anos, o risco é seu.)

Festa de velhos. Doidões, ligadões, atualizadões mas, velhos. Todos se frequentam há mais de 40 anos. No mínimo. Isso significa que por trás de toda e qualquer frase estão implícitas imensuráveis doses de conhecimento mútuo, provocações, aceitações, implicâncias além de piadas e citações quase incompreensíveis pra quem chegou agora.

Essa é a minha situação. Já fui a mais de uma dúzia de festas dessa turma, tudo normal, bom papo, etc, mas... Não é a minha turma que eu conheço há mais de 40 anos. Resultado: a gente sempre vai ficar assim mais olhando, concorda?
Segue um extrato retirado a fórceps da densa névoa que tomou conta da minha mente.

Cenário: agradabilíssima casa afastada da cidade, varanda, sala/cozinha (isso tem um nome entre os decoradores cujo é claro que não me lembro), fundos, jardim, etc. Quinze ou vinte ou dezessete ou quatorze ou por aí, pessoas e, entre elas, 01 (hum) cidadão que é extremamente alérgico a cigarro.
Naquela fase em que todos já estão contemplando a vida do alto dos minaretes de Bagdá, acontece, na varanda, a seguinte conversa.

- Ele tem um nariz naziiista!
- É...
- E ele vigiiia o tempo todo!
- É... Vamos dar a volta, entrar pelas costas dele e fumar até ele chiar?
- Não adianta. Ele não vai deixar nem a gente entrar. Mas, vamos tentar. Pelo menos a gente chateia ele um pouquinho.

(O vento estava contra, ele nem notou, melou a brincadeira e segue a conversa. Agora nos fundos.)

- É incrível. Ele sempre foi o mais chatinho, o mais inteligente e o mais dominante. Todo mundo estrila, mas sempre acaba fazendo tudo que ele quer!
- Conheço a situação. Toda turma tem sempre aquele cara que todo mundo ama odiar e odeia amar, né?

(Explosão de riso incontido que dura uns dois minutos.)

- Cara! Que demais!! É isso mesmo!!! Sabe que eu sempre te saquei nessas nossas reuniões? Você fica quietinho no seu canto, mas quando abre a boca sempre tem uma coisa diferente!
- É porque eu não sou dessa sua turma. Então eu fico mais encolhido e dá mais tempo de pensar. Quer dizer, como não é a minha turma eu não tenho obrigatoriedade de falar merda o tempo todo. O que eu acho ótimo. Quando estou com a minha turma eu embarco nessa e não sai quase nada que preste. Puta besteira essa da gente sempre ter que falar merda nas reuniões com os amigos, né não?

(Outra explosão. Outros dois minutos. Um pouco de constrangimento: Será que eu falei merda?)

- É isso meeesmo! Você devia escrever isso, cara!! Você sacou tudo direitinho!!!
- Pois é (alívio). Mas é foda. Outro dia, numa noite assim, eu tive uma idéia que achei genial e resolvi anotar tudo. No dia seguinte, depois que eu consegui decodificar os garranchos, quase morri de vergonha. Achei de uma babaquice inenarrável! Essas bobagens que a gente fala só valem na hora...
(Última explosão, fomos todos jantar e, como mineiros autênticos, tomar o rumo de casa exatos 45 segundos depois de comer.
Estranhos hábitos das Alterosas...)

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