terça-feira, 27 de julho de 2010

FILHA DO MEIO

“Quero a filha do meio, pois ela é mais doce
Que a do canto, a da ponta ou as filhas do bairro,
Sei que sua colméia tem mel bem curtido
E serei adoçado por suas virtudes...
Ela surge do meio trazendo a quentura
De quem sempre guardou no silêncio sagaz,
Faz segredo que faz a melhor guloseima
Que uma gula de afeto consegue ansiar...
É da filha do meio que suplico a mão,
Porque sei que vem cheia de ardentes surpresas,
Transbordando carências, paixões defumadas...
Deixo amadas por outros as outras que o mundo
Encontrou mais expostas aos olhos comuns;
Meu olhar viu mais fundo e só quero a do meio...”
(Demétrio Pereira Sena)

Frasista oportuna, mas distraída, só se dava conta do brilho de suas tiradas quando alguém, no meio da conversa, acusava o golpe:
- Genial, essa!
- Ó, minino, não é que é mesmo?

Mel bem curtido, fazendo segredos, transbordando carências e paixões, exercia sua proverbial autossuficiência cuja nunca conseguiu esconder sua condição de filha do meio: “Quem não é não sabe; quem é prefere não comentar.”
Essa posição permitia, também, um confortável afastamento das chatices sociais e familiares. Todos se acostumaram à sua natural distância e às suas muitas manias que eram respeitadas como dogmas. Inteligente, fazia do silêncio o grito da sua rebeldia.

Foi então que surgiu o imprevisto, no mínimo, para justificar a historinha.
O cidadão já havia passado pelo seu passado e, sem mais nem menos, “voltou como se não tivesse ido” (mais uma de suas ótimas tiradas).
Solteira convicta, bem sucedida, não tinha a menor intenção de mudar nada do seu cuidadoso esquema de vida cultivado durante anos de determinação e objetivos alcançados.
Mas, como diria um famoso jogador de futebol, a coisa foi fondo, foi fondo e foi! Antes que se dessem conta, já ajustavam as velas e começavam a aproveitar os bons ventos navegando, inesperadamente calmos, pelas águas da convivência. Convivência essa, cuidadosamente controlada uma vez que “navegar é preciso, viver não é preciso”.

E hoje, situação singular, toma sustinho quando se pilha pensando no plural...

2 comentários:

  1. Ô haja, ele queria a do meio e o Charley Brown a menina ruiva e no fim "Lili casou com J. Pinto Fernandes"
    E como vc diz "vida que segue"... Adoro essa expressão.
    Beijos,

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  2. Pai, você é o Haja... a personificação do blog... achei chique! :p

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